2022-09-09

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 24º Domingo do Tempo Comum, 11 de setembro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui


 https://www.evangile-et-peinture.org

 

Evangelho (Lc 15, 1-3.11-32)

Naquele tempo,

os publicanos e os pecadores

aproximavam-se todos de Jesus, para O ouvirem.

Mas os fariseus e os escribas murmuravam entre si, dizendo:

«Este homem acolhe os pecadores e come com eles».

Jesus disse-lhes então a seguinte parábola:

«Um homem tinha dois filhos.

O mais novo disse ao pai:

‘Pai, dá-me a parte da herança que me toca’.

O pai repartiu os bens pelos filhos.

Alguns dias depois, o filho mais novo,

juntando todos os seus haveres, partiu para um país distante

e por lá esbanjou quanto possuía,

numa vida dissoluta.

Tendo gasto tudo,

houve uma grande fome naquela região

e ele começou a passar privações.

Entrou então ao serviço de um dos habitantes daquela terra,

que o mandou para os seus campos guardar porcos.

Bem desejava ele matar a fome

com as alfarrobas que os porcos comiam,

mas ninguém lhas dava.

Então, caindo em si, disse:

‘Quantos trabalhadores de meu pai têm pão em abundância,

e eu aqui a morrer de fome!

Vou-me embora, vou ter com meu pai e dizer-lhe:

Pai, pequei contra o Céu e contra ti.

Já não mereço ser chamado teu filho,

mas trata-me como um dos teus trabalhadores’.

Pôs-se a caminho e foi ter com o pai.

Ainda ele estava longe, quando o pai o viu:

encheu-se de compaixão

e correu a lançar-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos.

Disse-lhe o filho:

‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti.

Já não mereço ser chamado teu filho’.

Mas o pai disse aos servos:

‘Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha.

Ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés.

Trazei o vitelo gordo e matai-o.

Comamos e festejemos,

porque este meu filho estava morto e voltou à vida,

estava perdido e foi reencontrado’.

E começou a festa.

Ora o filho mais velho estava no campo.

Quando regressou,

ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças.

Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo.

O servo respondeu-lhe:

‘O teu irmão voltou

e teu pai mandou matar o vitelo gordo,

porque ele chegou são e salvo’.

Ele ficou ressentido e não queria entrar.

Então o pai veio cá fora instar com ele.

Mas ele respondeu ao pai:

‘Há tantos anos que eu te sirvo,

sem nunca transgredir uma ordem tua,

e  nunca me deste um cabrito

para fazer uma festa com os meus amigos.

E agora, quando chegou esse teu filho,

que consumiu os teus bens com mulheres de má vida,

mataste-lhe o vitelo gordo’.

Disse-lhe o pai:

‘Filho, tu estás sempre comigo

e tudo o que é meu é teu.

Mas  tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos,

porque este teu irmão estava morto e voltou à vida,

estava perdido e foi reencontrado’». 

 

DIÁLOGO

 

Nesta parábola, Jesus dirige-se a um grupo de fariseus e de escribas que discordavam e se opunham às atitudes d’Ele porque acolhia e até ia comer a casa de pecadores.

 

Habitualmente esta parábola é conhecida com a «parábola do filho pródigo». É utilizada para levar os cristãos a terem atitudes de arrependimento pelo mal feito e a celebrarem o Sacramento do Perdão.

 

Se seguirmos o texto da parábola, como se fosse um vídeo, vemos que Jesus utilizou muitos detalhes visuais:

o filho mais novo a pedir a sua herança;

a sua partida para um país distante, onde se fartou de divertir e de gastar dinheiro;

o filho na pocilga com os porcos; depois o filho a refletir e a cair em si mesmo;

o pai a ir abraçar o filho no seu regresso a casa;

o banquete preparado pelo pai;

o irmão mais velho, zangado, não quer entrar na festa; o pai que vai ao encontro do filho mais velho.

 

Qual é a mensagem de Jesus nesta parábola?

Será o perdão? Mas o pai não disse nenhuma palavra sobre perdão ou absolvição.

 

Mesmo quando o irmão mais velho resmungou com o pai por ele ter acolhido festivamente o filho mais novo, o pai não disse nada que desculpasse o comportamento desse filho.

 

No final destas cenas cheias de vida, vem a mensagem que Jesus quer que descubramos: "Este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi encontrado".

 

Esta frase é retomada pelo pai quando vai ter com o filho mais velho, que repreende o seu pai por ter tratado com tanta bondade um filho que o abandonou: «teu irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado».

 

O pai lembra ao filho mais velho que ele tem um irmão, que estava dado como morto e que afinal está vivo. 

 

A dádiva que o pai deu a este filho, que o abandonou e que andou numa independência desorientada foi a compaixão.

 

Podemos chamar a esta parábola «A parábola do Pai cheio de compaixão».

 

A atitude de compaixão na língua hebraica «rahamim» tem a ver com as entranhas, com seio materno, para exprimir que a compaixão vem bem de dentro, como o amor de mãe pelo filho que ela trouxe no seu ventre.

 

A compaixão é uma das atitudes mais consoladoras e renovadoras nas vidas das pessoas.

 

Na parábola, a compaixão do pai conduz à mudança de atitude e também à mudança de coração do seu filho mais novo. 

 

Quando ao filho mais velho, a parábola não o diz, mas podemos esperar que também ele tenha aceitado mudar.

 

Mas, a história do filho mais novo inclui a do filho mais velho.

Este está ressentido. 

 

Nem mesmo o regresso do seu irmão o fará querer participar na celebração familiar. 

 

Mas o pai vai ter com o filho mais velho, tal como tinha ido ao encontro do mais novo. 

 

Ele quer que ambos se descubram como irmãos e que se alegrem com o bem um do outro.

 

Jesus apresenta-nos Deus como Pai que só quer ter uma autoridade:

a da compaixão. 

 

Esta compaixão faz com que todas as formas de desamor e de sofrimento dos seus filhos, causem uma imensa tristeza no seu coração. 

 

É, por isso, que na parábola o pai estende os braços sem se cansar

na direção dos seus filhos, esperando que eles vão ter com Ele

e queiram participar na alegria da festa do Amor eterno.

 

Na caminhada da nossa vida, procuremos abrir em nós um espaço para a compaixão que pode mudar a história das nossas vidas.

 

     frei Eugénio op

 

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