Diálogo com o Evangelho do 1º Domingo do Advento, 1 de Dezembro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.
Evangelho (Lc. 21, 25-36)
Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Haverá sinais no sol, na lua e
nas estrelas e, na Terra, angústia entre as nações, aterradas com o
rugido e a agitação do mar.
Os homens morrerão de pavor, na expectativa do que vai suceder ao universo, pois as forças celestes serão abaladas.
Então hão de ver o Filho do homem vir numa nuvem, com grande poder e glória.
Quando estas coisas começarem a acontecer, erguei-vos e levantai a cabeça, porque a vossa libertação está próxima.
Tende
cuidado convosco, não suceda que os vossos corações se tornem pesados
pela intemperança, a embriaguez e as preocupações da vida, e esse dia
não vos surpreenda subitamente como uma armadilha, pois ele atingirá todos os que habitam a face da Terra.
Portanto,
vigiai e orai em todo o tempo, para que possais livrar-vos de tudo o
que vai acontecer e comparecer diante do Filho do homem».
DIÁLOGO
A página do Evangelho deste Primeiro Domingo do Advento
lança-nos um desafio: estaremos dispostos a olhar o que se passa à nossa volta,
tanto os fenómenos naturais como os acontecimentos, interpretando-os à luz do que
Jesus nos veio ensinar?
Mesmo sendo pessoas que se interessam com o que se passa à
nossa volta e no mundo, talvez precisemos de ouvir bem esta recomendação de
Jesus: "Cuidado! Não deixem que os vossos corações fiquem sonolentos!"
Jesus tinha proclamado uma mensagem, assegurando aos
discípulos que o tempo da tribulação poderia ser também o tempo da sua
salvação.
Podemos perguntar, porque é que no início deste tempo do Advento,
destinado a preparar-nos para o Natal de Jesus, num clima de alegria e boa
disposição, a liturgia nos apresenta estes terríveis fenómenos e as catástrofes
que eles provocam.
A resposta é que Lucas não pretende prever os acontecimentos
futuros com uma precisão de cientista.
Ele tem outro objetivo, que é o de estimular as comunidades
cristãs a deixarem-se habitar pela presença de Jesus Salvador no local e no
momento que estão a viver.
Com estas imagens, Lucas, em primeiro lugar, encoraja os
cristãos a estarem bem acordados e a permanecerem atentos ao que se passa na
criação.
Os cataclismos anunciados aparecem como uma porta de entrada
para um novo mundo, que há de chegar quando Jesus Ressuscitado voltar, como Ele
promete.
O evangelista Lucas quer livrar os discípulos de Jesus da
apatia, da indiferença e do cansaço que podem acontecer e desenvolver-se nas
comunidades de cristãos.
As imagens tão poderosas convidam-nos a acordar, a estarmos
levantados, a vivermos na expectativa do que Jesus Ressuscitado traz ao mundo e
que Ele levará a bom termo no seu Regresso em glória.
Era comum entre os primeiros cristãos esperarem ver o
regresso do Messias Libertador e Salvador durante a sua vida.
Só mais tarde compreenderam que este Regresso era um
mistério que só será revelado no final dos tempos.
Assim sendo, entraram no essencial de toda a vida cristã:
viver com Jesus Ressuscitado, no local e no momento que estão a viver.
A nossa expectativa do Regresso de Jesus ressuscitado é vivida
na fé.
Não sabemos nem a hora nem o momento.
Neste tempo de Advento somos convidados a termos presente três
vindas de Jesus.
Uma, é o seu nascimento em Belém, a sua vinda à vida no meio
de nós, dum modo modesto e discreto, há um pouco mais de 2021 anos.
Outra, será a vinda no fim dos tempos, como o Libertador e
Salvador, com grande poder e glória.
E entre estas duas vindas celebramos uma terceira, que é a
vinda dentro de cada um de nós, assumindo a nossa responsabilidade em gestos de
amor ao próximo e pela nossa oração como Jesus nos pede: “vigiai e orai em todo
o tempo”.
E estas três vindas completam-se umas às outras.
frei Eugénio, op (27-11-2021)
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