Diálogo com o Evangelho do XXXII Domingo do Tempo Comum, 10 de novembro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui. (gravado em Outubro de 2021)
EVANGELHO (Mc 12, 38-44)
Naquele tempo, Jesus sentou-Se em frente da arca do Tesouro do Templo a observar como a multidão deitava o dinheiro no cofre das ofertas.
Muitos ricos deitavam quantias avultadas.
Veio uma pobre viúva e deitou duas pequenas moedas, isto é, um quadrante.
Jesus chamou os discípulos e disse-lhes: «Em verdade vos digo: esta pobre viúva deitou na caixa mais do que todos os outros.
Eles deitaram do que lhes sobrava, mas ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver».
DIÁLOGO
Na passagem do Evangelho que lemos, Jesus estava no átrio do Templo de Jerusalém, sentado em frente do sítio no qual estava o cofre, onde os peregrinos iam deitar as suas ofertas.
Em dada altura, Jesus viu uma pobre viúva que deitou no cofre duas moedinhas.
Entre tantos peregrinos, Jesus reparou naquela pobre viúva, porque o seu olhar era cheio de amor e estava sempre atento a cada pessoa, nas situações e nos acontecimentos em que se encontravam.
O que vê Jesus naquela pobre viúva, de quem nem mesmo sabemos o nome?
Certamente vê uma mulher com uma vida muito difícil, como a das viúvas pobres, completamente dependentes de quem lhes dava guarida e alimentos, mas Jesus vê sobretudo o que é muito mais importante: que a viúva deu como oferta tudo o que tinha.
Jesus vê a viúva oferecer a Deus tudo o que tinha e declara que ela, aos olhos de Deus, deu mais do que os outros peregrinos, que davam do que lhes sobrava.
Quando Jesus chamou a atenção dos discípulos para a atitude da viúva no Templo, apresentou o valor da sua oferta, usando uma escala diferente daquela que era a habitual, que se centrava na quantidade de dinheiro entregue em donativos.
A viúva dará da sua pobreza, e Deus será «tocado» pela humildade daquela pobre mulher, que se confia totalmente ao Amor e à Misericórdia de Deus.
Jesus chamou a atenção para o gesto dela, para ensinar aos seus discípulos, que no Reino de Deus, há um modo bem diferente de valorizar as ações das pessoas.
As «balanças» de Deus são diferentes das nossas. Ele «pesa» as pessoas e as suas ações de forma diferente. Deus não «pesa» a quantidade, mas a qualidade, Ele examina o coração, Ele olha para a retidão das intenções.
A viúva no Templo é uma imagem do próprio Jesus.
Tal como Ele, ela recebeu pouca atenção das pessoas que eram importantes.
Tal como Ele, ela era suficientemente livre para dar tudo o que tinha, quer fosse ou não bem apreciado pelos outros.Deus vê a nossa humildade como um Pai misericordioso.
Tal como Jesus, os discípulos aprendem a dar-se completamente, apesar das dificuldades, hesitações e sofrimentos que esse modo de viver pode acarretar.
Também a nós, Deus dá generosamente a sua graça e os seus dons.
Ele salvou-nos gratuitamente. E nós próprios devemos fazer as coisas como uma expressão de gratuidade.
Quando somos tentados pelo desejo de contabilizar os nossos actos de altruísmo e de solidariedade, quando estamos interessados em que as pessoas valorizem o bem que fazemos aos outros, pensemos nesta viúva. Vai fazer-nos bem!Acreditar que Jesus ressuscitado também nos olha pessoalmente com amor, a cada um de nós, é um grande reconforto e estímulo.
Com Jesus, podemos aprender a dar e a dar-nos: dar tempo, dar atenção, dar ajudas, dar alegria, dar apoio, dar coragem, e tantos outros modos de dar, valorizando os outros.
Jesus olhou, e viu o melhor daquela pobre viúva!
Jesus ressuscitado olha-nos e vê o que podemos dar de melhor de nós mesmos, em cada ocasião.
frei Eugénio, op (07.11.2021)