Diálogo com o Evangelho do 24º Domingo do Tempo Comum, 11 de setembro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.
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Evangelho (Lc 15, 1-3.11-32)
Naquele tempo,
os publicanos e os
pecadores
aproximavam-se todos de
Jesus, para O ouvirem.
Mas os fariseus e os
escribas murmuravam entre si, dizendo:
«Este homem acolhe os
pecadores e come com eles».
Jesus disse-lhes então a
seguinte parábola:
«Um homem tinha dois
filhos.
O mais novo disse ao pai:
‘Pai, dá-me a parte da
herança que me toca’.
O pai repartiu os bens
pelos filhos.
Alguns dias depois, o
filho mais novo,
juntando todos os seus
haveres, partiu para um país distante
e por lá esbanjou quanto
possuía,
numa vida dissoluta.
Tendo gasto tudo,
houve uma grande fome
naquela região
e ele começou a passar privações.
Entrou então ao serviço
de um dos habitantes daquela terra,
que o mandou para os seus
campos guardar porcos.
Bem desejava ele matar a
fome
com as alfarrobas que os
porcos comiam,
mas ninguém lhas dava.
Então, caindo em si,
disse:
‘Quantos trabalhadores de
meu pai têm pão em abundância,
e eu aqui a morrer de
fome!
Vou-me embora, vou ter
com meu pai e dizer-lhe:
Pai, pequei contra o Céu
e contra ti.
Já não mereço ser chamado
teu filho,
mas trata-me como um dos
teus trabalhadores’.
Pôs-se a caminho e foi
ter com o pai.
Ainda ele estava longe,
quando o pai o viu:
encheu-se de compaixão
e correu a lançar-se-lhe
ao pescoço, cobrindo-o de beijos.
Disse-lhe o filho:
‘Pai, pequei contra o Céu
e contra ti.
Já não mereço ser chamado
teu filho’.
Mas o pai disse aos
servos:
‘Trazei depressa a melhor
túnica e vesti-lha.
Ponde-lhe um anel no dedo
e sandálias nos pés.
Trazei o vitelo gordo e
matai-o.
Comamos e festejemos,
porque este meu filho
estava morto e voltou à vida,
estava perdido e foi
reencontrado’.
E começou a festa.
Ora o filho mais velho
estava no campo.
Quando regressou,
ao aproximar-se da casa,
ouviu a música e as danças.
Chamou um dos servos e
perguntou-lhe o que era aquilo.
O servo respondeu-lhe:
‘O teu irmão voltou
e teu pai mandou matar o
vitelo gordo,
porque ele chegou são e
salvo’.
Ele ficou ressentido e
não queria entrar.
Então o pai veio cá fora
instar com ele.
Mas ele respondeu ao pai:
‘Há tantos anos que eu te
sirvo,
sem nunca transgredir uma
ordem tua,
e nunca me deste um cabrito
para fazer uma festa com
os meus amigos.
E agora, quando chegou
esse teu filho,
que consumiu os teus bens
com mulheres de má vida,
mataste-lhe o vitelo
gordo’.
Disse-lhe o pai:
‘Filho, tu estás sempre
comigo
e tudo o que é meu é teu.
Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos,
porque este teu irmão
estava morto e voltou à vida,
estava perdido e foi
reencontrado’».
DIÁLOGO
Nesta parábola, Jesus
dirige-se a um grupo de fariseus e de escribas que discordavam e se opunham às atitudes
d’Ele porque acolhia e até ia comer a casa de pecadores.
Habitualmente esta
parábola é conhecida com a «parábola do filho pródigo». É utilizada para levar
os cristãos a terem atitudes de arrependimento pelo mal feito e a celebrarem o Sacramento
do Perdão.
Se seguirmos o texto da
parábola, como se fosse um vídeo, vemos que Jesus utilizou muitos detalhes
visuais:
o filho mais novo a pedir
a sua herança;
a sua partida para um
país distante, onde se fartou de divertir e de gastar dinheiro;
o filho na pocilga com os
porcos; depois o filho a refletir e a cair em si mesmo;
o pai a ir abraçar o
filho no seu regresso a casa;
o banquete preparado pelo
pai;
o irmão mais velho,
zangado, não quer entrar na festa; o pai que vai ao encontro do filho mais
velho.
Qual é a mensagem de
Jesus nesta parábola?
Será o perdão? Mas o pai
não disse nenhuma palavra sobre perdão ou absolvição.
Mesmo quando o irmão mais
velho resmungou com o pai por ele ter acolhido festivamente o filho mais novo,
o pai não disse nada que desculpasse o comportamento desse filho.
No final destas cenas
cheias de vida, vem a mensagem que Jesus quer que descubramos: "Este meu
filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi encontrado".
Esta frase é retomada
pelo pai quando vai ter com o filho mais velho, que repreende o seu pai por ter
tratado com tanta bondade um filho que o abandonou: «teu irmão estava morto e
voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado».
O pai lembra ao filho
mais velho que ele tem um irmão, que estava dado como morto e que afinal está
vivo.
A dádiva que o pai deu a
este filho, que o abandonou e que andou numa independência desorientada foi a
compaixão.
Podemos chamar a esta
parábola «A parábola do Pai cheio de compaixão».
A atitude de compaixão na
língua hebraica «rahamim» tem a ver com as entranhas, com seio materno, para
exprimir que a compaixão vem bem de dentro, como o amor de mãe pelo filho que
ela trouxe no seu ventre.
A compaixão é uma das atitudes
mais consoladoras e renovadoras nas vidas das pessoas.
Na parábola, a compaixão
do pai conduz à mudança de atitude e também à mudança de coração do seu filho
mais novo.
Quando ao filho mais
velho, a parábola não o diz, mas podemos esperar que também ele tenha aceitado
mudar.
Mas, a história do filho
mais novo inclui a do filho mais velho.
Este está ressentido.
Nem mesmo o regresso do
seu irmão o fará querer participar na celebração familiar.
Mas o pai vai ter com o
filho mais velho, tal como tinha ido ao encontro do mais novo.
Ele quer que ambos se
descubram como irmãos e que se alegrem com o bem um do outro.
Jesus apresenta-nos Deus
como Pai que só quer ter uma autoridade:
a da compaixão.
Esta compaixão faz com
que todas as formas de desamor e de sofrimento dos seus filhos, causem uma
imensa tristeza no seu coração.
É, por isso, que na
parábola o pai estende os braços sem se cansar
na direção dos seus
filhos, esperando que eles vão ter com Ele
e queiram participar na
alegria da festa do Amor eterno.
Na caminhada da nossa
vida, procuremos abrir em nós um espaço para a compaixão que pode mudar a
história das nossas vidas.
frei
Eugénio op