2022-06-25

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 13º Domingo do Tempo Comum, 26 de junho, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui

 


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Evangelho (Lc 9, 51 - 62) 

Aproximando-se os dias de Jesus ser levado deste mundo, Ele tomou a decisão de Se dirigir a Jerusalém e mandou mensageiros à sua frente. 

Estes puseram-se a caminho e entraram numa povoação de samaritanos, a fim de Lhe prepararem hospedagem. 

Mas aquela gente não O quis receber, porque ia a caminho de Jerusalém. 

Vendo isto, os discípulos Tiago e João disseram a Jesus: «Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu que os destrua?». Mas Jesus voltou-Se e repreendeu-os. E seguiram para outra povoação. 

Pelo caminho, alguém disse a Jesus: «Seguir-Te-ei para onde quer que fores». 

Jesus respondeu-lhe: «As raposas têm as suas tocas, e as aves do céu os seus ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça».

Depois disse a outro: «Segue-Me». Ele respondeu: «Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar meu pai». Disse-lhe Jesus: «Deixa que os mortos sepultem os seus mortos; tu, vai anunciar o Reino de Deus». 

Disse-Lhe ainda outro: «Seguir-Te-ei, Senhor; mas deixa-me ir primeiro despedir-me da minha família». Jesus respondeu-lhe: «Quem tiver lançado as mãos ao arado e olhar para trás não serve para o Reino de Deus».

 

DIÁLOGO


2022-06-18

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui

 



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Evangelho (Lc 9, 11b-17) 

Naquele tempo, estava Jesus a falar à multidão sobre o reino de Deus e a curar aqueles que necessitavam.
O dia começava a declinar. Então os Doze aproximaram-se e disseram-Lhe: «Manda embora a multidão para ir procurar pousada e alimento às aldeias e casais mais próximos, pois aqui estamos num local deserto».
Disse-lhes Jesus: «Dai-lhes vós de comer».
Mas eles responderam: «Não temos senão cinco pães e dois peixes. Só se formos nós mesmos comprar comida para todo este povo».
Eram, de facto, uns cinco mil homens. Disse Jesus aos discípulos: «Mandai-os sentar por grupos de cinquenta».
Eles assim fizeram, e todos se sentaram.
Então Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao Céu e pronunciou sobre eles a bênção.
Depois partiu-os e deu-os aos discípulos, para eles os distribuírem pela multidão.
Todos comeram e ficaram saciados; e ainda recolheram doze cestos dos pedaços que sobraram.

 

DIÁLOGO

Acabámos de ler o Evangelho desta festa que depois do Concílio Vaticano II (1962-1965) é chamada do "Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo", mas que é mais conhecida em Portugal e no Brasil por "Corpo de Deus". Esta festa foi aprovada em 1264, para ser celebrada na quinta-feira a seguir ao Pentecistes, como acontece em Portugal, mas não na Bélgica, que foi celebrada no Domingo passado.

Além da festa litúrgica, dentro das igrejas foi acrescentada uma procissão solene, onde é levado em grande destaque o “Santíssimo Corpo de Cristo”. A procissão dava lugar, como acontecia no tempo do rei D. Manuel I, a manifestações teatrais e a jogos de danças que se juntavam aos cortejos solenes. Nalguns países a festa tornou-se tão popular que passou a ser feriado nacional.

O Evangelho relata a tradicionalmente chamada "multiplicação dos pães", da qual há seis versões nos quatro Evangelhos, o que mostra a importância deste relato na vida de Jesus.

Para reforçar a importância deste "sinal dos pães multiplicados que saciaram a fome da multidão" os evangelistas vão situá-lo num momento decisivo da vida de Jesus. É a altura em que as autoridades religiosas judaicas vão reforçar a sua oposição à pregação de Jesus, procurando o modo de o prender e condenar.

É também a época em que o povo que o ouvia com entusiasmo inicial, começava a ficar dececionado por Jesus não se manifestar como Messias salvador político do povo judeu sob o domínio imperial romano.

É também o momento em que os seus discípulos mais próximos deviam decidir se queriam continuar a seguir Jesus ou não.

Como sabemos, desde o inicio da sua pregação em Nazaré, Jesus anunciava que vinha iniciar uma nova forma de Deus reinar sobre a humanidade. Jesus foi pondo em prática os sinais desse novo modo de reinar, a começar pelos cuidados e pela atenção a ter com os mais frágeis e dependentes da sociedade, praticando uma original forma de amor, no qual cada pessoa tem valor e é importante para Deus.

Ao saciar a fome da multidão, com tal abundância que até sobraram 12 cestos de pão, Jesus mostra que o Amor de Deus é superabundante e que Deus como Pai não quer que nenhum dos seus filhos e filhas fique com fome de Amor.

Quando Jesus diz aos discípulos: " dai-lhes vós de comer" esta a implicar os seus discípulos nesta tarefa de saciar de amor as pessoas, com gestos concretos. Podemos, assim, entender a importância deste relato para todos os tempos dos cristãos: Jesus convida-nos, mais que convidar, pede-nos que continuemos com Ele e à maneira d'Ele a termos gestos de amor concreto para que ninguém fique com fome de Amor.

A festa do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo é muito mais do que as magnificas procissões que se fazem neste dia em muitos países e as celebrações de adoração do Santíssimo Sacramento, com decorações cheias de flores.

É bom termos presente que o convite litúrgico, nas Eucaristias: "Felizes os convidados para a Ceia do Senhor" no momento que precede a comunhão se refere à Ceia da Vida Eterna, imagem do Reino inaugurado por Jesus Ressuscitado, onde a morte, o desamor e o sofrimento foram vencidos para sempre.

Podemos terminar este diálogo com a oração: 

"O Deus, nosso Pai, olha para mim, para todos os fiéis aqui presentes e para todas as comunidades cristãs espalhadas pelo mundo, dá-nos a graça de unirmos as nossas vidas, sempre e em todo o lado, ao dom da Tua comunhão connosco através do Teu Filho Jesus e do Teu Espírito. Dá-nos a graça de vivermos na doação aos outros, na partilha do que somos e do que temos e em ação de graças. Ámen."

 

    frei Eugénio op

 

2022-06-10

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho de Domingo da Santíssima Trindade, 12 de junho, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui. 

 

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Evangelho (Jo 16, 12-15) 

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Tenho ainda muitas coisas para vos dizer, mas não as podeis compreender agora. 

Quando vier o Espírito da verdade, Ele vos guiará para a verdade plena; porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que há de vir. 

Ele Me glorificará, porque receberá do que é meu e vos há de anunciá-lo. 

Tudo o que o Pai tem é meu. Por isso vos disse que Ele receberá do que é meu e vos há de anunciá-lo».

2022-06-05

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho de Domingo de Pentecostes, 5 de junho, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui

 


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Evangelho (Jo 20, 19-23)

Na tarde daquele dia, o primeiro da semana,

estando fechadas as portas da casa

onde os discípulos se encontravam,

com medo dos judeus,

veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes:

«A paz esteja convosco».

Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado.

Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor.

 

Jesus disse-lhes de novo:

«A paz esteja convosco.

Assim como o Pai Me enviou,

também Eu vos envio a vós».

 

Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes:

«Recebei o Espírito Santo:

àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados;

e àqueles a quem os retiverdes serão retidos».

Palavra da salvação.

 

DIÁLOGO

 

Como sabemos pelo relato de Lucas, no Livro dos Atos dos Apóstolos, os próprios  apóstolos ficaram impressionados com o facto de poderem falar com tão grande variedade de povos: partos, medos, elamitas, (presentemente todos iranianos); com os habitantes da Mesopotâmia, (hoje, Iraque), com pessoas da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, (todos habitantes da Turquia atual); com gente do Egipto e das regiões da Líbia, vizinha de Cirene,( povos africanos), além da população romana espalhada pelo império.

 

Os discípulos começaram a pregar a essa multidão internacional e todos compreendiam o que eles lhes estavam a dizer! 

 

Uma situação espantosa, um milagre que iria levá-los bem para lá do mundo que conheciam; nunca tinham imaginado ir tão longe.

 

O milagre evidente era que eles eram capazes de falar de Jesus de uma forma que atraía pessoas de diferentes culturas e línguas, podendo, assim, partilhar a fé. 

 

O grande milagre era que se estavam a conseguir criar uma comunidade de pessoas genuinamente diversas, mulheres e homens, de toda e qualquer cultura. 

 

Estavam a começar a tornar-se uma comunidade «católica», isto é, universal.

 

Na passagem do Evangelho de João que lemos, o Pentecostes, que é a grande dádiva de Jesus Ressuscitado do Seu próprio Espírito à comunidade, aconteceu no dia da Ressurreição e não cinquenta dias depois da Páscoa de Jesus, como estamos a celebrar na Liturgia.

 

O relato tem a forma habitual das discrições das aparições de Jesus Ressuscitado :

- é Jesus que toma a iniciativa;

- faz-se reconhecer pelos discípulos;

- confia-lhes uma missão.

 

Como João conta, Jesus tornou-se presente no meio dos discípulos e saudou-os com Shalom - a Paz esteja convosco.

O relato não pretende dizer que Jesus atravessava as portas, mas que Jesus é capaz de se tornar presente aos seus discípulos por iniciativa sua, quando e onde Ele quer.

 

Jesus Ressuscitado pode estar junto dos seus discípulos em todas as circunstâncias, como diz o texto: «veio Jesus, colocou-Se no meio deles» !

Estas palavras de Jesus não são uma saudação habitual, como o faziam os judeus quando se encontravam: «chalôm».

 

Jesus, muito mais do que saudar, quer dar, de facto, o próprio dom da Sua Paz, como já tinha dito no seu discurso de adeus aos discípulos: «Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo--la dou como o mundo a dá. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração.» (Jo 14, 27)

 

Depois, tendo-os alertado para a grande dificuldade de serem colaboradores do amor de Deus, disse: «Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós».

 

Fazendo uma encenação tirada do relato da criação (Génesis 1,26 e 2,7), Jesus soprou sobre eles, dizendo: "Recebei o Espírito Santo". 

 

Enquanto que no Génesis, a vocação humana era apresentada como sendo mordomos de toda a criação, Jesus resumiu a missão com o único mandamento do perdão. O perdão, dado e pedido, é o carisma chave das pessoas que querem ser seus discípulos.

 

Uma vez recebido o Seu próprio Espírito, eles foram capazes de levar a cabo a missão que lhes era confiada.

 

A segunda metade da frase de Jesus: «àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados;

e àqueles a quem os retiverdes serão retidos», foi interpretada ao longo dos tempos de formas diferentes, por vezes contraditórias.

Podia ter sido um aviso de Jesus que a falta de perdão deixa o mundo num estado de caos.

 

A festa de Pentecostes desafia a nossa esperança e a nossa fé.

Estaremos dispostos a sermos levados para além dos nossos mundos culturalmente confortáveis, para formar comunidades que incluam tal diversidade, assim como pontos de vista tão diferentes?

Queremos aprender a viver exercendo os carismas da humildade, do humor e do perdão?

 

Para que a missão do Pentecostes se enraíze em nós, partilho convosco esta belíssima oração de Santa Catarina de Sena ao Espírito Santo:

 

Ó Espírito Santo, vinde a meu coração,

Deus verdadeiro atrai-me a Ti com bondade,

concede-me a caridade.

Preserva-me de todo o pensamento mau,

aquece-me e abrasa-me com o teu Amor,

a fim de que todo o fardo me pareça leve.

Meu santo Pai e doce Senhor meu,

auxilia-me em todas as minhas obras.

Cristo Amor! Cristo Amor!

 

 frei Eugénio, op

 

2022-05-28

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do Domingo da Ascensão, 29 de maio, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui

 


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Evangelho (Lc 24, 46-53) 

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Está escrito que o Messias havia de sofrer e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia e que havia de ser pregado em seu nome o arrependimento e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. 

Vós sois testemunhas disso. 

Eu vos enviarei Aquele que foi prometido por meu Pai. Por isso, permanecei na cidade, até que sejais revestidos com a força do alto». 

Depois, Jesus levou os discípulos até junto de Betânia e, erguendo as mãos, abençoou-os. 

Enquanto os abençoava, afastou-Se deles e foi elevado ao Céu. 

Eles prostraram-se diante de Jesus, e depois voltaram para Jerusalém com grande alegria.

E estavam continuamente no Templo, bendizendo a Deus.

 

DIÁLOGO

Caros leitores, alguma vez imaginaram a cena da Ascensão?

Como se teriam sentido se lá tivessem estado ?

Como em qualquer experiência de um grupo de pessoas, existem diferentes versões do que se passou.

No Novo Testamento, Lucas, apresenta duas versões da Ascensão de Jesus: uma no final do seu Evangelho, que acabamos de ler, e outra no começo  nos Atos dos Apóstolos (Act 1, 6-11), onde nos dá mais detalhes.

 

Tal como os discípulos após a Ascensão, também nós, nas nossas vidas e em acontecimentos, tivemos  momentos de certeza, de reconhecimento do Amor de Jesus Ressuscitado e da presença de Deus Pai.

Mas noutras ocasiões perguntámos porque é que Deus parece ter desaparecido, porque está ausente ao que se está a passar.

E questionamos porque deixa a um grupo tão insignificante de seguidores levar a cabo a missão de dar a conhecer em todos os tempos e lugares, o Seu Amor por nós.

 

Vale a pena referir que os psicólogos  atribuem uma importância simbólica a «subir» (ou «para cima») e a «descer» (ou «para baixo»).

É, por isso, importante refletirmos sobre o significado simbólico de «afastou-Se deles e foi elevado ao Céu».

 

Seremos menos tentados a equacionar a Ascensão como uma subida à estratosfera, se nos recordarmos como pensava o piloto soviético Yuri Gagarin que foi o primeiro astronauta a voar para o espaço em Abril de 1961 e a fazer uma orbita completa da Terra.

Após a sua descida, de novo na Terra, segundo testemunhas teria dito: "Eu estive no céu e olhei para todo o lado e não vi Deus. Deus não existe!»

 

A presença de Jesus era, até então, limitada àquelas e àqueles  que se podiam aproximar fisicamente dele, ver os seus gestos e atitudes, ouvir as suas palavras, tocá-lo mesmo.

 

Ter sido «elevado ao Céu» não significa que se tenha estabelecido uma distância infinita entre «a morada de Deus» e a Terra onde habitamos.

Jesus Ressuscitado, segundo o Novo Testamento, tornou-se Senhor de toda a criação material e espiritual, tornando-se igual a Deus, estando presente em todas as partes do universo e a cada um de nós, pela fé.

 

A Ascensão convida-nos a compreender que a «partida» de Jesus Ressuscitado, «elevado até ao Céu» não é uma ausência, mas sim uma presença sem limites de fronteiras nem de tempo nem de espaço, que se pode multiplicar muitíssimas  vezes, pela fé.

 

Através da Ascensão, os Apóstolos, e nós com eles, atingimos um novo modo de presença, através de uma ausência.

A nossa missão de cristãos  é dar testemunho desta presença de Deus Amor, a presença real do Amor de Deus.

 

Uma rápida análise dos factos que se passaram indica que, para os Apóstolos, a Ascensão foi um momento maravilhoso na  história do seu encontro com Jesus.

O Mestre, que eles tinham conhecido como o carpinteiro de Nazaré e o pregador itinerante na Palestina, tinha-se tornado o «Imperador» do Céu, se assim podemos dizer.

 

Foi também o início das suas próprias «aventuras» missionárias.

Precisavam de dar testemunho com atitudes, gestos, olhares, palavras de amor que elevam, que dignificam, que apoiam os outros.

Nós, nos momentos e nos lugares onde estamos a viver, devemos testemunhar também pela fé, que todos esses gestos e atitudes de amor ao próximo na suas mais variadas ocasiões têm como fonte o Amor de Deus, que nos impele a fazê-lo.

Mas isto requer atenção aos outros e criatividade.

Se tivermos uma vida cheia de rotinas, sem grande espaço livre para além das obrigações e se não temos um temperamento criativo ?

Temos uma fonte que Jesus Ressuscitado nos deixou: o  Espírito Santo.

É o seu Espírito que nos torna criativos, se estamos disponíveis às suas inspirações.

 

 Jesus Ressuscitado venceu a morte para sempre e Ele está vivo.

A sua presença é acessível a todos aqueles que o reconhecem na fé como o Senhor das suas vidas e como Aquele que  foi enviado por Deus Pai para a salvação da humanidade.

Este mistério da Ascensão não nos afasta da realidade humana em que vivemos, nem nos leva a um mundo virtual, mas envia-nos de volta à Terra, a nossa «casa comum».

 

Através da Ascensão, os Apóstolos e nós com eles atingimos um novo modo de presença, através de uma ausência.

É como se Jesus nos dissesse : «Vou-me embora, mas fico convosco!»

 

frei Eugénio

 

2022-05-20

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 6º Domingo da Páscoa, 22 de maio, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui

 


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Evangelho (Jo 14, 23-29) 

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 

«Quem Me ama guardará a minha palavra, e meu Pai o amará;
Nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada.
Quem Me não ama, não guarda a minha palavra.
Ora, a palavra que ouvis não é minha, mas do Pai que Me enviou.
Disse-vos estas coisas enquanto estava convosco.
Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome,
vos ensinará todas as coisas e vos recordará tudo o que Eu vos disse.
Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz.
Não vo-la dou como a dá o mundo.
Não se perturbe nem se intimide o vosso coração.
Ouvistes que Eu vos disse: vou partir, mas voltarei para junto de vós.
Se Me amásseis, ficaríeis contentes por Eu ir para o Pai, porque o Pai é maior do que Eu.
Disse-vo-lo agora, antes de acontecer, para que, quando acontecer, acrediteis».

 

DIÁLOGO

 

 



 


2022-05-05

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 4º Domingo da Páscoa, 8 de maio, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui

 


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Evangelho (Jo 10, 27-30)


Naquele tempo, disse Jesus: «As minhas ovelhas escutam a minha voz. Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me.
Eu dou-lhes a vida eterna e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão.
Meu Pai, que Mas deu, é maior do que todos, e ninguém pode arrebatar nada da mão do Pai.
Eu e o Pai somos um só».
 
DIÁLOGO
 
 

2022-04-30

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 3º Domingo da Páscoa (São José Operário), 1 de maio, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui

 


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Evangelho (Jo 21, 1-14) 

 

Naquele tempo, Jesus manifestou-Se outra vez aos seus discípulos, junto do mar de Tiberíades. Manifestou-Se deste modo:

Estavam juntos Simão Pedro e Tomé, chamado Dídimo, Natanael, que era de Caná da Galileia, os filhos de Zebedeu e mais dois discípulos de Jesus.
Disse-lhes Simão Pedro: «Vou pescar». Eles responderam-lhe: «Nós vamos contigo». Saíram de casa e subiram para o barco, mas naquela noite não apanharam nada.
Ao romper da manhã, Jesus apresentou-Se na margem, mas os discípulos não sabiam que era Ele.
Disse-lhes Jesus: «Rapazes, tendes alguma coisa que comer?». Eles responderam: «Não».
Disse-lhes Jesus: «Lançai a rede para a direita do barco e encontrareis». Eles lançaram a rede e já mal a podiam arrastar por causa da abundância de peixes.
O discípulo predileto de Jesus disse a Pedro: «É o Senhor». Simão Pedro, quando ouviu dizer que era o Senhor, vestiu a túnica, que tinha tirado, e lançou-se ao mar.
Os outros discípulos, que estavam apenas a uns duzentos côvados da margem, vieram no barco, puxando a rede com os peixes.
Quando saltaram em terra, viram brasas acesas com peixe em cima, e pão.
Disse-lhes Jesus: «Trazei alguns dos peixes que apanhastes agora».
Simão Pedro subiu ao barco e puxou a rede para terra, cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes; e, apesar de serem tantos, não se rompeu a rede.
Disse-lhes Jesus: «Vinde comer». Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar-Lhe: «Quem és Tu?», porque bem sabiam que era o Senhor.
Jesus aproximou-Se, tomou o pão e deu-lho, fazendo o mesmo com os peixes.
Esta foi a terceira vez que Jesus Se manifestou aos seus discípulos, depois de ter ressuscitado dos mortos.

 

DIÁLOGO

 

Na passagem do Evangelho de João que acabamos de ler, os discípulos tinham deixado Jerusalém e seus arredores, onde tinham vivido os últimos momentos com Jesus e também onde beneficiaram das primeiras aparições do Ressuscitado.

Já não estão em Jerusalém, mas na Galileia.

 

Retomaram as suas ocupações habituais. Alguns voltaram a pescar. 

 

O encontro com Jesus na margem do lago, tanto para Pedro como para os outros companheiros, não é uma ocasião de dar testemunho, mas sim um momento de familiaridade e grande proximidade com Jesus Ressuscitado.

 

A cena que nos é contada, mostra Jesus a dirigir-se aos discípulos num tom muito familiar: «Rapazes, tendes alguma coisa de comer?»

Depois, quando chegam a terra, veem um fogo de brasas com peixe, e algum pão.

E Jesus convida-os a almoçar com Ele.

 

Esta é uma cena que nos toca profundamente, na sua simplicidade.

Não é uma aparição onde a luz brilha, onde o rosto de Jesus está iluminado, onde as suas roupas são mais brancas do que a neve.

Não, trata-se de gestos e de palavras da vida quotidiana.

 

O Ressuscitado mostra-se aos discípulos e aproxima-se deles como o fazia nos dias da sua vida terrena.

A relação dos discípulos com Jesus Ressuscitado não está perdida depois da sua morte, mas transformada.

 

É por isso que o autor do Evangelho escreve que "esta foi a terceira vez que Jesus ressuscitado dos mortos, se manifestou aos seus discípulos".

As aparições de Jesus Ressuscitado são todas manifestações de uma nova presença que os discípulos experimentam.

 

Os pormenores do relato evangélico têm por objetivo fazer-nos compreender que esta presença do Ressuscitado, mesmo que seja diferente da sua presença terrena, é uma presença igualmente real, uma presença que podemos de facto experimentar na nossa vida quotidiana.

 

Não temos de deixar as nossas ocupações habituais para nos encontrarmos com Jesus Ressuscitado.

Tal como os discípulos, podemos encontrá-Lo nas atividades que preenchem os nossos dias: no trabalho e no descanso, no silêncio e em conversas com o outros, diretamente ou pelo smartfone, porque não através do WhatsApp  ou no Facebook ?

Jesus Ressuscitado, como Ele próprio disse, está presente sempre que dois ou três estão reunidos em Seu nome, ou nas mais variadas situações com crianças, jovens, adultos ou idosos e sempre também quando estamos em família.  

De facto, Jesus Ressuscitado continua a manifestar-se no nosso mundo e nas nossas vidas, como o fez com os discípulos à beira do lago, sentado, com as brasas prontas para assar os peixes.

 

Jesus também espera pelas nossas atitudes e respostas de amor e de fé.

Ele também nos diz a cada um de nós: «Tragam alguns desses peixes que acabaram de apanhar», «Venham comer comigo».

 

Esta época pascal favorece o estarmos profundamente envolvidos pela presença de Jesus Ressuscitado, Aquele que está vivo ontem, hoje e amanhã.

Mesmo quando a sua presença parece desaparecer, não devemos deixar-nos desencorajar.

 

Jesus Ressuscitado quer estar sempre presente connosco.

 

O evangelista João termina esta narrativa com um simples resumo: «Esta foi a terceira vez que Jesus se manifestou aos seus discípulos, depois de ter ressuscitado dos mortos.»

 

O Senhor Ressuscitado não deixa os seus filhos como órfãos, mas dá-lhes o Seu poder para continuarem a sua missão de darem a conhecer e a viverem com fé o poder do Amor de Deus.

 

Tal como aos apóstolos, Jesus dá-nos a missão de fazermos o nosso melhor para ajudarmos cada pessoa que encontramos ou com quem convivemos, a ter uma vida que valha a pena ser vivida, seguindo o estilo e o modo de ser de Jesus.

Deixemos que as nossas vidas sejam transformadas em Jesus Ressuscitado, o Senhor da Vida.

 

frei Eugénio, op



2022-04-23

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 2º Domingo de Páscoa (da Misericórdia), 24 de abril, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui

 


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Evangelho (Jo 29, 19-31) 

 

Na tarde daquele dia, o primeiro da semana,

estando fechadas as portas da casa

onde os discípulos se encontravam,

com medo dos judeus,

veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes:

«A paz esteja convosco».

Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado.

Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor.

Jesus disse-lhes de novo:

«A paz esteja convosco.

Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós».

Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes:

«Recebei o Espírito Santo:

àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados;

e àqueles a quem os retiverdes serão retidos».

Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo,

não estava com eles quando veio Jesus.

Disseram-lhe os outros discípulos:

«Vimos o Senhor».

Mas ele respondeu-lhes:

«Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos,

se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado,

não acreditarei».

Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa

e Tomé com eles.

Veio Jesus, estando as portas fechadas,

apresentou-Se no meio deles e disse:

«A paz esteja convosco».

Depois disse a Tomé:

«Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos;

aproxima a tua mão e mete-a no meu lado;

e não sejas incrédulo, mas crente».

Tomé respondeu-Lhe:

«Meu Senhor e meu Deus!»

Disse-lhe Jesus:

«Porque Me viste acreditaste:

felizes os que acreditam sem terem visto».

Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos,

que não estão escritos neste livro.

Estes, porém, foram escritos

para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus,

e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.



 

DIÁLOGO

Devo dizer-lhes que há muito tempo que tenho uma admiração especial por São Tomé, o Apóstolo.

 

Mas pobre Tomé! Habituámo-nos a vê-lo como um exemplo do ceticismo e das dúvidas de fé. Como diz o ditado: «Ver para crer, como São Tomé!»

 

Tantas pregações, como pinturas famosas, mostraram-no a colocar o dedo na ferida feita pela lança no peito de Jesus e por isso temos dificuldade em vê-lo de outra forma. 

 

Na tradição evangélica, o tema da dúvida faz parte integrante das aparições de Jesus Ressuscitado e do caminho de fé que elas exigem.

Até que os discípulos reconhecessem que Aquele que lhes apareceu depois da morte na cruz e de ter sido colocado num sepulcro é o próprio Jesus de Nazaré que conheceram e seguiram, são precisas várias etapas.

Este tema tradicional da dúvida como etapa da fé, está perfeitamente ilustrado na aparição de Jesus Ressuscitado a Tomé, que nos relata o Evangelho de hoje.

 

No Evangelho de João, o apóstolo Tomé já era um personagem com certo relevo.

Foi ele que tinha incitado os seus companheiros a enfrentarem, se necessário, a morte quando Jesus ressuscitou Lázaro, que já estava morto há vários dias (Jo 11,16).

Tinha sido também Tomé que tinha interrogado Jesus em nome dos apóstolos, quando Este lhes falou dum caminho que deviam seguir, sem lhes ter indicado, de modo claro, que esse Caminho era Ele próprio, Jesus. (Jo 14,5).

Assim, Tomé não é um descrente e um incrédulo como é frequentemente apresentado. Pelo contrário, Tomé é o discípulo que se encaminha com passos firmes até uma fé autêntica.

 

Os evangelistas quiseram revelar-nos um aspeto essencial da fé pascal. Esta não é o fruto de uma fácil exaltação, correspondente ao gosto pelo espetacular e pelo maravilhoso. Segundo o evangelista João, este gosto é mesmo o principal obstáculo à compreensão do significado dos «sinais» operados por Jesus.

Há sempre o perigo de se ficar preso na materialidade dos «sinais» sem se compreender que eles se referem a outra realidade invisível.

João quer mostrar-nos, através do seu Evangelho, como Jesus queria, através de "sinais" visíveis e tangíveis, levar as pessoas a descobrir, nas suas próprias vidas, o significado desses sinais, para as levar a descobrirem, na fé, o Mistério da Sua Pessoa e da Sua Missão.

 

A fé pascal é uma vitória que o próprio Ressuscitado teve de conquistar sobre as dúvidas que paralisavam os seus mais próximos e os seus seguidores.

 

Jesus é também Aquele que conhece os desejos mais íntimos e secretos de cada pessoa.

Quanto a Tomé, Jesus foi o primeiro a "ver" no coração dele o desejo profundo que ele tinha de O encontrar e de n’Ele confiar.

 

Parece que esta subtileza da narrativa de João escapou a numerosos pregadores e a célebres pintores, que afirmaram e representaram Tomé a tocar na ferida do peito de Jesus Ressuscitado, para se certificar de que era mesmo Ele.

Mas o evangelista João não nos diz nada disso. Basta verificar o texto.

 

O evangelista nunca poderia ter considerado correta a atitude de Tomé, se ela tivesse consistido numa verificação sensível, tocando na ferida que a lança tinha aberto no peito de Jesus crucificado.

Se assim fosse, nunca João poderia ter colocado nos lábios de Tomé a extraordinária profissão de fé que lemos: «Meu Senhor e meu Deus!»

Tomé une «Senhor» (Kyrios /Yahweh) com «Deus» (Theos / Elohim).

Tomé é o primeiro a descobrir que podemos dar a Jesus Ressuscitado os títulos que a Bíblia reservava com grande exclusividade somente a Deus, o Santo e o Eterno.

Nos quatro Evangelhos, Tomé é o único a pronunciar uma tal invocação: «Meu Senhor e meu Deus!».

Mas o relato de João permite-nos descobrir que não é só em seu próprio nome que o apóstolo exclama: «Meu Senhor e meu Deus!». Através dele, é toda a comunidade crente, que faz a mesma proclamação de fé.

 

Pessoalmente, adotei a tradição muito bela e significativa que vivi pela primeira vez na ilha de São Tomé, em África.

Nas Missas, quando no momento do relato da Última Ceia, o celebrante eleva durante uns momentos o Corpo e o Sangue de Jesus Resuscitado, tanto o que preside como toda a assembleia, proclamam em alta voz o ato de fé de Tomé, o Apóstolo: «Meu Senhor e Meu Deus!».

Que emocionante ato de fé!

Com esta proclamação, estamos a pedir ao Senhor Jesus Ressuscitado que permita que Ele se torne verdadeiramente o Senhor de todas as facetas das nossas vidas.

Que mais e melhor podemos desejar e pedir?

 

 

 frei Eugénio op