2021-12-27

Papa Francisco: carta aos esposos, divorciados, jovens e avós

 

No dia 26 de dezembro, Festa da Sagrada Família, o Papa dirigiu uma carta por ocasião do ano «FAMÍLIA AMORIS LÆTITIA».  Ver aqui o documento integral.

É uma mensagem:

Aos esposos

Vós tendes a missão de transformar a sociedade com a vossa presença no mundo do trabalho e fazer com que as necessidades das famílias sejam tidas em conta. Também os cônjuges devem “primeirear” no seio da comunidade paroquial e diocesana com as suas iniciativas e criatividade, buscando a complementaridade dos carismas e das vocações como expressão da comunhão eclesial, em particular a comunhão dos «cônjuges ao lado de pastores, para caminhar com outras famílias, para ajudar os mais fracos, para anunciar que, até nas dificuldades, Cristo Se faz presente».

(…) compete às famílias o desafio de lançar pontes entre as gerações para a transmissão dos valores que constroem a humanidade. É necessária uma nova criatividade para expressar, nos desafios atuais, os valores que nos constituem como povo nas nossas sociedades, e como Povo de Deus na Igreja.

Aos divorciados

Entretanto, para alguns casais, a convivência a que foram forçados durante a quarentena revelou-se particularmente difícil. Os problemas, que já existiam, agravaram-se, gerando conflitos que se tornaram muitas vezes quase insuportáveis. E vários chegaram até à rutura da sua relação, sobre a qual gravava uma crise que não souberam ou não puderam superar. A estas pessoas, desejo manifestar-lhes também a minha proximidade e afeto.

A rutura duma relação conjugal gera muito sofrimento por causa de tantas aspirações malogradas; a falta de entendimento provoca discussões e feridas que não são fáceis de remediar. Nem sequer é possível poupar aos filhos a amargura de ver que os seus pais já não estão juntos. Mesmo assim, não cesseis de buscar ajuda para que se possa dalguma forma superar os conflitos, a fim de que estes não provoquem ainda mais sofrimento entre vós e aos vossos filhos. O Senhor Jesus, na sua infinita misericórdia, inspirar-vos-á o modo de avançar no meio de tantas dificuldades e dissabores. Não deixeis de O invocar e procurar n’Ele um refúgio, uma luz para o caminho e, na comunidade, uma «casa paterna onde há lugar para todos com a sua vida fadigosa».

Aos jovens

(…) permiti que dirija uma palavra aos jovens que se preparam para o casamento. Se antes da pandemia já era complicado, para os noivos, projetar um futuro pela dificuldade de encontrar um emprego estável, agora aumenta ainda mais a incerteza laboral. Apesar disso convido os noivos a não desanimarem, a terem a «coragem criativa» que teve São José, cuja memória quis honrar neste Ano a ele dedicado.

Assim também vós, quando vos virdes com poucos meios para enfrentar o caminho do casamento, mantende viva confiança na Providência divina, porque, «às vezes, são precisamente as dificuldades que fazem sair de cada um de nós recursos que nem pensávamos ter».

Aos Avós

(…) desejo enviar uma saudação especial aos avôs e às avós que se viram impossibilitados, durante o período de isolamento, de ver os netos e estar com eles, às pessoas idosas que sofreram de maneira ainda mais dura a solidão. A família não pode prescindir dos avós, pois são a memória viva da humanidade; «esta memória pode ajudar a construir um mundo mais humano, mais acolhedor».

2021-12-25

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do dia de Natal, 25 de Dezembro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.

 




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Evangelho (Jo. 3, 1-18)  

No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus.
No princípio, Ele estava com Deus.
Tudo se fez por meio dele e sem Ele nada foi feito.
Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens.
A luz brilha nas trevas e as trevas não a receberam.
Apareceu um homem enviado por Deus, chamado João.
Veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por meio dele.
Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz.
O Verbo era a luz verdadeira, que, vindo ao mundo, ilumina todo o homem.
Estava no mundo e o mundo, que foi feito por Ele, não O conheceu.
Veio para o que era seu e os seus não O receberam.
Mas àqueles que O receberam e acreditaram no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.
Estes não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.
E o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós. Nós vimos a sua glória, glória que Lhe vem do Pai como Filho Unigénito, cheio de graça e de verdade.
João dá testemunho dele, exclamando: «Era deste que eu dizia: "O que vem depois de mim passou à minha frente, porque existia antes de mim"».
Na verdade, foi da sua plenitude que todos nós recebemos graça sobre graça.
Porque, se a Lei foi dada por meio de Moisés, a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo.
A Deus, nunca ninguém O viu. O Filho Unigénito, que está no seio do Pai, é que O deu a conhecer.

 

DIÁLOGO 

Hoje celebramos o nascimento de uma criança há mais de 2020 anos atrás. Quando celebramos o nosso próprio aniversário, estamos a lembrar-nos de que estamos a envelhecer. Em cada ano que passa, há uma vela a mais no bolo de aniversário. 

Mas no Natal não celebramos o facto de Jesus ser velho.

Celebramos que Deus entra nas nossas vidas como uma criança, uma criança recém-nascida, no começo da sua vida.

A imagem habitual de Deus é a de um homem velho de cabelo branco. Mas no Natal recordamos a eterna juventude de Deus.

Santo Agostinho escreveu que somos nós que envelhecemos, mas que Deus é sempre mais novo do que nós.

A alegria do Natal é que também nós somos convidados a partilhar dessa juventude de Deus.

Como diz o Evangelho de hoje:

“Mas, àqueles que O receberam e acreditaram no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.”

Ser filho de Deus é estar aberto às infinitas possibilidades do futuro.

O mundo de uma criança não é fixo ou estático.

Ele ou ela pode tornar-se uma política ou um jornalista, um cozinheiro ou uma informática e muitas outras profissões. 

Ser filho de Deus é ter esperança num futuro que está para além dos nossos sonhos.

Nós envelhecemos os nossos corações quando perdemos a nossa capacidade de sonhar com um novo mundo.

Que o Menino Jesus nos rejuvenesça com novos sonhos.

Paremos uns momentos para nos lembrarmos de alguns dos nossos sonhos. Um sonho que tenhamos presentemente! 

Pelo menos um!

O Natal torna-nos jovens, se escolhermos não só o Jesus Menino, mas todas as crianças.

As crianças vão perturbar-nos. Elas farão barulho quando quisermos dormir, farão perguntas que não podemos responder, obrigam-nos a gastar mais dinheiro...

As crianças mudarão quem nós somos! 

Mas eles são a promessa do futuro de Deus. 

Devemos deixar que as nossas crianças possam ser verdadeiramente crianças, adolescentes e jovens e não pequenos adultos.

Um pai estava com o seu filho, criança pequena numa celebração que se prolongava e a criança começa a estar agitada e aborrecida. E para chamar a atenção do pai começou a chorar. O pai diz-lhe:”Pára de  chorar! Um homem não chora!” E o menino, entre lágrimas diz ao pai: ”E um homem pequenino não pode chorar?” 

O Menino Jesus também vem entre nós nos filhos de outros, nos filhos de estrangeiros e de imigrantes, nos filhos de quem tem outra fé que não a nossa, ou que não têm nenhuma fé.

Que sejam também bem-vindos!

Eles abrem-nos um futuro que é muito mais vasto do que imaginamos. Ajudar-nos-ão a derrubar os muros de incompreensão e de hostilidade que mataram Jesus, na força da vida, antes que Ele tivesse tempo de envelhecer.

Finalmente, sonhemos com um futuro para aquelas e aqueles que parecem não ter nenhum futuro: as famílias apinhadas em quartos minúsculos, que há vários anos não conseguem casa para se alojar; os refugiados das guerras, que não conseguem um lugar na Terra para viverem em paz; os que não têm nenhum acesso a cuidados médicos elementares e aqueles que estão afundados no desespero.

Que o Jesus Menino traga aos nossos corações estas crianças que não têm nenhum futuro à vista, e que rejuvenesça os nossos corações e nos torne capaz de sonhar com elas e para elas.

Feliz Natal!

    frei Eugénio

 

 

 

 

 

 

2021-12-18

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 4º Domingo do Advento, 19 de Dezembro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.

 


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Evangelho (Lucas 3, 10-18) 

Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha, em direção a uma cidade de Judá.
Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel.
Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino exultou-lhe no seio. Isabel ficou cheia do Espírito Santo e exclamou em alta voz: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre.
Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor?
Na verdade, logo que chegou aos meus ouvidos a voz da tua saudação, o menino exultou de alegria no meu seio.
Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor».

 

DIÁLOGO 

Estamos apenas a poucos dias do Natal, da celebração do nascimento de Jesus, em Belém. 

Não deve ser uma surpresa para nós que os textos litúrgicos para o 4º Domingo do Advento se concentrem em duas futuras mães: Maria e a sua prima Isabel, cada uma das quais está em trabalho de parto e a preparar-se para um nascimento. 

No relato de Lucas do anúncio do nascimento de Jesus, Maria fica a saber que a sua prima Isabel também está grávida: «Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice, e este é o sexto mês para aquela a quem chamavam de estéril. Para Deus, com efeito, nada é impossível.» (Luc 1, 36-37).

 Maria mal ouviu esta notícia, «pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha, em direção a uma cidade de Judá» onde moravam Isabel e Zacarias, seu marido. 

Estas duas futuras mães tiveram a experiência dum encontro que teve uma importância e um significado que as ultrapassa completamente.

Maria descobriu que a criança no seu ventre está cheia de uma luz e de um poder que irradiava para o exterior para aqueles que se aproximavam dela. 

Isto é percebido pela outra criança no ventre de Isabel: «Quando Isabel ouviu a saudação de Maria», escreve Lucas, «a criança estremeceu dentro dela». 

Isabel, cheia do Espírito Santo exclamou: «Donde me vem que a mãe do meu Senhor me visita?» 

Por sua vez, Maria, cheia de graça, estava empenhada numa viagem de fé em Deus, de quem ela esperava tudo e de quem se fez serva. 

Ela será a «Mãe da Misericórdia» como relembramos quando rezamos ou cantamos a oração «Salvé Rainha» dizendo: «Salve Rainha, Mãe da Misericórdia …». 

Podemos seguir de perto estas duas futuras mães, que se tornam próximas de nós, se procurarmos viver no mesmo espírito de fé, confiando na Palavra de Deus, acolhendo os apelos e as visitas de Deus. 

Quais são as palavras que o Espírito Santo inspirou a Isabel? 

«Feliz de ti que acreditaste no cumprimento de tudo quanto te foi dito da parte do Senhor". 

Maria tinha ouvido as palavras do anjo Gabriel, mensageiro de Deus, a dizer-lhe que iria ser mãe, sem ser de José seu noivo. 

Maria acreditou que essas palavras do Anjo eram verdadeiras, mas sobretudo teve a confiança que essas palavras se iriam cumprir. 

Na nossa fé em Deus, sobretudo através do que Jesus nos veio revelar, é importante acreditarmos que, através dos textos dos Evangelhos e dos outros livros do Novo Testamento, podemos ficar a conhecer, com verdade, o que Jesus fez e disse. 

Mas há um outro aspeto que é fundamental na fé que podemos ter em Jesus: confiar que as palavras se irão cumprir, que irão ter uma realização concreta. 

Pensemos por exemplo nas palavras de Jesus no Sermão da Montanha (Mat 7, 7): «Pedi e vos será dado; buscai e achareis; batei e vos será aberto,» e comparando com a nossa experiência vivida, verificamos que muitas vezes, talvez a maioria das vezes tal não nos acontece. Naturalmente interrogamo-nos sobre as possíveis razões do nosso insucesso. 

Mas se Jesus fez esta promessa tão importante, não nos diz nem como, nem quando se irão realizar. 

O modo como se irá concretizar e a ocasião escapam-nos, mas Jesus Ressuscitado, que é o Senhor da Vida, escolhe o momento oportuno e quantas vezes de modo completamente imprevisto! 

O que Jesus nos propõe é que continuemos com muita confiança e persistência acreditando na sua realização. 

Maria é para os cristãos o mais completo modelo de fé. 

«Feliz de ti que acreditaste no cumprimento de tudo quanto te foi dito da parte do Senhor». 

Que maravilha quando seguimos o exemplo de Maria, a Mãe que deu à luz Jesus Emanuel, porque acreditou no cumprimento das palavras de Deus. 

frei Eugénio