Diálogo com o Evangelho do 11º Domingo do tempo comum, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.
Evangelho (Mc. 4, 26-34)
Dorme e levanta-se, noite e dia, enquanto a semente germina e cresce, sem ele saber como.
A terra produz por si, primeiro a planta, depois a espiga, por fim o trigo maduro na espiga.
E quando o trigo o permite, logo se mete a foice, porque já chegou o tempo da colheita».
Jesus dizia ainda: «A que havemos de comparar o Reino de Deus? Em que parábola o havemos de apresentar?
É como um grão de mostarda, que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes que há sobre a terra;
mas, depois de semeado, começa a crescer e torna-se a maior de todas as plantas da horta, estendendo de tal forma os seus ramos que as aves do céu podem abrigar-se à sua sombra».
Jesus pregava-lhes a palavra de Deus com muitas parábolas como estas, conforme eram capazes de entender.
E não lhes falava senão em parábolas; mas, em particular, tudo explicava aos seus discípulos.
DIÁLOGO
Neste domingo, a liturgia católica volta ao chamado tempo ordinário e comum.
Depois da Quaresma, celebramos a Páscoa, a Ascensão e o Pentecostes e mais as duas grandes festas da Santíssima Trindade e do Corpo e Sangue de Cristo.
No entanto, mesmo quando o nosso calendário litúrgico anuncia que voltamos para um tempo de normalidade, muitos de nós continuamos ansiosos pela libertação deste tão estranho período que começou a 11 de Março de 2020, quando a COVID-19 foi oficialmente declarada uma pandemia global.
O Evangelho de hoje convida-nos a apreciar os processos simples e extraordinários da criação, com a primeira parábola da semente que germina e cresce por si mesma. A terra produz por si, primeiro a planta, depois a espiga e por fim o trigo maduro na espiga.
Foi Marcos que inventou o género literário a que chamamos "Evangelho" (Boa Nova, Boa Notícia) dirigido sobretudo a pessoas que sofrem perseguição e desilusão.
A comunidade de Marcos tinha pensado que o fim do mundo,
com a vinda vitoriosa do Messias Salvador estava próximo.
Mas a realidade que estavam a viver era muito diferente e por isso estavam profundamente abalados com a demora do regresso de Jesus Ressuscitado, na sua Glória divina.
Além disso, a sua fé era alimentada pelas profecias e pela sabedoria do Antigo Testamento que proclamava que os bons servidores de Deus seriam felizes e recompensados por Deus.
Em vez disso, os cristãos estavam a ser martirizados em Roma e rejeitados em Jerusalém.
Estas realidades tão duras e incompreensíveis criaram muitas dúvidas e incertezas entre os que queriam ser cristãos.
Em contraste com a orientação de que o nosso objetivo é sermos bem sucedidos no que fazemos para agradar a Deus, esta parábola centra-se no poder divino que está sempre a atuar, dando vida às sementes do reino de Deus.
O agricultor nesta parábola nada mais faz do que plantar.
Depois disso, tudo o mais advém misteriosamente da ação de Deus.
Esta parábola leva os ouvintes a lembrarem-se de que eles não são os donos dos caminhos para seguir o que Jesus tinha ensinado como sendo os caminhos de Deus.
São chamados a confiar em Deus para além dos limites da sua compreensão.
Marcos escreveu esta parábola para uma comunidade desiludida e assustada.
O seu objetivo não era dizer-lhes para se sentarem e não fazerem nada, mas para se lembrarem de como o poder de Deus é prodigioso e gerador de vida.
Como eles, somos convidados a confiar na dinâmica do Amor divino
em todas as situações que se vão desenrolando na nossa vida.
Nesta altura em que esperamos que seja anunciado nos próximos meses o fim da pandemia de COVID-19, o Evangelho convida-nos a imitar o agricultor da parábola « da semente que germina e cresce, sem ele saber como” e a estarmos atentos às maravilhas escondidas que Deus está a fazer mas cujos efeitos se entendem e se tornam sinais de esperança num mundo melhor.
O que parece uma utopia para um futuro desconhecido, vai-se tornado numa grande multiplicidade de realidades vividas no presente.
É este o segredo do Reinado de Deus que Jesus nos oferece.
frei Eugénio
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