Diálogo com o Evangelho do 3º Domingo da Páscoa (São José Operário), 1 de maio, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.
Evangelho (Jo 21, 1-14)
Naquele tempo, Jesus manifestou-Se outra vez aos seus discípulos, junto do mar de Tiberíades. Manifestou-Se deste modo:
Disse-lhes Simão Pedro: «Vou pescar». Eles responderam-lhe: «Nós vamos contigo». Saíram de casa e subiram para o barco, mas naquela noite não apanharam nada.
Ao romper da manhã, Jesus apresentou-Se na margem, mas os discípulos não sabiam que era Ele.
Disse-lhes Jesus: «Rapazes, tendes alguma coisa que comer?». Eles responderam: «Não».
Disse-lhes Jesus: «Lançai a rede para a direita do barco e encontrareis». Eles lançaram a rede e já mal a podiam arrastar por causa da abundância de peixes.
O discípulo predileto de Jesus disse a Pedro: «É o Senhor». Simão Pedro, quando ouviu dizer que era o Senhor, vestiu a túnica, que tinha tirado, e lançou-se ao mar.
Os outros discípulos, que estavam apenas a uns duzentos côvados da margem, vieram no barco, puxando a rede com os peixes.
Quando saltaram em terra, viram brasas acesas com peixe em cima, e pão.
Disse-lhes Jesus: «Trazei alguns dos peixes que apanhastes agora».
Simão Pedro subiu ao barco e puxou a rede para terra, cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes; e, apesar de serem tantos, não se rompeu a rede.
Disse-lhes Jesus: «Vinde comer». Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar-Lhe: «Quem és Tu?», porque bem sabiam que era o Senhor.
Jesus aproximou-Se, tomou o pão e deu-lho, fazendo o mesmo com os peixes.
Esta foi a terceira vez que Jesus Se manifestou aos seus discípulos, depois de ter ressuscitado dos mortos.
DIÁLOGO
Na passagem do Evangelho de João que acabamos de ler, os discípulos tinham deixado Jerusalém e seus arredores, onde tinham vivido os últimos momentos com Jesus e também onde beneficiaram das primeiras aparições do Ressuscitado.
Já não estão em Jerusalém, mas na Galileia.
Retomaram as suas ocupações habituais. Alguns voltaram a pescar.
O encontro com Jesus na margem do lago, tanto para Pedro como para os outros companheiros, não é uma ocasião de dar testemunho, mas sim um momento de familiaridade e grande proximidade com Jesus Ressuscitado.
A cena que nos é contada, mostra Jesus a dirigir-se aos discípulos num tom muito familiar: «Rapazes, tendes alguma coisa de comer?»
Depois, quando chegam a terra, veem um fogo de brasas com peixe, e algum pão.
E Jesus convida-os a almoçar com Ele.
Esta é uma cena que nos toca profundamente, na sua simplicidade.
Não é uma aparição onde a luz brilha, onde o rosto de Jesus está iluminado, onde as suas roupas são mais brancas do que a neve.
Não, trata-se de gestos e de palavras da vida quotidiana.
O Ressuscitado mostra-se aos discípulos e aproxima-se deles como o fazia nos dias da sua vida terrena.
A relação dos discípulos com Jesus Ressuscitado não está perdida depois da sua morte, mas transformada.
É por isso que o autor do Evangelho escreve que "esta foi a terceira vez que Jesus ressuscitado dos mortos, se manifestou aos seus discípulos".
As aparições de Jesus Ressuscitado são todas manifestações de uma nova presença que os discípulos experimentam.
Os pormenores do relato evangélico têm por objetivo fazer-nos compreender que esta presença do Ressuscitado, mesmo que seja diferente da sua presença terrena, é uma presença igualmente real, uma presença que podemos de facto experimentar na nossa vida quotidiana.
Não temos de deixar as nossas ocupações habituais para nos encontrarmos com Jesus Ressuscitado.
Tal como os discípulos, podemos encontrá-Lo nas atividades que preenchem os nossos dias: no trabalho e no descanso, no silêncio e em conversas com o outros, diretamente ou pelo smartfone, porque não através do WhatsApp ou no Facebook ?
Jesus Ressuscitado, como Ele próprio disse, está presente sempre que dois ou três estão reunidos em Seu nome, ou nas mais variadas situações com crianças, jovens, adultos ou idosos e sempre também quando estamos em família.
De facto, Jesus Ressuscitado continua a manifestar-se no nosso mundo e nas nossas vidas, como o fez com os discípulos à beira do lago, sentado, com as brasas prontas para assar os peixes.
Jesus também espera pelas nossas atitudes e respostas de amor e de fé.
Ele também nos diz a cada um de nós: «Tragam alguns desses peixes que acabaram de apanhar», «Venham comer comigo».
Esta época pascal favorece o estarmos profundamente envolvidos pela presença de Jesus Ressuscitado, Aquele que está vivo ontem, hoje e amanhã.
Mesmo quando a sua presença parece desaparecer, não devemos deixar-nos desencorajar.
Jesus Ressuscitado quer estar sempre presente connosco.
O evangelista João termina esta narrativa com um simples resumo: «Esta foi a terceira vez que Jesus se manifestou aos seus discípulos, depois de ter ressuscitado dos mortos.»
O Senhor Ressuscitado não deixa os seus filhos como órfãos, mas dá-lhes o Seu poder para continuarem a sua missão de darem a conhecer e a viverem com fé o poder do Amor de Deus.
Tal como aos apóstolos, Jesus dá-nos a missão de fazermos o nosso melhor para ajudarmos cada pessoa que encontramos ou com quem convivemos, a ter uma vida que valha a pena ser vivida, seguindo o estilo e o modo de ser de Jesus.
Deixemos que as nossas vidas sejam transformadas em Jesus Ressuscitado, o Senhor da Vida.
frei Eugénio, op