2022-09-16

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 25º Domingo do Tempo Comum, 18 de setembro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui

 


 https://www.evangile-et-peinture.org

 

Evangelho (Lc. 15, 1-3.11-32) 

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Um homem rico tinha um administrador que foi denunciado por andar a desperdiçar os seus bens. 

Mandou chamá-lo e disse-lhe: "Que é isto que ouço dizer de ti? Presta contas da tua administração, porque já não podes continuar a administrar". 

O administrador disse consigo: "Que hei de fazer, agora que o meu senhor me vai tirar a administração? Para cavar não tenho forças, de mendigar tenho vergonha. 

Já sei o que hei de fazer, para que, ao ser despedido da administração, alguém me receba em sua casa".

Mandou chamar, um por um, os devedores do seu senhor e disse ao primeiro: "Quanto deves ao meu senhor?". 

Ele respondeu: "Cem talhas de azeite". O administrador disse-lhe: "Toma a tua conta, senta-te depressa e escreve cinquenta". 

A seguir disse a outro: "E tu, quanto deves?" Ele respondeu: "Cem medidas de trigo". Disse-lhe o administrador: "Toma a tua conta e escreve oitenta". 

E o senhor elogiou o administrador desonesto, por ter procedido com esperteza. De facto, os filhos deste mundo são mais espertos do que os filhos da luz no trato com os seus semelhantes». 

Ora Eu digo-vos: Arranjai amigos com o vil dinheiro, para que, quando este vier a faltar, eles vos recebam nas moradas eternas. 

Quem é fiel nas coisas pequenas, também é fiel nas grandes; e quem é injusto nas coisas pequenas, também é injusto nas grandes. 

Se não fostes fiéis no que se refere ao vil dinheiro, quem vos confiará o verdadeiro bem? 

E, se não fostes fiéis no bem alheio, quem vos entregará o que é vosso? 

Nenhum servo pode servir a dois senhores, porque, ou não gosta de um deles e estima o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro».

 

DIÁLOGO

Ficamos certamente chocados com este elogio provocador feito por Jesus.

Se os primeiros discípulos guardaram estas palavras perturbadoras de Jesus, apesar de serem surpreendentes, é porque encontraram nelas pontos essenciais da Sua mensagem que queriam transmitir às gerações futuras, incluindo a nós.

 

A mensagem central da parábola contada por Jesus e narrada no Evangelho que acabámos de ler, aparece nas últimas frases:

"Nenhum servo pode servir a dois senhores,

porque, ou não gosta de um deles e estima o outro,

ou se dedicará a um e desprezará o outro.

Não podeis servir a Deus e ao dinheiro».

 

Então porquê elogiar o gerente desonesto e dizer para se fazerem amigos com dinheiro sujo? É realmente estranho!

 

Comecemos por ver onde Lucas, na sua narrativa, colocou esta parábola de Jesus.

Jesus ia a caminho de Jerusalém, onde previa ser preso porque, apesar da atenção de muito povo que o escutava, deparava com a oposição das elites, em particular dos fariseus, a quem Ele perturbava com os seus ensinamentos e as suas atitudes.

Jesus dirigiu esta parábola especialmente aos seus discípulos.

E devemos ter presente que estes discípulos nos representam também a nós.

Então, o que podemos aprender nos nossos dias com esta parábola do mordomo desonesto, elogiado por Jesus?

 

Podemos pensar que Jesus, no cenário desta parábola, pode ter sido inspirado por acontecimentos como os que por vezes vemos no mundo dos negócios, quando conselheiros financeiros se apropriam do dinheiro que lhes foi confiado e o utilizam. para seu lucro pessoal.

 

Ora, na parábola, acontece ao gerente ser despedido subitamente, por denúncia. O seu patrão diz-lhe que complete os seus livros de contabilidade e que está despedido.

A reação do gerente é rápida.

Não tem problemas com a sua consciência. 

 

Pega no telefone, como diríamos hoje, e nas contas do seu patrão reduz aos devedores o que eles têm de pagar como reembolso.

Certamente que estes devedores lhe ficam muito gratos.

Estes caminhos ainda hoje existem, como as notícias nos vão revelando.

Mas este não é o ponto que Jesus quer que recordemos.

 

Podemos ver que o centro da parábola, é Jesus a louvar o gerente desonesto, não por causa da sua desonestidade, mas por causa da sua ousadia e habilidade na circunstância muito difícil de ter sido despedido subitamente.

 

Jesus não elogia a astúcia desonesta do gestor. Este toma a sua decisão de modo a poder ter um futuro para si próprio.

 

Esta situação pode acontecer a todos os seguidores de Jesus, como nós desejamos ser.

 

Temos de nos decidir a segui-Lo corajosamente no seu modo de viver, apesar das circunstâncias por vezes difíceis e adversas.

Jesus diz-nos: «Sede audazes e decididos no mundo atual, lembrando-vos da esperança do mundo vindouro que levais dentro de vós.» 

 

Talvez no nosso mundo, hoje, estejamos a dar-nos conta de que o culto do crescimento económico e da abundância é um ídolo, pois só duram um espaço de tempo mais ou menos limitado e têm uma eficácia que só vai beneficiar uma percentagem reduzida de pessoas dos países ou zonas onde habitam.

Pelo contrário, grande parte das populações fica muito mais sujeita ao empobrecimento que as conduz à infelicidade e ao desespero, em vez da felicidade.

 

Jesus diz-nos que o Reino já está no meio de nós. Ele diz-nos que o dinheiro ou a utilização dos bens deste mundo deve servir-nos para fazermos verdadeiros amigos, ou seja, para criarmos laços de solidariedade e fraternidade que são já um sinal e um começo do Reino que esperamos.

Muitas iniciativas estão já a avançar nesta direção, com generosidade e partilha em todas as suas formas:

solidariedade familiar ou de vizinhança, que na maioria das vezes é feita discretamente, associações e redes que funcionam sob a forma de cooperativas, bancos alternativos, agricultura familiar não industrial, iniciativas de comércio justo, associações que acolhem os requerentes de asilo, visitantes dos doentes ou prisioneiros.

Os exemplos poderiam ser multiplicados.

 

Tudo isto cria confiança e esperança, alegria de viver e felicidade; cria laços, numa outra forma de viver juntos e de viver bem juntos.

São sementes que já estão a dar frutos e são as sementes do Reino esperado, luzes que iluminam a escuridão da vida.

Jesus convida-nos a sermos atores em liberdade e esperança.

 

frei Eugénio op

 

 

 

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