2021-11-27

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 1º Domingo do Advento, 28 de Novembro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.

 




www.evangile-et-peinture.org

 

Evangelho (Lucas 21, 25-36)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas e, na Terra, angústia entre as nações, aterradas com o rugido e a agitação do mar.
Os homens morrerão de pavor, na expectativa do que vai suceder ao universo, pois as forças celestes serão abaladas.
Então hão de ver o Filho do homem vir numa nuvem, com grande poder e glória.
Quando estas coisas começarem a acontecer, erguei-vos e levantai a cabeça, porque a vossa libertação está próxima.
Tende cuidado convosco, não suceda que os vossos corações se tornem pesados pela intemperança, a embriaguez e as preocupações da vida, e esse dia não vos surpreenda subitamente como uma armadilha, pois ele atingirá todos os que habitam a face da Terra.
Portanto, vigiai e orai em todo o tempo, para que possais livrar-vos de tudo o que vai acontecer e comparecer diante do Filho do homem».

 

DIÁLOGO

A página do Evangelho deste Primeiro Domingo do Advento lança-nos um desafio: estaremos dispostos a olhar o que se passa à nossa volta, tanto os fenómenos naturais como os acontecimentos, interpretando-os à luz do que Jesus nos veio ensinar?

Mesmo sendo pessoas que se interessam com o que se passa à nossa volta e no mundo, talvez precisemos de ouvir bem esta recomendação de Jesus: "Cuidado! Não deixem que os vossos corações fiquem sonolentos!"

Jesus tinha proclamado uma mensagem, assegurando aos discípulos que o tempo da tribulação poderia ser também o tempo da sua salvação. 

Podemos perguntar, porque é que no início deste tempo do Advento, destinado a preparar-nos para o Natal de Jesus, num clima de alegria e boa disposição, a liturgia nos apresenta estes terríveis fenómenos e as catástrofes que eles provocam.

A resposta é que Lucas não pretende prever os acontecimentos futuros com  uma precisão de cientista.

Ele tem outro objetivo, que é o de estimular as comunidades cristãs a deixarem-se habitar pela presença de Jesus Salvador no local e no momento que estão a viver.

Com estas imagens, Lucas, em primeiro lugar, encoraja os cristãos a estarem bem acordados e a permanecerem atentos ao que se passa na criação.

Os cataclismos anunciados aparecem como uma porta de entrada para um novo mundo, que há de chegar quando Jesus Ressuscitado voltar, como Ele promete. 

O evangelista Lucas quer livrar os discípulos de Jesus da apatia, da indiferença e do cansaço que podem acontecer e desenvolver-se nas comunidades de cristãos.

As imagens tão poderosas convidam-nos a acordar, a estarmos levantados, a vivermos na expectativa do que Jesus Ressuscitado traz ao mundo e que Ele levará a bom termo no seu Regresso em glória.

Era comum entre os primeiros cristãos esperarem ver o regresso do Messias Libertador e Salvador durante a sua vida.

Só mais tarde compreenderam que este Regresso era um mistério que só será revelado no final dos tempos.

Assim sendo, entraram no essencial de toda a vida cristã: viver com Jesus Ressuscitado, no local e no momento que estão a viver.

A nossa expectativa do Regresso de Jesus ressuscitado é vivida na fé. 

Não sabemos nem a hora nem o momento.

Neste tempo de Advento somos convidados a termos presente três vindas de Jesus.

Uma, é o seu nascimento em Belém, a sua vinda à vida no meio de nós, dum modo modesto e discreto, há um pouco mais de 2021 anos.

Outra, será a vinda no fim dos tempos, como o Libertador e Salvador, com grande poder e glória.

E entre estas duas vindas celebramos uma terceira, que é a vinda dentro de cada um de nós, assumindo a nossa responsabilidade em gestos de amor ao próximo e pela nossa oração como Jesus nos pede: “vigiai e orai em todo o tempo”.

E estas três vindas completam-se umas às outras.

 frei Eugénio

2021-11-20

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho de Domingo de Jesus Cristo Rei, Rei do Universo, 21 de Novembro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.

 



www.evangile-et-peinture.org

 

Evangelho (João 18, 33b-37)

Naquele tempo, disse Pilatos a Jesus: «Tu és o rei dos Judeus?».
Jesus respondeu-lhe: «É por ti que o dizes, ou foram outros que to disseram de Mim?».
Disse-Lhe Pilatos: «Porventura eu sou judeu? O teu povo e os sumos sacerdotes é que Te entregaram a mim. Que fizeste?».
Jesus respondeu: «O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que Eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui».
Disse-Lhe Pilatos: «Então, Tu és Rei?». Jesus respondeu-lhe: «É como dizes: sou Rei. Para isso nasci e vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz».

 

DIÁLOGO 

Os quatro Evangelhos referem-se a esta pergunta de Pilatos a Jesus: «Tu és o Rei dos judeus?», mas nenhum deles nos diz em que língua Pilatos a fez. 

Pilatos era provavelmente bilingue, falava latim e grego. 

Jesus também era provavelmente bilingue, falava aramaico e hebraico. 

Os escritores dos Evangelhos não nos dizem se Jesus e Pilatos tinham uma língua comum ou se falavam através de intérpretes, mas é evidente que na cena descrita no Evangelho de hoje, que não falavam a mesma linguagem, quando falavam de «ser rei», «reino» e «reinar». 

Cada um dava um sentido muito diferente a estas palavras.Embora a vinda do Reino de Deus entre nós, fosse uma das principais insistências da mensagem de Jesus, no Novo Testamento a maioria das menções à realeza de Jesus aparecem ligadas à sua condenação e morte por crucificação.   

Na passagem do Evangelho que lemos hoje, Jesus reconhece que lhe podem chamar «rei», mas esclarece que é um reino muito diferente do que as pessoas estavam habituadas: «O meu reino não pertence a este mundo». 

A segunda pergunta de Pilatos a Jesus «Que fizeste?», para que os chefes religiosos do povo de Israel o levassem ao governador para o condenar, conduz-nos ao essencial da questão sobre o modo de Jesus reinar. 

A resposta à questão de Pilatos era muito simples. O que Jesus tinha andado sempre a fazer era o Bem, sob todas as formas. 

Será que Jesus tentou que Pilatos compreendesse o que significava Ele ter um reino que é como uma semente de mostarda, como um tesouro escondido num campo, que é como a melhor pérola, ou como uma rede com todo o tipo de peixes?De facto, o Reino de Deus que Jesus vinha anunciar e, por isso a Sua realeza, eram muitíssimo surpreendentes.  

O seu principal dinamismo dos que querem viver neste reino é querer estar em metanoia (em grego), que quer dizer estar disponível para «mudar de mentalidade». 

Também se traduz por «virar do avesso». 

Para viver neste reino é central virarmo-nos para Jesus, vendo como Ele fazia o Bem e como se relacionava com Deus-Pai e com o próximo. 

E como Ele fazia, o seu modo de reinar era servindo.A linguagem do Reino de Deus é para todos entenderem, é universal, mas é incompreensível para quem não aceitar viver em metanoia, aberto(a) à «mudança de mentalidade». 

A razão pela qual a Igreja deve celebrar solenemente a festa de Nosso Senhor, Jesus Cristo, o Rei do Universo, é para nos chamar à responsabilidade. 

A festa de hoje é um forte apelo a olharmos para Jesus servidor crucificado, de braços abertos para nos acolher e Lhe pedirmos em confiança. 

«Senhor Jesus, que o Teu Amor circule e oriente a minha vontade.» 

«Senhor Jesus, que o Teu Amor circule e oriente a minha inteligência e o meu modo de pensar». 

«Jesus, Rei do Universo, reina e orienta os meus sentimentos e o meu modo de colaborar conTigo na construção do Teu Reino». 

  frei Eugénio

 

2021-11-14

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 33º Domingo do tempo comum, 14 de Novembro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.

 


 

Evangelho (Marcos 13, 24-32)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Naqueles dias, depois de uma grande aflição, o sol escurecerá e a lua não dará a sua claridade;
as estrelas cairão do céu e as forças que há nos céus serão abaladas.
Então, hão-de ver o Filho do homem vir sobre as nuvens, com grande poder e glória.
Ele mandará os Anjos, para reunir os seus eleitos dos quatro pontos cardeais, da extremidade da terra à extremidade do céu.
Aprendei a parábola da figueira: quando os seus ramos ficam tenros e brotam as folhas, sabeis que o Verão está próximo.
Assim também, quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o Filho do homem está perto, está mesmo à porta.
Em verdade vos digo: Não passará esta geração sem que tudo isto aconteça.
Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.

DIÁLOGO

Hoje em dia, os jovens, e também os menos jovens gostam de ver vídeos ou filmes que contem histórias cheias de aventuras com efeitos fantásticos. 

Porque é que gostamos de os ver? 

Para sentir grandes emoções, para sair da rotina quotidiana, para experimentar coisas novas ou desconhecidas! 

As imagens que Jesus utiliza são poderosas: «Depois duma grande aflição, o sol escurecerá e a lua não dará a sua claridade; as estrelas cairão do céu e as forças que há nos céus serão abaladas.» O mundo estará em transformação, será o final do mundo tal como o conhecemos.  

Depois, quando Jesus falou sobre estes sinais temíveis e terríveis, explicou: «quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o Filho do Homem está perto, está mesmo à porta.» 

Aquele que renova completamente o mundo fará a sua aparição. O Filho do Homem, Jesus, o Messias, virá «nas nuvens com grande poder e glória». Neste diálogo, Jesus utiliza uma linguagem chamada «apocalíptica», que tem origem na palavra grega apokálupsis que significa 'revelação'.  

Este género literário é utilizado para descrever os segredos divinos que se referem ao final dos tempos e que utilizam imagens fantásticas e cenas cheias de emoções. 

Neste nosso tempo, encontramo-nos numa situação de calamidade climática, com necessidade urgente de se reduzirem as emissões de CO2. 

Os meios de comunicação social dão-nos uma imensidade incontrolável de informações, demasiadas vezes contraditórias, ou sem provas de veracidade, o que dificulta muitíssimo fazer discernimentos convenientes. 

As igrejas sentem a perda da religiosidade tradicional, enquanto novas e variadas espiritualidades e visões da nossa humanidade entram em contradição com as nossas antigas categorias de género, raça, classe, nacionalidade, etc. As palavras que Jesus dirigiu aos seus discípulos não pretendiam criar angústia motivada pela chegada próxima dum «fim do mundo».  

Jesus insistiu com os discípulos para que «vejam bem», «estai atentos» e «prestai atenção». Disse-lhes que deviam ter uma atitude de vigilância: «estai acordados» e «vigiai» 

No entanto, esta grande crise é apresentada no Evangelho como uma Boa Noticia. 

A história a que pertence não é meramente humana, mas uma história divino-humana que nos leva a partilhar na nossa própria vida uma missão que se centra na pessoa do Homem-Deus, Jesus, o Messias. 

De facto, tudo o que Jesus disse sobre a grande crise pode resumir-se na pergunta que os discípulos Lhe tinham posto: «Quando é que tudo se vai cumprir?» 

A grande crise não é o momento da devastação, mas sim a realização plena da missão de Jesus, com a vinda definitiva do Filho do Homem. 

Os discípulos deveriam colocar toda a sua confiança na Palavra de Deus, uma Palavra que nunca deixa de cumprir o que é proclamado, que é sempre vista como criativa e nunca destrutiva. 

É o que Jesus diz: «Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.» 

Os cristãos aguardam o regresso de Jesus Ressuscitado na esperança de que o Amor terá a última palavra, porque Jesus o disse. 

  frei Eugénio 

Nota: 

Este Domingo, antes da festa de Cristo Rei, é o 5° ano que se celebra o Dia Mundial dos Pobres, este ano com o tema: "Os pobres que tereis sempre convosco" (Marcos 14, 7).