2022-09-25

Economia de Francisco

 

"Mais de 1200 jovens vindos de 120 países, incluindo Portugal, reunidos em Assis, Itália, assinaram no sábado dia 24 de setembro com o Papa Francisco um pacto global, em favor de uma “Economia do Evangelho”, atenta aos mais pobres e à natureza." Fonte: vp


PACTO POR UMA NOVA ECONOMIA

Nós, jovens, economistas, empreendedores, agentes de mudança, chamados aqui a Assis de todo o mundo, conscientes da responsabilidade que pesa sobre a nossa geração, comprometemo-nos agora, individualmente e todos juntos, a gastar as nossas vidas para que a economia de hoje e de amanhã se torne uma Economia do Evangelho.

Portanto:

uma economia de paz e não de guerra,

uma economia que cuida da criação e não a saqueia,

uma economia ao serviço da pessoa, da família e da vida, respeitosa de cada mulher, homem, criança, pessoa idosa e sobretudo dos mais frágeis e vulneráveis,

uma economia onde o cuidado substitui o desperdício e a indiferença,

uma economia que não deixa ninguém para trás, para construir uma sociedade em que as pedras descartadas pela mentalidade dominante se tornem pedras angulares,

uma economia que reconheça e proteja o trabalho digno e seguro para todos, especialmente para as mulheres,

uma economia onde as finanças sejam amigas e aliadas da economia real e do trabalho e não contra eles,

uma economia que saiba valorizar e preservar as culturas e tradições dos povos, todas as espécies vivas e os recursos naturais da Terra, que combata a pobreza em todas as suas formas, reduza as desigualdades e saiba dizer “Bem-aventurados os pobres”,

uma economia guiada pela ética da pessoa e aberta à transcendência,

uma economia que crie riqueza para todos, que gere alegria e não apenas bem-estar, porque a felicidade não partilhada é muito pouco.

Acreditamos nesta economia. Não é uma utopia, porque já a estamos a construir. E alguns de nós, em manhãs particularmente claras, já vislumbramos o início da terra prometida.

Assis, 24 de setembro de 2022

Economistas, empresárias e empresários, agentes de mudança, estudantes, trabalhadoras e trabalhadores


 

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 26º Domingo do Tempo Comum, 25 de setembro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui. 

 


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Evangelho (Lc. 16, 19-31)

Naquele tempo, disse Jesus aos fariseus: «Havia um homem rico, que se vestia de linho fino e se banqueteava esplendidamente todos os dias.
Um pobre chamado Lázaro jazia junto do seu portão, coberto de chagas.
Bem desejava ele saciar-se com os restos caídos da mesa do rico; mas até os cães vinham lamber-lhe as chagas.
Ora, sucedeu que o pobre morreu e foi colocado pelos anjos ao lado de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado.
Na mansão dos mortos, estando em tormentos, levantou os olhos e viu Abraão com Lázaro a seu lado.
Então, ergueu a voz e disse: "Pai Abraão, tem compaixão de mim. Envia Lázaro, para que molhe em água a ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nestas chamas".
Abraão respondeu-lhe: "Filho, lembra-te que recebeste os teus bens em vida, e Lázaro apenas os males. Por isso, agora ele encontra-se aqui consolado, enquanto tu és atormentado.
Além disso, há entre nós e vós um grande abismo, de modo que se alguém quisesse passar daqui para junto de vós, não poderia fazê-lo".
O rico exclamou: "Então peço-te, ó pai, que mandes Lázaro à minha casa paterna,
pois tenho cinco irmãos, para que os previna, a fim de que não venham também para este lugar de tormento".
Disse-lhe Abraão: "Eles têm Moisés e os profetas: que os oiçam".
Mas ele insistiu: "Não, pai Abraão. Se algum dos mortos for ter com eles, arrepender-se-ão".
Abraão respondeu-lhe: "Se não dão ouvidos a Moisés nem aos profetas, também não se deixarão convencer se alguém ressuscitar dos mortos"».

 

DIÁLOGO

 

2022-09-16

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 25º Domingo do Tempo Comum, 18 de setembro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui

 


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Evangelho (Lc. 15, 1-3.11-32) 

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Um homem rico tinha um administrador que foi denunciado por andar a desperdiçar os seus bens. 

Mandou chamá-lo e disse-lhe: "Que é isto que ouço dizer de ti? Presta contas da tua administração, porque já não podes continuar a administrar". 

O administrador disse consigo: "Que hei de fazer, agora que o meu senhor me vai tirar a administração? Para cavar não tenho forças, de mendigar tenho vergonha. 

Já sei o que hei de fazer, para que, ao ser despedido da administração, alguém me receba em sua casa".

Mandou chamar, um por um, os devedores do seu senhor e disse ao primeiro: "Quanto deves ao meu senhor?". 

Ele respondeu: "Cem talhas de azeite". O administrador disse-lhe: "Toma a tua conta, senta-te depressa e escreve cinquenta". 

A seguir disse a outro: "E tu, quanto deves?" Ele respondeu: "Cem medidas de trigo". Disse-lhe o administrador: "Toma a tua conta e escreve oitenta". 

E o senhor elogiou o administrador desonesto, por ter procedido com esperteza. De facto, os filhos deste mundo são mais espertos do que os filhos da luz no trato com os seus semelhantes». 

Ora Eu digo-vos: Arranjai amigos com o vil dinheiro, para que, quando este vier a faltar, eles vos recebam nas moradas eternas. 

Quem é fiel nas coisas pequenas, também é fiel nas grandes; e quem é injusto nas coisas pequenas, também é injusto nas grandes. 

Se não fostes fiéis no que se refere ao vil dinheiro, quem vos confiará o verdadeiro bem? 

E, se não fostes fiéis no bem alheio, quem vos entregará o que é vosso? 

Nenhum servo pode servir a dois senhores, porque, ou não gosta de um deles e estima o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro».

 

DIÁLOGO

Ficamos certamente chocados com este elogio provocador feito por Jesus.

Se os primeiros discípulos guardaram estas palavras perturbadoras de Jesus, apesar de serem surpreendentes, é porque encontraram nelas pontos essenciais da Sua mensagem que queriam transmitir às gerações futuras, incluindo a nós.

 

A mensagem central da parábola contada por Jesus e narrada no Evangelho que acabámos de ler, aparece nas últimas frases:

"Nenhum servo pode servir a dois senhores,

porque, ou não gosta de um deles e estima o outro,

ou se dedicará a um e desprezará o outro.

Não podeis servir a Deus e ao dinheiro».

 

Então porquê elogiar o gerente desonesto e dizer para se fazerem amigos com dinheiro sujo? É realmente estranho!

 

Comecemos por ver onde Lucas, na sua narrativa, colocou esta parábola de Jesus.

Jesus ia a caminho de Jerusalém, onde previa ser preso porque, apesar da atenção de muito povo que o escutava, deparava com a oposição das elites, em particular dos fariseus, a quem Ele perturbava com os seus ensinamentos e as suas atitudes.

Jesus dirigiu esta parábola especialmente aos seus discípulos.

E devemos ter presente que estes discípulos nos representam também a nós.

Então, o que podemos aprender nos nossos dias com esta parábola do mordomo desonesto, elogiado por Jesus?

 

Podemos pensar que Jesus, no cenário desta parábola, pode ter sido inspirado por acontecimentos como os que por vezes vemos no mundo dos negócios, quando conselheiros financeiros se apropriam do dinheiro que lhes foi confiado e o utilizam. para seu lucro pessoal.

 

Ora, na parábola, acontece ao gerente ser despedido subitamente, por denúncia. O seu patrão diz-lhe que complete os seus livros de contabilidade e que está despedido.

A reação do gerente é rápida.

Não tem problemas com a sua consciência. 

 

Pega no telefone, como diríamos hoje, e nas contas do seu patrão reduz aos devedores o que eles têm de pagar como reembolso.

Certamente que estes devedores lhe ficam muito gratos.

Estes caminhos ainda hoje existem, como as notícias nos vão revelando.

Mas este não é o ponto que Jesus quer que recordemos.

 

Podemos ver que o centro da parábola, é Jesus a louvar o gerente desonesto, não por causa da sua desonestidade, mas por causa da sua ousadia e habilidade na circunstância muito difícil de ter sido despedido subitamente.

 

Jesus não elogia a astúcia desonesta do gestor. Este toma a sua decisão de modo a poder ter um futuro para si próprio.

 

Esta situação pode acontecer a todos os seguidores de Jesus, como nós desejamos ser.

 

Temos de nos decidir a segui-Lo corajosamente no seu modo de viver, apesar das circunstâncias por vezes difíceis e adversas.

Jesus diz-nos: «Sede audazes e decididos no mundo atual, lembrando-vos da esperança do mundo vindouro que levais dentro de vós.» 

 

Talvez no nosso mundo, hoje, estejamos a dar-nos conta de que o culto do crescimento económico e da abundância é um ídolo, pois só duram um espaço de tempo mais ou menos limitado e têm uma eficácia que só vai beneficiar uma percentagem reduzida de pessoas dos países ou zonas onde habitam.

Pelo contrário, grande parte das populações fica muito mais sujeita ao empobrecimento que as conduz à infelicidade e ao desespero, em vez da felicidade.

 

Jesus diz-nos que o Reino já está no meio de nós. Ele diz-nos que o dinheiro ou a utilização dos bens deste mundo deve servir-nos para fazermos verdadeiros amigos, ou seja, para criarmos laços de solidariedade e fraternidade que são já um sinal e um começo do Reino que esperamos.

Muitas iniciativas estão já a avançar nesta direção, com generosidade e partilha em todas as suas formas:

solidariedade familiar ou de vizinhança, que na maioria das vezes é feita discretamente, associações e redes que funcionam sob a forma de cooperativas, bancos alternativos, agricultura familiar não industrial, iniciativas de comércio justo, associações que acolhem os requerentes de asilo, visitantes dos doentes ou prisioneiros.

Os exemplos poderiam ser multiplicados.

 

Tudo isto cria confiança e esperança, alegria de viver e felicidade; cria laços, numa outra forma de viver juntos e de viver bem juntos.

São sementes que já estão a dar frutos e são as sementes do Reino esperado, luzes que iluminam a escuridão da vida.

Jesus convida-nos a sermos atores em liberdade e esperança.

 

frei Eugénio op

 

 

 

2022-09-09

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 24º Domingo do Tempo Comum, 11 de setembro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui


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Evangelho (Lc 15, 1-3.11-32)

Naquele tempo,

os publicanos e os pecadores

aproximavam-se todos de Jesus, para O ouvirem.

Mas os fariseus e os escribas murmuravam entre si, dizendo:

«Este homem acolhe os pecadores e come com eles».

Jesus disse-lhes então a seguinte parábola:

«Um homem tinha dois filhos.

O mais novo disse ao pai:

‘Pai, dá-me a parte da herança que me toca’.

O pai repartiu os bens pelos filhos.

Alguns dias depois, o filho mais novo,

juntando todos os seus haveres, partiu para um país distante

e por lá esbanjou quanto possuía,

numa vida dissoluta.

Tendo gasto tudo,

houve uma grande fome naquela região

e ele começou a passar privações.

Entrou então ao serviço de um dos habitantes daquela terra,

que o mandou para os seus campos guardar porcos.

Bem desejava ele matar a fome

com as alfarrobas que os porcos comiam,

mas ninguém lhas dava.

Então, caindo em si, disse:

‘Quantos trabalhadores de meu pai têm pão em abundância,

e eu aqui a morrer de fome!

Vou-me embora, vou ter com meu pai e dizer-lhe:

Pai, pequei contra o Céu e contra ti.

Já não mereço ser chamado teu filho,

mas trata-me como um dos teus trabalhadores’.

Pôs-se a caminho e foi ter com o pai.

Ainda ele estava longe, quando o pai o viu:

encheu-se de compaixão

e correu a lançar-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos.

Disse-lhe o filho:

‘Pai, pequei contra o Céu e contra ti.

Já não mereço ser chamado teu filho’.

Mas o pai disse aos servos:

‘Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha.

Ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés.

Trazei o vitelo gordo e matai-o.

Comamos e festejemos,

porque este meu filho estava morto e voltou à vida,

estava perdido e foi reencontrado’.

E começou a festa.

Ora o filho mais velho estava no campo.

Quando regressou,

ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças.

Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo.

O servo respondeu-lhe:

‘O teu irmão voltou

e teu pai mandou matar o vitelo gordo,

porque ele chegou são e salvo’.

Ele ficou ressentido e não queria entrar.

Então o pai veio cá fora instar com ele.

Mas ele respondeu ao pai:

‘Há tantos anos que eu te sirvo,

sem nunca transgredir uma ordem tua,

e  nunca me deste um cabrito

para fazer uma festa com os meus amigos.

E agora, quando chegou esse teu filho,

que consumiu os teus bens com mulheres de má vida,

mataste-lhe o vitelo gordo’.

Disse-lhe o pai:

‘Filho, tu estás sempre comigo

e tudo o que é meu é teu.

Mas  tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos,

porque este teu irmão estava morto e voltou à vida,

estava perdido e foi reencontrado’». 

 

DIÁLOGO

 

Nesta parábola, Jesus dirige-se a um grupo de fariseus e de escribas que discordavam e se opunham às atitudes d’Ele porque acolhia e até ia comer a casa de pecadores.

 

Habitualmente esta parábola é conhecida com a «parábola do filho pródigo». É utilizada para levar os cristãos a terem atitudes de arrependimento pelo mal feito e a celebrarem o Sacramento do Perdão.

 

Se seguirmos o texto da parábola, como se fosse um vídeo, vemos que Jesus utilizou muitos detalhes visuais:

o filho mais novo a pedir a sua herança;

a sua partida para um país distante, onde se fartou de divertir e de gastar dinheiro;

o filho na pocilga com os porcos; depois o filho a refletir e a cair em si mesmo;

o pai a ir abraçar o filho no seu regresso a casa;

o banquete preparado pelo pai;

o irmão mais velho, zangado, não quer entrar na festa; o pai que vai ao encontro do filho mais velho.

 

Qual é a mensagem de Jesus nesta parábola?

Será o perdão? Mas o pai não disse nenhuma palavra sobre perdão ou absolvição.

 

Mesmo quando o irmão mais velho resmungou com o pai por ele ter acolhido festivamente o filho mais novo, o pai não disse nada que desculpasse o comportamento desse filho.

 

No final destas cenas cheias de vida, vem a mensagem que Jesus quer que descubramos: "Este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi encontrado".

 

Esta frase é retomada pelo pai quando vai ter com o filho mais velho, que repreende o seu pai por ter tratado com tanta bondade um filho que o abandonou: «teu irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado».

 

O pai lembra ao filho mais velho que ele tem um irmão, que estava dado como morto e que afinal está vivo. 

 

A dádiva que o pai deu a este filho, que o abandonou e que andou numa independência desorientada foi a compaixão.

 

Podemos chamar a esta parábola «A parábola do Pai cheio de compaixão».

 

A atitude de compaixão na língua hebraica «rahamim» tem a ver com as entranhas, com seio materno, para exprimir que a compaixão vem bem de dentro, como o amor de mãe pelo filho que ela trouxe no seu ventre.

 

A compaixão é uma das atitudes mais consoladoras e renovadoras nas vidas das pessoas.

 

Na parábola, a compaixão do pai conduz à mudança de atitude e também à mudança de coração do seu filho mais novo. 

 

Quando ao filho mais velho, a parábola não o diz, mas podemos esperar que também ele tenha aceitado mudar.

 

Mas, a história do filho mais novo inclui a do filho mais velho.

Este está ressentido. 

 

Nem mesmo o regresso do seu irmão o fará querer participar na celebração familiar. 

 

Mas o pai vai ter com o filho mais velho, tal como tinha ido ao encontro do mais novo. 

 

Ele quer que ambos se descubram como irmãos e que se alegrem com o bem um do outro.

 

Jesus apresenta-nos Deus como Pai que só quer ter uma autoridade:

a da compaixão. 

 

Esta compaixão faz com que todas as formas de desamor e de sofrimento dos seus filhos, causem uma imensa tristeza no seu coração. 

 

É, por isso, que na parábola o pai estende os braços sem se cansar

na direção dos seus filhos, esperando que eles vão ter com Ele

e queiram participar na alegria da festa do Amor eterno.

 

Na caminhada da nossa vida, procuremos abrir em nós um espaço para a compaixão que pode mudar a história das nossas vidas.

 

     frei Eugénio op

 

2022-09-04

Diálogo com o Evengelho

Diálogo com o Evangelho do 23º Domingo do Tempo Comum, 4 de setembro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui

 


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Evangelho (Lc 14, 25 - 33)

Naquele tempo, seguia Jesus uma grande multidão. Jesus voltou-Se e disse-lhes:
«Se alguém vier ter comigo, e não Me preferir ao pai, à mãe, à esposa, aos filhos, aos irmãos, às irmãs e até à própria vida, não pode ser meu discípulo.
Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não pode ser meu discípulo.
Quem de vós, desejando construir uma torre, não se senta primeiro a calcular a despesa, para ver se tem com que terminá-la?
Não suceda que, depois de assentar os alicerces, se mostre incapaz de a concluir, e todos os que olharem comecem a fazer troça, dizendo:
"Esse homem começou a edificar, mas não foi capaz de concluir".
E qual é o rei que parte para a guerra contra outro rei e não se senta primeiro a considerar se é capaz de se opor, com dez mil soldados, àquele que vem contra ele com vinte mil?
Aliás, enquanto o outro ainda está longe, manda-lhe uma delegação a pedir as condições de paz.
Assim, quem de entre vós não renunciar a todos os seus bens, não pode ser meu discípulo».
 
DIÁLOGO
 

Lemos estas palavras de Jesus que são muito chocantes.

Vejamos se as conseguimos entender de modo a se tornarem mais motivadoras para nós.

 

Comecemos com o que Jesus nos diz sobre os nossos laços familiares.

Ele não nos diz para não os valorizarmos, pois seria injusto e traria grandes sofrimentos para aqueles que nos rodeiam e para nós próprios.

Seria também contrário ao mandamento "honrareis o vosso pai e a vossa mãe".

 

Isto significa que estas afeições são boas, mas que devemos ter em atenção que elas não se tornem em obstáculo ao seguimento de Jesus no seu modo de amar o próximo e de fazer a Vontade de Deus-Pai.

 

A ligação que nos une a Jesus através do Batismo, assumido na fé pessoal, é mais forte do que qualquer outro vínculo humano.

Além disso, quem quer seguir Jesus deve contar com o poder do Espírito Santo que Jesus nos oferece e que "continua o seu trabalho no mundo e completa toda a santificação".

 

Aquele que quer seguir Jesus também deve fazer as suas contas, mas elas não são as mesmas se se quer construir uma casa ou se se prepara para a guerra, como Jesus diz nas duas pequenas parábolas que lemos.

 

Jesus diz-nos que devemos aprender a discernir como bem utilizar as nossas riquezas de todo o tipo: afetivas e emocionais, intelectuais, espirituais e também materiais, para as colocarmos ao serviço do Reinado de Deus entre nós e renunciando a tudo o que possa impedir de o fazer.

 

Devemos pedir ao Espírito Santo que nos oriente e fortaleça.

 

Jesus alerta-nos para os riscos que iremos correr, se o quisermos seguir.

Iremos estar numa posição de risco calculado.

Teremos de aceitar incompreensões e oposições dos nossos mais próximos e por vezes mesmo perseguições de quem se opõe aos nossos discernimentos.

 

Teremos também de renunciar ao que tem uma rentabilidade e sucesso imediatos e aceitarmos que os efeitos do amor necessitam de tempo para serem concretizados de forma durável.

  

Para sermos cristãos, o verdadeiro cálculo, a verdadeira sabedoria,

não é contar com nenhuma das nossas garantias humanas.

É como se Jesus nos dissesse: «Aceita não teres outras garantias, além do meu Amor, que te ofereço gratuitamente».

 

A outra atitude a que Jesus se refere é: «Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não pode ser meu discípulo».

 

Não se trata apenas de suportar pacientemente tribulações e sofrimentos diários, mas de suportar com fé e responsabilidade aquela parte do esforço, aquela parte dos sofrimentos que a luta contra o Mal implica.

 

Assim, o compromisso de “tomar a cruz” torna-se participação com Jesus Ressuscitado na salvação do mundo desumanizado. Lucas escreveu depois do ano 70 da nossa era e, por isso, não estava a retratar o acontecimento único na vida de Jesus, mas sim a vida de todos os seguidores de Jesus. 

 

Jesus carregou uma cruz e morreu nela uma vez.

Lucas avisa os seus seguidores que a viagem da sua vida será constantemente marcada pelo sinal da cruz.

 

Carregar a própria cruz é seguir Jesus na sua vida de doação livre e amorosa aos outros e de renúncia ao seu próprio «eu».

 

Tendo isto presente, façamos com que a cruz pendurada na parede de casa, ou a pequena que usamos ao peito, sejam sinal do nosso desejo de nos unirmos a Jesus no serviço aos nossos irmãos com amor, especialmente aos mais desfavorecidos, aos mais frágeis e aos mais esquecidos e abandonados. 

 

Somos chamados a imitar Jesus, dedicando sem reservas a nossa vida por amor ao próximo, oferecendo-lhes o nosso tempo, o nosso trabalho, o nosso cansaço e até a nossa vida.

 

Trata-se de rejeitar abertamente aquela mentalidade que coloca o nosso «eu» e os seus próprios interesses e prioridades no centro da existência: não é isto que Jesus quer de nós! 

 

Decidir seguir Jesus, o nosso Mestre e Senhor, que se fez servo de todos, exige que caminhemos com Ele e que ouçamos atentamente a sua Palavra – lembremo-nos de ler todos os dias uma passagem do Evangelho.

 

Depois de termos lido esta passagem do Evangelho sentimos vontade de seguir Jesus mais de perto? 

 

Refletindo e rezando, deixemos que o Senhor nos fale!

 

frei Eugénio