Queridos amigos,
A minha estadia em Santo Domingo já está a terminar… Daqui a 15 dias regresso ao Porto cheia de experiências inesquecíveis, que tenho imensa vontade de partilhar com todos!:)
Depois do choque surpresa da tempestade – em que tudo era urgente e tinha de ser organizado de raiz – começaram a aparecer os frutos do trabalho intenso dos primeiros dias.
Formaram-se redes de solidariedade dentro das comunidades, determinou-se quem eram os afectados (maior parte das ONGs só tiveram em conta os refúgios, mas muita gente afectada e sem casa tinha sido hospedada pelos vizinhos) e pouco a pouco foi-se regularizando a situação.
Aprendi muito nesses dias! Entre outras coisas, descobri como é difícil repartir, quando a ajuda (por mais ginástica que se faça) não chega para todos. Quando a pobreza chega ao extremo de faltarem as condições mais básicas, como se pode decidir quem é o mais pobre e o que mais necessita de ajuda?...
Quero agradecer muitíssimo a todos aqueles que enviaram ajudas!!! Não podem imaginar como fiquei sensibilizada, feliz e orgulhosa de conhecer gente tão boa, que decidiu espontaneamente colaborar neste projecto que já faz parte de mim (porque me dou todos os dias mais um bocadinho), mas que para vocês é um pouco distante! Muito obrigada pelo voto de confiança! Muito obrigada, porque tornaram possível ajudar mais pessoas. Pessoas a quem eu quero muito.
Com o dinheiro foi possível fazer muitas coisas:
- Comprar material para preencher os requisitos básicos de saúde exigidos, para que o consultório do bairro se torne oficial. Isso significa que agora o governo é obrigado a enviar uma vez por semana um médico que dê consulta grátis as pessoas, o que é fantástico!
- Comprar mosquiteiros, medicamentos, cloro e outros materiais básicos de limpeza, acompanhados de reuniões de formação para impedir a propagação de epidemias devido à tempestade (o dengue e a leptospirosis, que tem provocado muitas mortes e também gripes).
- Ajudar no financiamento e na compra de materiais de construção, para casa novas construídas em sítios seguros (fora do leito do rio). Este projecto ainda está em elaboração!
Mais uma vez: OBRIGADA! Fizeram toda a diferença!
Já escrevi tanto que não quero aborrecer-vos muito mais… Mas tenho de contar duas histórias que acho fantásticas! Tenho aproveitado os tempos livres para visitar outras cidades da Republica Dominicana e nessas visitas tive a oportunidade de conhecer 4 mulheres fora de série, que são a prova viva (e tão discreta e simples) de que uma Pessoa pode mudar o mundo!
Duas delas mudaram-se há 20 anos para um campo isolado e no correr desses anos conseguiram mobilizar a comunidade (tudo camponeses muito pobres) para construirem uma escola (cada tijolo foi colocado pelos pais dos futuros alunos). Essa escola é agora considerada uma das melhores da América Latina! Neste preciso momento estão a mudar a vida a 300 alunos que tem a possibilidade de usufruir de uma educação excelente (que diferença em relação a outras escolas dominicanas que eu visitei!) e ter pelo menos uma boa refeição por dia. As regras são exigentes, os professores motivados e os pais têm a obrigação de participar em reuniões de formação e educação! Isto tudo é fruto do trabalho de apenas duas mulheres!
As outras duas também se mudaram para um campo isolado, mas tem um projecto diferente. Ajudaram os camponeses a organizarem-se e a tornarem-se mais produtivos. Um pequeno exemplo foi com a plantação de cebolas. Não percebo nada de agricultura, mas o sistema que estes agricultores usavam para as cebolas, requeria que durante um mês por ano se trabalhasse a transplanta-las para outro campo. Este trabalho estava a cargo de crianças e adolescentes que perdiam 1 mês de aulas… Bastou ajudá-los a criar um método de plantação que não requeria a transplantação para poupar muito dinheiro e, muito melhor, evitar que as crianças trabalhem!
Mas como este exemplo há muitos! Ajudaram as pessoas a serem financiadas pelos bancos para construírem casa com condições, formaram um centro de formação que tem cursos de enfermagem, cozinha, costura, cabeleireiro, etc.… Tudo isto 2 mulheres sozinhas! Imaginem como foi conseguirem ser aceites pela comunidade machista de agricultores que não estavam habituados a aceitar opiniões de mulheres…).
Foi assim que juntei provas irrefutáveis que uma pessoa pode fazer toda a diferença, que se pode mudar o mundo de forma simples, que não é uma impossibilidade que nos esmaga e que está ao alcance das nossas mãos, só é preciso querer esticar o braço!
Também juntei provas que as pessoas podem ser muito boas e solidárias, que se deve promover o sentido de comunidade e que os “pobres” nesse aspecto são mais ricos do que aqueles a quem não lhes falta nada. A razão é que ao partilhar um pão que nos faz falta (muito mais do que passar anos a partilhar festas) se criam laços fortes e duradouros com o outro. E isso é que assegura a felicidade!:)
Um beijo enorme para todos!!!
Inês
A minha estadia em Santo Domingo já está a terminar… Daqui a 15 dias regresso ao Porto cheia de experiências inesquecíveis, que tenho imensa vontade de partilhar com todos!:)
Depois do choque surpresa da tempestade – em que tudo era urgente e tinha de ser organizado de raiz – começaram a aparecer os frutos do trabalho intenso dos primeiros dias.
Formaram-se redes de solidariedade dentro das comunidades, determinou-se quem eram os afectados (maior parte das ONGs só tiveram em conta os refúgios, mas muita gente afectada e sem casa tinha sido hospedada pelos vizinhos) e pouco a pouco foi-se regularizando a situação.
Aprendi muito nesses dias! Entre outras coisas, descobri como é difícil repartir, quando a ajuda (por mais ginástica que se faça) não chega para todos. Quando a pobreza chega ao extremo de faltarem as condições mais básicas, como se pode decidir quem é o mais pobre e o que mais necessita de ajuda?...
Quero agradecer muitíssimo a todos aqueles que enviaram ajudas!!! Não podem imaginar como fiquei sensibilizada, feliz e orgulhosa de conhecer gente tão boa, que decidiu espontaneamente colaborar neste projecto que já faz parte de mim (porque me dou todos os dias mais um bocadinho), mas que para vocês é um pouco distante! Muito obrigada pelo voto de confiança! Muito obrigada, porque tornaram possível ajudar mais pessoas. Pessoas a quem eu quero muito.
Com o dinheiro foi possível fazer muitas coisas:
- Comprar material para preencher os requisitos básicos de saúde exigidos, para que o consultório do bairro se torne oficial. Isso significa que agora o governo é obrigado a enviar uma vez por semana um médico que dê consulta grátis as pessoas, o que é fantástico!
- Comprar mosquiteiros, medicamentos, cloro e outros materiais básicos de limpeza, acompanhados de reuniões de formação para impedir a propagação de epidemias devido à tempestade (o dengue e a leptospirosis, que tem provocado muitas mortes e também gripes).
- Ajudar no financiamento e na compra de materiais de construção, para casa novas construídas em sítios seguros (fora do leito do rio). Este projecto ainda está em elaboração!
Mais uma vez: OBRIGADA! Fizeram toda a diferença!
Já escrevi tanto que não quero aborrecer-vos muito mais… Mas tenho de contar duas histórias que acho fantásticas! Tenho aproveitado os tempos livres para visitar outras cidades da Republica Dominicana e nessas visitas tive a oportunidade de conhecer 4 mulheres fora de série, que são a prova viva (e tão discreta e simples) de que uma Pessoa pode mudar o mundo!
Duas delas mudaram-se há 20 anos para um campo isolado e no correr desses anos conseguiram mobilizar a comunidade (tudo camponeses muito pobres) para construirem uma escola (cada tijolo foi colocado pelos pais dos futuros alunos). Essa escola é agora considerada uma das melhores da América Latina! Neste preciso momento estão a mudar a vida a 300 alunos que tem a possibilidade de usufruir de uma educação excelente (que diferença em relação a outras escolas dominicanas que eu visitei!) e ter pelo menos uma boa refeição por dia. As regras são exigentes, os professores motivados e os pais têm a obrigação de participar em reuniões de formação e educação! Isto tudo é fruto do trabalho de apenas duas mulheres!
As outras duas também se mudaram para um campo isolado, mas tem um projecto diferente. Ajudaram os camponeses a organizarem-se e a tornarem-se mais produtivos. Um pequeno exemplo foi com a plantação de cebolas. Não percebo nada de agricultura, mas o sistema que estes agricultores usavam para as cebolas, requeria que durante um mês por ano se trabalhasse a transplanta-las para outro campo. Este trabalho estava a cargo de crianças e adolescentes que perdiam 1 mês de aulas… Bastou ajudá-los a criar um método de plantação que não requeria a transplantação para poupar muito dinheiro e, muito melhor, evitar que as crianças trabalhem!
Mas como este exemplo há muitos! Ajudaram as pessoas a serem financiadas pelos bancos para construírem casa com condições, formaram um centro de formação que tem cursos de enfermagem, cozinha, costura, cabeleireiro, etc.… Tudo isto 2 mulheres sozinhas! Imaginem como foi conseguirem ser aceites pela comunidade machista de agricultores que não estavam habituados a aceitar opiniões de mulheres…).
Foi assim que juntei provas irrefutáveis que uma pessoa pode fazer toda a diferença, que se pode mudar o mundo de forma simples, que não é uma impossibilidade que nos esmaga e que está ao alcance das nossas mãos, só é preciso querer esticar o braço!
Também juntei provas que as pessoas podem ser muito boas e solidárias, que se deve promover o sentido de comunidade e que os “pobres” nesse aspecto são mais ricos do que aqueles a quem não lhes falta nada. A razão é que ao partilhar um pão que nos faz falta (muito mais do que passar anos a partilhar festas) se criam laços fortes e duradouros com o outro. E isso é que assegura a felicidade!:)
Um beijo enorme para todos!!!
Inês
Bom dia,
ResponderEliminarNão posso deixar passar esta carta sem dizer que me sinto muito "pequenina" em relação à Inês.
Gostaria de agradecer à Inês pelo trabalho e ajuda que prestou a "alguém" na República Dominicana que por acaso conheço apenas como turista e como tal, não se tem a noção dos problemas do povo.
Gostei muito de ler a carta da Inês e sempre que precisar da minha (nossa) ajuda, pode contar connosco. É a ajuda mais fácil: dá-se sem se ver a tristeza e a necessidade de quem precisa.
OBRIGADA INÊS!
Um abraço da
Graça e Manel (pais da Mariana Estevens)
Muito obrigado a todos os que contribuíram com a sua oração e apoio monetário à causa dos mais desfavorecidos em Santo Domingo, por intermédio da Inês.
ResponderEliminar«Fizeram toda a diferença», como diz a Inês na carta que a todos envia e que aqui se reproduz.
E um «muito obrigado» especial para a Inês que fez com que o muito pouco que demos "fizesse a diferença"!
Ainda as pessoas na República Dominicana se estão a tempestade muito rara em Dezembro, chamada Olga lhes caiu em cima estes dias.
ResponderEliminarÉ mesmo desesperante ! Novamente destruição e inundações que tudo submergem !
E podemos perguntar:"Tu que és Pai, ó Deus , porquê estas desgraças da natureza que vão fazer sofrer os mais pobres?"
Já os salmistas interpelavam Deus!
"Aumenta a nossa fé, Senhor, e sobretudo a nossa esperança! Que a Tua mão levante outras mãos a serem solidaárias!
frei Eugénio
Reproduzo uma frase da Inês:
ResponderEliminar«A razão é que ao partilhar um pão que nos faz falta (muito mais do que passar anos a partilhar festas) se criam laços fortes e duradouros com o outro. E isso é que assegura a felicidade!:)