Na sequência da mensagem que ontem inseri no Regador, venho dar conta de um novo artigo publicado no mesmo
jornal “Público” e da autoria do mesmo jornalista, António Marujo, acerca da identidade
religiosa dos portugueses. Este novo artigo dá conta dos resultados de um estudo
realizado pela Universidade Católica sobre Identidades
Religiosas em Portugal: Representações, Valores e Práticas que será
apresentado aos Bispos reunidos em assembleia plenária da Conferência Episcopal
Portuguesa.
O estudo conclui que o
número de católicos diminuiu em Portugal, entre 1999 e 2011, passando de 86,9%
para 79,5%. No mesmo período de tempo aumentou o número de protestantes
(incluindo evangélicos), de testemunhas de jeová e não crentes. Entre estes
últimos, a população que mais cresceu foi a dos protestantes e evangélicos que
passou de 0,3% para 2,8%. Entretanto, o número dos portugueses com mais de 15
anos que dizem que vão à missa regularmente, uma ou mais vezes por semana, representa
45,7% da população que se diz católica
As principais razões apresentadas pelos não
praticantes foram, falta de tempo (35,4%), por entenderem que podem ter fé sem
prática religiosa (33,3%) e por desleixo ou descuido (23%). De notar, ainda, que12,5%
destes não praticantes assume também como razão o “mau exemplo” dos praticantes
e 2,5% não praticam por entenderem que estão em situação irregular perante as
normas da sua igreja ou comunidade religiosa.
Um outro aspecto que
ressalta dos resultados publicados no artigo do Público, no que respeita à
moral cívica, prende-se com o facto de apenas 9,6% dizerem que a religião ajuda
a ter competência no trabalho, 7,9% que é importante para ser honesto no
pagamento de impostos ou de 6,7% dizerem ser importante para participar na vida
cívica e política.
Se os números inicialmente
apresentados que demonstram o recuo do número de católicos em detrimento do
aparecimento de novas religiões ou crenças e do aumento dos não crentes, mais
impressivos são os três números que acabei de apresentar que mostram que a
religião se resume ao campo puramente espiritual e que pouca influência tem na
vida e comportamentos diários. Ou seja, continua a influência do farisaísmo
para quem o importante é o cumprimento das regras, não parecendo serem assumidos os
verdadeiros valores do cristianismo que devem sempre passar para a nossa vida,
seja em que plano a quisermos colocar.
Talvez não seja por acaso,
mas sim um reflexo deste modo de encarar a religião, que só 22,8% dos católicos
referem um sentimento de esperança em relação ao futuro, contra 68,3% que
mostram preocupação ou inquietação e 8,8% que se dizem descrentes ou
indiferentes. Estes valores contrastam com os dos protestantes e de outros
cristãos nos quais a percentagem dos que se dizem com esperança no futuro é,
respectivamente, de 48,9% e 44,7%.
Finalmente, e para salientar
a importância do debate, o jornal “Público” de hoje, dia 19 de Abril, continua a noticiar estes factos dando conta, entre outros, das declarações do
porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, padre Manuel Morujão, a
propósito dos resultados do estudo, o qual diz que o que importa não é a quantidade de
católicos mas sim a sua qualidade. Pese embora a crítica implícita que faço a esta
afirmação não posso deixar de dizer que a mesma me parece imbuída de um certo maniqueísmo ou atavismo de que os
representantes da Igreja hierárquica vão dando ainda mostras.
Para mim a Igreja de Cristo é uma Igreja de inclusão e não de exclusão. É, porventura, por causa deste modo de pensar que se vai cavando esta crise que motiva os movimentos que referi na mensagem anterior. E é também este mais um motivo para se apelar a um verdadeiro e profundo debate deste tema entre aqueles que defendem uma Igreja livre e consciente das suas obrigações à luz dos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Hugo Meireles
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