2023-05-26

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do Domingo de Pentecostes, 28 de maio, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.



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EVANGELHO (Jo. 20, 19-23)

Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco».
Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor.
Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós».
Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo;
àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos». 

 

DIÁLOGO

Hoje, celebramos o Pentecostes, a festa do Espírito de Deus que enche a terra com todas as suas criaturas e culturas.

A que é que esta festa nos convida?

João, no seu Evangelho, que lemos começa por abrir uma janela para o que parece ser a sala onde os discípulos tinham recentemente celebrado a Páscoa com Jesus.

Mas agora, depois da sua morte, tinham fechado as portas à chave e tinham-se reunido com medo.

Sem aviso prévio, Jesus aparece no meio deles e diz-lhes «shalom».

Mostrando-lhes as marcas das suas feridas, voltou a dizer-lhes  «A paz esteja convosco».

Depois, resumindo o que tinha dito durante a última ceia, Jesus soprou o seu Espírito sobre eles e encarregou-os de prosseguir a sua própria vocação.

Assim começou uma incrível aventura de séculos de alargamento de horizontes.

Começando com a incrível experiência dos discípulos de poderem contar a história de Jesus a judeus "de todas as nações debaixo do céu", esta aventura continuaria durante anos, enviando discípulos a todos os povos e culturas do mundo.

Embora impulsionada pelo Espírito Santo, esta aventura evangélica nunca foi fácil.

Em cada novo passo do caminho, os cristãos precisavam de alargar a sua visão, questionar os seus conceitos dogmáticos e pedir orientação ao Espírito de Deus.

O grande teólogo do século XX, Karl Rahner, comentou que, depois dos acontecimentos da vida de Jesus e depois do Pentecostes se ter concretizado no "Concílio de Jerusalém" (Actos 15,1-31), o próximo grande passo para a comunidade cristã só aconteceu quando o Concílio Vaticano II, em 1962-65, abriu a Igreja ao mundo moderno e a todas as suas culturas.

O que é que o Pentecostes significa hoje?

No século XXI, quando se pode ir a todas as partes da Terra e que todas as línguas podem ser traduzidas rapidamente, o Papa Francisco diz-nos na Encíclica «Fratelli Tutti» sobre a fraternidade humana, que é tempo de apreciar a inevitável "e abençoada consciência de que somos todos parte uns dos outros" e que "já não podemos pensar em termos de 'eles' e 'aqueles', mas apenas de «nós».

Ao celebrarmos o Espírito de Deus presente em toda a criação, abandonemos as nossas mentalidades fechadas e aventuremo-nos em diálogos e encontros que alarguem a mente e a alma com a variedade maravilhosa das manifestações do Espírito Santo no nosso mundo.

O Pentecostes começou  há dois mil anos, mas continua a realizar-se entre nós, nos nossos dias!
 

Partilho convosco esta meditação que Inácio de Latakia,
Metropolita Ortodoxo disse na Assembleia Mundial das Igrejas, 1968
:
 
Sem o Espírito Santo, Deus está longe,

Cristo permanece no passado,

o Evangelho é uma letra morta,
a Igreja é uma mera organização,
autoridade é domínio,
a missão é propaganda,
o culto uma evocação,
e a acção cristã uma moral de escravos.
 

Mas no Espírito Santo:
o cosmos ergue-se e geme
       no nascimento do Reino,
Cristo Ressuscitado está presente,
o Evangelho é a força da vida,
a Igreja significa a comunhão trinitária,
a autoridade é um serviço libertador,
a missão é um Pentecostes,
a liturgia é memorial e antecipação,
a acção humana é deificada.


                   frei Eugénio, dominicano

 

2023-05-20

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do Domingo da Ascensão do Senhor, 21 de maio, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.

 


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EVANGELHO (Mt. 28, 16-20)

Naquele tempo, os onze discípulos partiram para a Galileia, em direção ao monte que Jesus lhes indicara.
Quando O viram, adoraram-no; mas alguns ainda duvidaram.
Jesus aproximou-Se e disse-lhes: «Todo o poder Me foi dado no Céu e na Terra.
Ide e ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a cumprir tudo o que vos mandei. Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos».
 
 
DIÁLOGO

Já alguma vez imaginaram que também estavam presentes quando aconteceu a Ascensão?

Como se teriam sentido se tivessem estado lá?

Provavelmente a Ascensão ia-nos aparecer como uma separação, um afastamento.

Como discípulos de Jesus, recordaríamos com alegria o entusiasmo que a sua pregação nos tinha despertado, o seu modo muito próprio de viver.

Também teríamos presente a sua última semana de vida tão dramática, com a sua paixão e crucifixão, seguida da sua morte  e da sepultura do seu corpo no túmulo.

Também iríamos recordar os fantásticos encontros que tivemos com Jesus Ressuscitado quando nos apareceu, depois da sua ressurreição.

Como em qualquer experiência de um grupo de pessoas, contaríamos de formas diferentes o que teríamos vivido.

No Novo Testamento, há várias versões da Ascensão.
 
No Evangelho de Mateus, que acabámos de ler, há apenas um breve relato que, em vez de descrever a "ascensão" de Jesus, salienta a situação adquirida pela exaltação de Jesus, ou seja, a presença continuada que ele promete: "E eis que estou convosco todos os dias, até ao fim dos tempos".

Já a versão de Marcos apresenta uma afirmação fundamental (Mc 16,19):

«O Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi elevado ao céu

e sentou-se à direita de Deus.»

O "sentar-se à direita do Pai" significa a inauguração do reinado do Messias.

Esta designação simbólica é entendida como a glória e a honra da divindade.

O Mestre, que os discípulos tinham conhecido na Palestina como o carpinteiro de Nazaré, tinha-se tornado o Rei do Céu.

Recorde-se que os psicólogos são unânimes em reconhecer o valor simbólico do "subir" e do "descer".

Quando dizemos que alguém «subiu na vida» ou que «subiu na carreira profissional», não pretendemos dizer que ela ou ele passaram a deslocar-se mais alto que os outros, mas que passaram a ter posições com maiores benefícios ou com maior responsabilidade.

Por isso, é importante compreendermos o significado simbólico de «subir ao céu».

Assim, seremos menos tentados a equiparar a ascensão a uma subida à estratosfera e a pensar, como o astronauta Youri Gagarin que, segundo consta, teria dito que não tinha encontrado Deus quando se encontrava acima da atmosfera terrestre.

«Subir ao céu » não significa que se tenha estabelecido uma distância entre o céu e a terra, mas sim que o Ressuscitado, que se tornou Senhor, igual a Deus, está presente em todos os pontos do universo e em cada um de nós.

Uma das dificuldades que temos em partilhar ou dialogar sobre a Ascensão é o facto de usarmos frequentemente a linguagem do lugar para falar do «Céu».

Sabemos que o Céu não é um lugar enquanto tal, mas um tipo particular de realidade ou estado de perfeita comunhão de Amor e de Vida com a Trindade, como diz o Catecismo da Igreja Católica (cf. CIC, 1024).

O Evangelho de Mateus põe em relevo a exaltação acima de todos os Céus, quando Jesus diz aos discípulos: “Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos" (Mat, 28, 20) como lemos no final do Evangelho.

Neste modo de encarar a «ascensão», longe de descrever a "subida", é sublinhada a situação adquirida no Alto dos Céus, a partir da qual a terra é submetida como um todo à poderosa presença do Senhor Jesus.

É uma partida que cria uma ausência, mas é também cheia de promessas para o futuro.

Esta partida na Ascensão abre as portas a uma nova forma de presença aberta e universal do Mestre.

Todos podem  encontrar o Ressuscitado.

A nossa missão de discípulos de Jesus é testemunhar esta presença real do Amor de Deus.

Temos que testemunhar com atitudes, gestos, olhares, palavras de amor que acalmam e elevam, e ao mesmo tempo dizer que descobrimos, pela fé, que há uma fonte de Amor Humano que nos estimula a fazer isso.

Isto exige criatividade da nossa parte.

Temos uma fonte que Jesus nos ofereceu: o seu Espírito.

É o seu Espírito que nos torna criativos.

Na Ascensão de Nosso Senhor, encontramos a bússola da nossa vida: vemos agora para onde podemos e devemos ir.

 
         frei Eugénio, dominicano

2023-05-13

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 6º Domingo de Páscoa, 14 de maio, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.

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EVANGELHO (Jo. 14, 21-29)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Se Me amardes, guardareis os meus mandamentos.
E Eu pedirei ao Pai, que vos dará outro Paráclito, para estar sempre convosco:
Ele é o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não O vê nem O conhece, mas que vós conheceis, porque habita convosco e está em vós.
Não vos deixarei órfãos: voltarei para junto de vós.
Daqui a pouco o mundo já não Me verá, mas vós ver-Me-eis, porque Eu vivo e vós vivereis.
Nesse dia reconhecereis que Eu estou no Pai e que vós estais em Mim e Eu em vós.
Se alguém aceita os meus mandamentos e os cumpre, esse realmente Me ama. E quem Me ama será amado por meu Pai, e Eu amá-lo-ei e manifestar-Me-ei a ele».

 

DIÁLOGO

 

 


2023-05-08

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 5º Domingo de Páscoa, 7 de maio, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.  (ainda não disponível)

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EVANGELHO (Jo. 14, 1-12)

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: "Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus, tende fé em mim também. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, eu vos teria dito. Vou preparar um lugar para vós, quando eu tiver ido preparar-vos um lugar, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que onde eu estiver estejais também vós. E, para onde eu vou, vós conheceis o caminho”.
Tomé disse a Jesus: “Senhor, nós não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?” Jesus respondeu: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim. Se vós me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai. E desde agora o conheceis e o vistes”.
Disse Felipe: “Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta!” Jesus respondeu: “Há tanto tempo estou convosco, e não me conheces, Felipe? Quem me viu, viu o Pai. Como é que tu dizes: ‘Mostra-nos o Pai’? Não acreditas que eu estou no Pai e o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo, mas é o Pai, que, permanecendo em mim, realiza as suas obras. Acreditai-me: eu estou no Pai e o Pai está em mim. Acreditai, ao menos, por causa destas mesmas obras. Em verdade, em verdade vos digo, quem acredita em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas. Pois eu vou para o Pai”.

 

DIÁLOGO

No Evangelho que acabamos de ler, os discípulos ouviram Jesus Ressuscitado que lhes tinha aparecido, a dizer que iria partir para lhes preparar um lugar junto de Deus Pai. Disse-lhes que não ficassem aflitos porque havia de vir buscá-los. Eles não entenderam muito bem e Jesus, então, fez uma afirmação surpreendente: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” e reforçou “ninguém vai ao Pai a não ser por mim.”

 

Como se não bastasse dizer, que Ele era o Caminho, disse que é o Caminho que leva ao Pai e reforçou que não há outro caminho. 

 

O normal é as pessoas crentes terem o desejo de conhecerem Deus e de chegarem mais próximo Dele. Se até aqui não sabíamos como atingir essa proximidade, a partir deste momento e no nosso tempo também, temos em Jesus como que um GPS para chegarmos a Deus.

 

Basta seguirmos o caminho que Ele nos propõe: olhar as pessoas como Jesus olhou, tocar as pessoas como Ele tocou, reagir às suas atitudes como Jesus reagiu, tratar todas as pessoas como iguais em dignidade e fazer da oração do Pai Nosso um lema de vida. 

 

Jesus veio trazer-nos a grande notícia que Deus é um Deus bom e que podemos contar sempre com Ele. É Nele que encontramos o nosso refúgio e proteção para todos.

 

Quando escrevo “todos”, é mesmo todos, como S. Paulo, mais tarde escreverá aos Gálatas: “não há judeu nem grego, escravo ou livre, homem ou mulher, porque todos vós sois um em Cristo Jesus.” (Gal 3, 28)

 

É, assim, a vida em Deus que Jesus nos promete, se O seguirmos como o nosso Caminho. Uma vida de verdadeiro Amor, à maneira de Jesus e, cuja fonte é o próprio Deus. Uma fonte que não se esgota. 

 

Jesus também dirige a cada um de nós a mesma afirmação: “Há tanto tempo estou contigo, Ana, Paulo, Alice,… e não me conheces!”

 

Isto que Jesus nos diz não deve ser entendido como uma repreensão, mas como um incentivo a querermos conhecê-Lo melhor e a usarmos as nossas energias para colaborarmos com Ele.

 

frei Eugénio, o.p.

 

2023-04-29

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 4º Domingo de Páscoa, 30 de abril, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.  (ainda não disponível)


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EVANGELHO (Jo. 10, 1-10)  10,1-10.

Naquele tempo, disse Jesus: «Em verdade, em verdade vos digo: aquele que não entra no aprisco das ovelhas pela porta, mas entra por outro lado, é ladrão e salteador.
Mas aquele que entra pela porta é o pastor das ovelhas.
O porteiro abre-lhe a porta e as ovelhas conhecem a sua voz. Ele chama cada uma delas pelo seu nome e leva-as para fora.
Depois de ter feito sair todas as que lhe pertencem, caminha à sua frente; e as ovelhas seguem-no, porque conhecem a sua voz.
Se for um estranho, não o seguem, mas fogem dele, porque não conhecem a voz dos estranhos».
Jesus apresentou-lhes esta comparação, mas eles não compreenderam o que queria dizer.
Jesus continuou: «Em verdade, em verdade vos digo: Eu sou a porta das ovelhas.
Aqueles que vieram antes de Mim são ladrões e salteadores, mas as ovelhas não os escutaram.
Eu sou a porta. Quem entrar por Mim será salvo: é como a ovelha que entra e sai do aprisco e encontra pastagem.
O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir. Eu vim para que as minhas ovelhas tenham vida e a tenham em abundância».
 
DIÁLOGO
 
 

 

2023-04-23

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 3º Domingo de Páscoa, 23 de abril, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui

 


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EVANGELHO (Lc. 24, 13-35)

Dois dos discípulos de Jesus iam a caminho duma povoação chamada Emaús, que ficava a duas léguas de Jerusalém.
Conversavam entre si sobre tudo o que tinha sucedido.
Enquanto falavam e discutiam, Jesus aproximou-Se deles e pôs-Se com eles a caminho.
Mas os seus olhos estavam impedidos de O reconhecerem.
Ele perguntou-lhes. «Que palavras são essas que trocais entre vós pelo caminho?». Pararam, com ar muito triste,
e um deles, chamado Cléofas, respondeu: «Tu és o único habitante de Jerusalém a ignorar o que lá se passou nestes dias».
E Ele perguntou: «Que foi?». Responderam-Lhe: «O que se refere a Jesus de Nazaré, profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo;
e como os príncipes dos sacerdotes e os nossos chefes O entregaram para ser condenado à morte e crucificado.
Nós esperávamos que fosse Ele quem havia de libertar Israel. Mas, afinal, é já o terceiro dia depois que isto aconteceu.
É verdade que algumas mulheres do nosso grupo nos sobressaltaram: foram de madrugada ao sepulcro,
não encontraram o corpo de Jesus e vieram dizer que lhes tinham aparecido uns anjos a anunciar que Ele estava vivo.
Alguns dos nossos foram ao sepulcro e encontraram tudo como as mulheres tinham dito. Mas a Ele não O viram».
Então Jesus disse-lhes: «Homens sem inteligência e lentos de espírito para acreditar em tudo o que os profetas anunciaram!
Não tinha o Messias de sofrer tudo isso para entrar na sua glória?».
Depois, começando por Moisés e passando pelos profetas, explicou-lhes em todas as Escrituras o que Lhe dizia respeito.
Ao chegarem perto da povoação para onde iam, Jesus fez menção de ir para diante.
Mas eles convenceram-no a ficar, dizendo: «Fica connosco, porque o dia está a terminar e vem caindo a noite». Jesus entrou e ficou com eles.
E quando Se pôs à mesa, tomou o pão, recitou a bênção, partiu-o e entregou-lho.
Nesse momento abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-no. Mas Ele desapareceu da sua presença.
Disseram então um para o outro: «Não ardia cá dentro o nosso coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?».
Partiram imediatamente de regresso a Jerusalém e encontraram reunidos os Onze e os que estavam com eles,
que diziam: «Na verdade, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão».
E eles contaram o que tinha acontecido no caminho e como O tinham reconhecido ao partir o pão.
 
DIÁLOGO
 
 

 


2023-04-15

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 2º Domingo de Páscoa, 16 de abril, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui


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EVANGELHO (Jo. 20, 19-31)

Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco».
Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor.
Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós».
Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo;
àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos».
Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus.
Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei».
Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco».
Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente».
Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!».
Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste, acreditaste; felizes os que acreditam sem terem visto».
Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro.
Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.

 

DIÁLOGO


 

2023-04-08

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do Domingo de Páscoa, 9 de abril, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui



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 EVANGELHO (Jo. 20, 1-9)

No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi de manhãzinha, ainda escuro, ao sepulcro e viu a pedra retirada do sepulcro.
Correu então e foi ter com Simão Pedro e com o discípulo predileto de Jesus e disse-lhes: «Levaram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde O puseram».
Pedro partiu com o outro discípulo e foram ambos ao sepulcro.
Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo antecipou-se, correndo mais depressa do que Pedro, e chegou primeiro ao sepulcro.
Debruçando-se, viu as ligaduras no chão, mas não entrou.
Entretanto, chegou também Simão Pedro, que o seguira. Entrou no sepulcro e viu as ligaduras no chão
e o sudário que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não com as ligaduras, mas enrolado à parte.
Entrou também o outro discípulo, que chegara primeiro ao sepulcro, viu e acreditou.
Na verdade, ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos.
 
DIÁLOGO
 
 

 

2023-04-02

Diálogo com o Evagelho

Diálogo com o Evangelho do Domingo de Ramos, 2 de abril, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.


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EVANGELHO (Mt. 21, 1-11)

Estavam já perto de Jerusalém, e tinham chegado à povoação de Betfagé, no Monte das Oliveiras. Jesus mandou então dois discípulos com este recado: "Vão àquela povoação ali em frente. Logo que lá entrarem, hão-de encontrar uma jumenta presa e um jumentinho com ela. Soltem-nos e tragam-mos. Se alguém vos disser alguma coisa, respondam que o Senhor precisa deles. E ele em breve os manda entregar." 

Isto aconteceu para que se cumprissem as palavras do profeta: Digam a Jerusalém: O teu rei, vem ter contigo! Vem, humilde, montado numa jumenta e num jumentinho, filho dum animal de carga. 

Os discípulos foram e fizeram exactamente o que Jesus lhes tinha mandado. Trouxeram a jumenta e o jumentinho, puseram as suas capas sobre os animais e Jesus sentou-se em cima. 

Uma grande multidão estendia as suas capas no caminho, enquanto outros cortavam ramos de árvores e os espalhavam pelo chão fora. 

E tanto as pessoas que iam à frente de Jesus como as que iam atrás exclamavam: "Glória ao Filho de David! Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor! Glória a Deus nas alturas!" 

Quando Jesus entrou em Jerusalém, toda a cidade ficou em alvoroço e perguntavam: "Quem é este?" E da multidão respondiam: "Este é Jesus, o profeta de Nazaré da Galileia!"

 

DIÁLOGO

 

 

 

2023-03-25

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 5º Domingo da Quaresma, 26 de março, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.

 


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EVANGELHO (Jo. 11, 1-45)

Forma breve: Jo 11, 3-7.17.20-27.33b-45


Naquele tempo,

as irmãs de Lázaro mandaram dizer a Jesus:

«Senhor, o teu amigo está doente».

Ouvindo isto, Jesus disse:

«Essa doença não é mortal, mas é para a glória de Deus,

para que por ela seja glorificado o Filho do homem».

Jesus era amigo de Marta, de sua irmã e de Lázaro.

Entretanto, depois de ouvir dizer que ele estava doente,

ficou ainda dois dias no local onde Se encontrava.

Depois disse aos discípulos:

«Vamos de novo para a Judeia».

Ao chegar lá,

Jesus encontrou o amigo sepultado havia quatro dias.

Quando ouviu dizer que Jesus estava a chegar,

Marta saiu ao seu encontro,

enquanto Maria ficou sentada em casa.

Marta disse a Jesus:

«Senhor, se tivesses estado aqui,

meu irmão não teria morrido.

Mas sei que, mesmo agora, tudo o que pedires a Deus,

Deus To concederá».

Disse-lhe Jesus: «Teu irmão ressuscitará».

Marta respondeu:

«Eu sei que há-de ressuscitar na ressurreição, do último dia».

Disse-lhe Jesus:

«Eu sou a ressurreição e a vida.

Quem acredita em Mim,

ainda que tenha morrido, viverá;

e todo aquele que vive e acredita em Mim, nunca morrerá.

Acreditas nisto?»

Disse-Lhe Marta:

«Acredito, Senhor, que Tu és o Messias, o Filho de Deus,

que havia de vir ao mundo».

Jesus comoveu-Se profundamente e perturbou-Se.

Depois perguntou: «Onde o pusestes?»

Responderam-Lhe: «Vem ver, Senhor».

E Jesus chorou.

Diziam então os judeus:

«Vede como era seu amigo».

Mas alguns deles observaram:

«Então Ele, que abriu os olhos ao cego,

não podia também ter feito que este homem não morresse?»

Entretanto, Jesus, intimamente comovido, chegou ao túmulo.

Era uma gruta, com uma pedra posta à entrada.

Disse Jesus: «Tirai a pedra».

Respondeu Marta, irmã do morto:

«Já cheira mal, Senhor, pois morreu há quatro dias».

Disse Jesus:

«Eu não te disse que, se acreditasses,

verias a glória de Deus?»

Tiraram então a pedra.

Jesus, levantando os olhos ao Céu, disse:

«Pai, dou-Te graças por Me teres ouvido.

Eu bem sei que sempre Me ouves,

mas falei assim por causa da multidão que nos cerca,

para acreditarem que Tu Me enviaste».

Dito isto, bradou com voz forte:

«Lázaro, sai para fora».

O morto saiu, de mãos e pés enfaixados com ligaduras

e o rosto envolvido num sudário.

Disse-lhes Jesus:

«Desligai-o e deixai-o ir».

Então muitos judeus, que tinham ido visitar Maria,

ao verem o que Jesus fizera, acreditaram n’Ele.

Palavra da Salvação

 

DIÁLOGO

 

“E Jesus chorou.” Este momento de grande tristeza que o evangelista João nos apresenta e que acabámos de ler, faz parte do relato da ressurreição de Lázaro.

Comentando este facto, o teólogo Jean-Michel Castaing escreveu um comentário muito feliz:

“este versículo é mais eficaz para persuadir os crentes do que todas as bibliotecas de Teologia Dogmática reunidas.”

 

Jesus estava com os discípulos para além do Jordão. Mesmo sabendo que Lázaro se encontrava muito doente, não vai vê-lo, ficando mais dois dias em pregação.

Depois diz aos discípulos: «Essa doença não é mortal, mas é para a glória de Deus, para que por ela seja glorificado o Filho do homem», que os discípulos interpretaram mal, tomando à letra as suas palavras.

Seguiram então para a Judeia e quando chegaram a Betânia, Lázaro estava sepultado há já quatro dias.

 

No diálogo que manteve com Marta, esta estava desolada por Jesus não ter estado presente. Sabia que o seu irmão Lázaro ressuscitaria no fim dos tempos, mas isso não a consolava.

Jesus esclareceu-a: “Eu sou a Ressurreição e a Vida;” e estas palavras teriam bastado, mas acrescentou « quem acredita em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive e acredita em mim nunca morrerá (….»

 

O encontro de Jesus com Maria, a irmã de Marta, foi diferente.

Esta ajoelhou-se aos pés de Jesus, numa posição tradicional do discípulo em relação ao Mestre e, chorosa, lamentou a morte do irmão e a ausência de Jesus.

 

Então no texto aparecem três verbos significativos da agitação interior de Jesus:  comoveu-Se… perturbou-Se (ficou esmagado)…e  Jesus chorou.

A compaixão de Jesus é capaz de ter presente e de compreender todas as nossas angústias.

Quando já estavam próximos do túmulo de Lázaro, Jesus levantou os olhos ao Céu e deu uma ordem em alta voz (para que a multidão pudesse ouvir): «Lázaro, sai para fora.»

Surgiu então Lázaro todo envolvido em ligaduras, como tinha sido sepultado.

Jesus deu então a seguinte ordem «Desligai-o e deixai-o ir».

 

Este acontecimento preparou a Paixão e a Ressurreição de Jesus.

Dos judeus que viram e ouviram o que se passou junto ao túmulo de Lázaro, um grupo iria acreditar em Jesus; outro, iria informar os príncipes dos sacerdotes do Templo e os fariseus.

Eles irão preparar a sentença de morte de Jesus. (Jo. 11, 45-54).

 

Porque é que Jesus chorou antes da ressurreição de Lázaro, conforme é narrado em João 11, 35?

Quando alguém querido morre, é natural chorarmos porque sentimos saudades dele. Embora gostasse muito de Lázaro, não foi a morte dele em si que levou Jesus a chorar.

Ele chorou por ter compaixão pelos familiares, a começar pelas irmãs, e pelos amigos enlutados, conforme indicado pelo contexto do relato de João. (Jo 11.36).

 

A morte não era o resultado final da doença de Lázaro.

A intenção de Jesus era usar a morte de Lázaro “para a glória de Deus”. E como faria Ele isso?

Jesus estava prestes a realizar um milagre espetacular, trazendo o seu amigo de volta à vida.

Ao conversar com seus discípulos nessa ocasião, Jesus comparou a morte ao sono. É por isso que Ele lhes disse que ‘viajaria para lá e despertaria Lázaro do sono’. (João 11,11)

Quando Jesus encontrou Maria, uma das irmãs de Lázaro, e viu que ela e outros estavam chorando, ele perturbou-Se.

Ver o sofrimento deles faz com que Jesus fique muito pesaroso, a ponto de ficar "perturbado."

 

Foi por isso que ele chorou. Ele ficou profundamente triste ao ver seus queridos amigos sofrendo tanto. (Jo 11, 33 ; 35)

 

Jesus sabia que iria ressuscitar Lázaro. Mesmo assim, Ele chorou por causa de seu grande amor pelos seus amigos.

 

Do mesmo modo, se sentirmos compaixão, isso também nos poderá levar a «chorar com os que choram»’. (Rom. 12,15)

 

Mostrar essa tristeza não indica falta de fé na esperança da ressurreição.

Como é bom sabermos que Jesus, mesmo estando prestes a ressuscitar Lázaro, mostrou compaixão pelos enlutados, chorando de modo sincero e deixando-nos um belo exemplo para nós!

 

                               frei Eugénio, op

 

 

 


2023-03-19

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 4º Domingo da Quaresma, 19 de março, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.

 


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EVANGELHO (Jo. 9, 1-41)

Naquele tempo, Jesus encontrou no seu caminho um cego de nascença.
Os discípulos perguntaram-Lhe: «Mestre, quem é que pecou para ele nascer cego? Ele ou os seus pais?».
Jesus respondeu-lhes: «Isso não tem nada que ver com os pecados dele ou dos pais; mas aconteceu assim para se manifestarem nele as obras de Deus.
É preciso trabalhar, enquanto é dia, nas obras daquele que Me enviou. Vai chegar a noite, em que ninguém pode trabalhar. Enquanto Eu estou no mundo, sou a luz do mundo».
Dito isto, cuspiu em terra, fez com a saliva um pouco de lodo e ungiu os olhos do cego.
Depois disse-lhe: «Vai lavar-te à piscina de Siloé»; «Siloé» quer dizer «Enviado». Ele foi, lavou-se e ficou a ver.
Entretanto, perguntavam os vizinhos e os que antes o viam a mendigar: «Não é este o que costumava estar sentado a pedir esmola?».
Uns diziam: «É ele». Outros afirmavam: «Não é. É parecido com ele». Mas ele próprio dizia: «Sou eu».
Perguntaram-lhe então: «Como foi que se abriram os teus olhos?».
Ele respondeu: «Esse homem que se chama Jesus fez um pouco de lodo, ungiu-me os olhos e disse-me: "Vai lavar-te à piscina de Siloé". Eu fui, lavei-me e comecei a ver».
Perguntaram-lhe ainda: «Onde está Ele?». O homem respondeu: «Não sei».
Levaram aos fariseus o que tinha sido cego.
Era sábado esse dia em que Jesus fizera lodo e lhe tinha aberto os olhos.
Por isso, os fariseus perguntaram ao homem como tinha recuperado a vista. Ele declarou-lhes: «Jesus pôs-me lodo nos olhos; depois fui lavar-me e agora vejo».
Diziam alguns dos fariseus: «Esse homem não vem de Deus, porque não guarda o sábado». Outros observavam: «Como pode um pecador fazer tais milagres?». E havia desacordo entre eles.
Perguntaram então novamente ao cego: «Tu que dizes daquele que te deu a vista?». O homem respondeu: «É um profeta».
Os judeus não quiseram acreditar que ele tinha sido cego e começara a ver. Chamaram então os pais dele e perguntaram-lhes: «É este o vosso filho? É verdade que nasceu cego? Como é que ele agora vê?».
Os pais responderam: «Sabemos que este é o nosso filho e que nasceu cego;
mas não sabemos como é que ele agora vê, nem sabemos quem lhe abriu os olhos. Ele já tem idade para responder; perguntai-lho vós».
Foi por medo que eles deram esta resposta, porque os judeus tinham decidido expulsar da sinagoga quem reconhecesse que Jesus era o Messias.
Por isso é que disseram: «Ele já tem idade para responder; perguntai-lho vós».
Os judeus chamaram outra vez o que tinha sido cego e disseram-lhe: «Dá glória a Deus. Nós sabemos que esse homem é pecador».
Ele respondeu: «Se é pecador, não sei. O que sei é que eu era cego e agora vejo».
Perguntaram-lhe então: «Que te fez Ele? Como te abriu os olhos?».
O homem replicou: «Já vos disse e não destes ouvidos. Porque desejais ouvi-lo novamente? Também quereis fazer-vos seus discípulos?».
Então insultaram-no e disseram-lhe: «Tu é que és seu discípulo; nós somos discípulos de Moisés.
Nós sabemos que Deus falou a Moisés; mas este, nem sabemos de onde é».
O homem respondeu-lhes: «Isto é realmente estranho: não sabeis de onde Ele é, mas a verdade é que Ele me deu a vista.
Ora, nós sabemos que Deus não escuta os pecadores, mas escuta aqueles que O adoram e fazem a sua vontade.
Nunca se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença.
Se Ele não viesse de Deus, nada podia fazer».
Replicaram-lhe então eles: «Tu nasceste inteiramente em pecado e pretendes ensinar-nos?». E expulsaram-no.
Jesus soube que o tinham expulsado e, encontrando-o, disse-lhe: «Tu acreditas no Filho do homem?».
Ele respondeu-Lhe: «Quem é, Senhor, para que eu acredite nele?».
Disse-lhe Jesus: «Já O viste: é quem está a falar contigo».
O homem prostrou-se diante de Jesus e exclamou: «Eu creio, Senhor».
Então Jesus disse: «Eu vim a este mundo para exercer um juízo: os que não veem ficarão a ver; os que veem ficarão cegos».
Alguns fariseus que estavam com Ele, ouvindo isto, perguntaram-Lhe: «Nós também somos cegos?».
Respondeu-lhes Jesus: «Se fôsseis cegos, não teríeis pecado. Mas como agora dizeis: "Nós vemos", o vosso pecado permanece».
 
DIÁLOGO
 
Caros leitores, convido-vos a seguir o caminho que o cego de nascença seguiu até chegar a dizer: "Eu acredito em Ti, Senhor".
 
Neste seu percurso o cego vai passar da cegueira exterior, que o atinge desde o nascimento, para a luz interior do Amor de Deus e do próximo.
Jesus vai-lhe abrir os olhos do coração.
 
Jesus faz-lhe descobrir o Totalmente Outro que é Deus Santo e os outros que são nossas irmãs  e nossos irmãos.
A iluminação interior é a causa da renovação e da mudança que se opera no olhar exterior.
Ele passa a ver de modo diferente, com os critérios de Jesus,
Tanto as pessoas como os acontecimentos,
 
É essa transformação que também somos convidados a fazer:
"Sai das tuas trevas e deixa a luz de Jesus Ressuscitado entre em ti".
Já o fizemos várias vezes, certamente, mas temos de o fazer continuamente de novo.
A Quaresma de cada ano é uma ocasião propícia para isso.
 
Voltemos ao homem cego de nascença.
Como se vão abrir os  seus olhos?
 
Por gestos que Jesus faz e por palavras que Ele diz.
Jesus pega num pouco de lodo, coloca-o sobre os olhos do cego
e diz-lhe: "Vai e lava-te na piscina de Siloé".
O cego deixa que o lodo seja colocado nos seus olhos e ouve as palavras de Jesus e vai pô-las em prática.
Estas palavras são as do Mensageiro de Deus, do Filho de Deus,
que, ao enviá-lo à piscina de Siloé, que recriá-lo e refazê-lo
 
Uma vez restaurada a sua visão, o cego é confrontado com a incredulidade das autoridades religiosas, que o questionam
e não acreditam no seu testemunho.
Bloqueados nas suas leis e regulamentos, recusam-se a ver a acção de Deus neste cego de nascença.
 
Nós sabemos que ver não é apenas uma função física.
Ver é também uma visão espiritual, uma visão que invade o coração e a mente.
É o que acontece no baptismo dos cristãos adultos, que nos primeiros séculos da Igreja foi chamado de "iluminação".
Que bonito acontecimento « ser iluminado» !
 
Tal como aconteceu com o cego, Jesus pergunta-me: "Acreditas no Filho do Homem?
E se eu Lhe disser: «E quem é ele, Senhor, para que eu acredite nele?»
Jesus responde-me: "Tu estás a vê-lO , e é Ele que te fala".
 
Seguindo o exemplo do cego, nós, como batizados, somos convidados a fazer uma nova profissão de fé, dizendo : «Eu creio, em Ti, Senhor»!
 
A fé não é principalmente um conjunto de dogmas e verdades a acreditar, mas é, sobretudo, o encontro e a adesão a uma Pessoa, Jesus Ressuscitado em quem ponho toda a minha confiança.
 
Ele deixa isto claro no início do Evangelho que lemos, quando diz «enquanto eu estiver no mundo, sou a luz do mundo».
 
O que fazemos nós com esta luz, com esta «iluminação»?
 
Somos reenviados à nossa liberdade recebida de Deus na sua criação da humanidade.
É através de uma livre escolha, acessível a todos, que podemos receber a luz, a "iluminação" abrindo os nossos corações Àquele que é a "verdadeira Luz", acreditando n'Ele e confiando n’Ele.
 
Que a nossa Quaresma, iluminada pelas palavras e pelos exemplos de Jesus e que a liturgia nos relembra, nos dê uma fé ainda mais ativa e viva.
 
No nosso dia-a-dia, quer ao volante do nosso carro, ou no autocarro ou no metro, procuremos ter uns brevíssimos momentos de pausa para dizer a Jesus que é Ele quem nos ilumina e que desejamos ver com os olhos dEle as outras pessoas e o que nos vai acontecendo
 
Acendamos em nós próprios o presente que recebemos no baptismo, aquela chamazinha iluminadora, que por vezes corre o risco de ser sufocada.
Vamos alimentá-la com a oração e o amor ao próximo.
          frei Eugénio