2024-12-14

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 3º Domingo do Advento, 15 de Dezembro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.

 

 

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Evangelho (Lucas 3, 10-18) 

Naquele tempo, as multidões perguntavam a João Batista: «Que devemos fazer?».
Ele respondia-lhes: «Quem tiver duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma; e quem tiver mantimentos faça o mesmo».
Vieram também alguns publicanos para serem batizados e disseram: «Mestre, que devemos fazer?».
João respondeu-lhes: «Não exijais nada além do que vos foi prescrito».
Perguntavam-lhe também os soldados: «E nós, que devemos fazer?». Ele respondeu-lhes: «Não pratiqueis violência com ninguém nem denuncieis injustamente; e contentai-vos com o vosso soldo».
Como o povo estava na expectativa e todos pensavam em seus corações se João não seria o Messias, João tomou a palavra e disse-lhes: «Eu batizo-vos com água, mas está a chegar quem é mais forte do que eu, e eu não sou digno de desatar as correias das suas sandálias. Ele batizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo.
Tem na mão a pá para limpar a sua eira e recolherá o trigo no seu celeiro; a palha, porém, queimá-la-á num fogo que não se apaga».
Assim, com estas e muitas outras exortações, João anunciava ao povo a boa nova.

 

DIÁLOGO

O evangelista começa por nos dizer quem eram as pessoas que iam ouvir a pregação de João Batista.
A primeira referência são as multidões, constituídas pelas pessoas das classes mais baixas da sociedade. 

Em seguida, indica os publicanos, que eram os cobradores de impostos que trabalhavam para o ocupante romano e que tinham o direito de ficar com uma parte para si próprios. 

Por fim, refere os soldados, que constituíam o exército de ocupação, composto por mercenários romanos ou oriundos de outros povos e que não deviam conviver, com proximidade, com os judeus. 

Todos eles perguntavam a João Batista, com humildade: «E nós que devemos fazer?»  (Lc 3,10.12.14). João Batista responde de modo diferente a cada tipo de pessoas, tendo em conta as suas principais ocupações e modos de vida. 

Às multidões diz-lhes que partilhem com grande generosidade. A partilha que ele propõe é muito exigente. Não é apenas uma partilha do que não lhes faz falta, do que lhes sobrava. O supérfluo deixa a vida intacta. 

Ele propõe que se dê mesmo do que é necessário. É o dom de si mesmo que transforma a vida para sempre.

Aos publicanos propõem-lhes que não se apropriem duma percentagem exagerada dos impostos recebidos e que não exijam aos mais modestos quantias que eles não conseguem pagar.

Por sua vez, com os soldados-mercenários é muito exigente quanto ao que devem mudar, para não oprimirem as populações que controlam. 

Em todas estas propostas de conversão à Vontade de Deus, que João Batista proclama, havia sempre uma referência aos comportamentos para com o próximo. 

Na pregação de João Batista ficava claro que a conversão, isto é, o voltarmo-nos para Deus, passava sempre pela mudança dos gestos e atitudes para com o próximo, «Amai o próximo nas circunstâncias concretas das vossas vidas!». 

E se nós fizéssemos um jogo com um amigo ou num pequeno grupo de amigos ou em família? 

«Que devemos fazer?» perguntaríamos nós e o parceiro ou parceiros do jogo responderiam, no estilo de João Batista, sugerindo-nos ao menos uma proposta concreta de mudança na família ou no trabalho. 

E os «Joões Batistas» iam rodando. 

Se este jogo não vos seduzir ou não vos for possível de realizar, podemos imaginar o que é que João Batista nos iria propor quando lhe perguntássemos «Que devemos fazer?» 

Teríamos assim um bom tema para um tempo de oração. 

João Batista, na sua pregação e nos batismos que realizava, anunciava a chegada d’Aquele-Que-Vem e diz que nem sequer é digno de desatar as correias das suas sandálias. 

Desatar as correias das sandálias, descalçar e lavar os pés de quem chegava a casa era uma tarefa tão humilhante, que nem sequer os escravos israelitas a deviam fazer, mas apenas os escravos pagãos. 

João Batista anuncia que há uma Presença nova entre eles, é a Presença d'Aquele-Que-Vem, trazendo o Espírito que dá a Vida verdadeira e eterna, plena de Amor.

Com essa Presença tão próxima, devemos «Alegrar-nos sempre no Senhor!» como escreve, cheio de entusiasmo, o apóstolo Paulo aos cristãos de Filipos (FL 4,4-7).

A liturgia procura fazer-nos reviver este entusiasmo! 

É por tudo isto, e não é pouco, que este Domingo III do Advento é chamado «Domingo laetare››, o «Domingo da alegria». 

Que esta alegria esteja de verdade nos nossos corações.

frei Eugénio, op (12-12-2021)

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