Se fosse vivo, D. Hélder Câmara, um dos profetas maiores do século XX, teria feito 100 anos no passado dia 7 de Fevereiro. Foi bispo auxiliar do Rio de Janeiro e arcebispo de Recife e Olinda. Morreu no dia 27 de Agosto de 1999.
Conhecido no Brasil e em todo o mundo pela sua militância a favor dos direitos humanos, foi perseguido por causa da denúncia destemida da tortura e da miséria, chegando a ser acusado de comunista. Costumava dizer: "Se dou comida a um pobre, chamam-me santo; mas, se pergunto porque é pobre, chamam-me comunista."
Queria uma Igreja pobre, ao serviço dos pobres. Ele próprio deu o exemplo: no Recife, viveu 21 anos numa casa pequena e modesta, aberta a todos.
Ele inventou uma noção que continua a ser fecunda e criadora de Esperança : AS MINORIAS ABRAÂMICAS. Refere-se a elas na obra «O deserto é fertil».
«As "minorias abraâmicas"
Em todas as partes existem já minorias capazes de compreenderem a Acção, a Justiça e a Paz. A estas minorias nós chamamos as "minorias abraâmicas", porque, como Abraão, esperam contra toda esperança.
Julgas que estás só? Olha para os que estão à tua volta. Fala com os teus amigos. Dialoga com os da sua família, com os teus companheiros de estudo, de trabalho, com os teus amigos dos momentos livres. Terás a surpresa de descobrir que a tua "minoria abraâmica" já existe. E tu não o sabias …
A tua "minoria abraâmica" necessita talvez de um espírito lúcido, de alguém com experiência para iluminar os primeiros passos, para assegurar o começo dos estudos, da reflexão, da acção. Esse alguém já existe, só falta encontrá-lo.
Quando as minorias abraâmicas do Terceiro Mundo se sintam autenticamente solidárias e, sobretudo, quando forem acolhidas fraternalmente pelos países desenvolvidos, a humanidade terá dado um importante passo no caminho da paz.
Uma descoberta maravilhosa O essencial a transmitir é descoberta maravilhosa: em todos os recantos da terra, dentro de todas as raças, todas as línguas, todas as religiões, todas as ideologias, há criaturas que nasceram para dedicar-se, para gastar-se ao serviço do próximo, dispostos a não medir sacrifícios para ajudar de verdade e enfim a construir um mundo mais justo e mais humano.»
Frei Eugénio