2022-12-31

Dia Mundial da Paz - Ninguém pode salvar-se sozinho

 

Mensagem do Papa para o 56º dia Mundial da Paz

A Covid-19 precipitou-nos no coração da noite, desestabilizando a nossa vida quotidiana, transtornando os nossos planos e hábitos, subvertendo a aparente tranquilidade mesmo das sociedades mais privilegiadas, gerando desorientação e sofrimento, causando a morte de tantos irmãos e irmãs nossos.

(...)

Hoje somos chamados a questionar-nos: O que é que aprendemos com esta situação de pandemia? Quais são os novos caminhos que deveremos empreender para romper com as correntes dos nossos velhos hábitos, estar melhor preparados, ousar a novidade? Que sinais de vida e esperança podemos individuar para avançar e procurar tornar melhor o nosso mundo?

(...) 

Entretanto, quando já ousávamos esperar que estivesse superado o pior da noite da pandemia de Covid-19, eis que se abateu sobre a humanidade uma nova e terrível desgraça. 

(...) 

Na realidade, esta guerra, juntamente com todos os outros conflitos espalhados pelo globo, representa uma derrota não apenas para as partes diretamente envolvidas mas também para a humanidade inteira.  

(...) 

E assim somos chamados a enfrentar, com responsabilidade e compaixão, os desafios do nosso mundo.  

Devemos repassar o tema da garantia da saúde pública para todos; 

promover ações de paz para acabar com os conflitos e as guerras que continuam a gerar vítimas e pobreza; 

cuidar de forma concertada da nossa casa comum e implementar medidas claras e eficazes para fazer face às alterações climáticas; 

combater o vírus das desigualdades e garantir o alimento e um trabalho digno para todos, apoiando quantos não têm sequer um salário mínimo e passam por grandes dificuldades. 

Fere-nos o escândalo dos povos famintos

Precisamos de desenvolver, com políticas adequadas, o acolhimento e a integração, especialmente em favor dos migrantes e daqueles que vivem como descartados nas nossas sociedades. 

Somente despendendo-nos nestas situações, com um desejo altruísta inspirado no amor infinito e misericordioso de Deus, é que poderemos construir um mundo novo e contribuir para edificar o Reino de Deus, que é reino de amor, justiça e paz.

Texto integral aqui.

 

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho de Domingo de Santa Maria Mãe de Deus, 1 de Janeiro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.

 


 https://www.evangile-et-peinture.org


EVANGELHO (Lc. 2, 16-21)

Naquele tempo, os pastores dirigiram-se apressadamente para Belém e encontraram Maria, José e o Menino deitado na manjedoura. 

Quando O viram, começaram a contar o que lhes tinham anunciado sobre aquele Menino. 

E todos os que ouviam admiravam-se do que os pastores diziam.
Maria conservava todas estas palavras, meditando-as em seu coração. 
Os pastores regressaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes tinha sido anunciado.
Quando se completaram os oito dias para o Menino ser circuncidado, deram-Lhe o nome de Jesus, indicado pelo Anjo, antes de ter sido concebido no seio materno.
 
DIÁLOGO
 

56º DIA MUNDIAL DA PAZ -1º DE JANEIRO DE 2023

RESUMO DA MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO

NINGUÉM PODE SALVAR-SE SOZINHO.
JUNTOS, RECOMECEMOS A PARTIR DE COVID-19

PARA TRAÇAR CAMINHOS DE PAZ

«Quanto aos tempos e aos momentos, irmãos, não precisais que vos escreva. Com efeito, vós próprios sabeis perfeitamente que o Dia do Senhor chega de noite como um ladrão» (I Carta de São Paulo aos Tessalonicenses 5, 1-2).

 

Com estas palavras, o apóstolo Paulo convidava a comunidade de Tessalónica a que, na expectativa do encontro com o Senhor, permanecesse firme, com os pés e o coração bem assentes na terra, capazes dum olhar atento sobre a realidade e os factos da história. […]

 

2.

A Covid-19 precipitou-nos no coração da noite, desestabilizando a nossa vida quotidiana, transtornando os nossos planos e hábitos,

subvertendo a aparente tranquilidade mesmo das sociedades mais privilegiadas, gerando desorientação e sofrimento,

causando a morte de tantos irmãos e irmãs nossos.

 

Arrastados na voragem de desafios inesperados e numa situação que não era totalmente clara nem sequer do ponto de vista científico,

o mundo da saúde mobilizou-se para aliviar a dor de inúmeras pessoas

e procurar remediá-la;

e de igual modo fizeram as autoridades políticas, que tiveram de tomar medidas notáveis em termos de organização e gestão da emergência.

 

A par das manifestações físicas, a Covid-19 provocou – inclusive com efeitos de longa duração – um mal-estar geral, que se concentrou no coração de tantas pessoas e famílias, com implicações consideráveis, causadas por longos períodos de isolamento e diversas limitações da liberdade.    […]

 

3.

Passados três anos, neste início de 2023, é a ocasião de pararmos um pouco para nos interrogarmos, para aprendermos e crescermos e para nos deixarmos transformar, como indivíduos e como comunidades;

um tempo privilegiado para nos prepararmos para o «Dia do Senhor», expressão bíblica, que significa o triunfo de Deus sobre os seus inimigos e a transformação radical do universo.   

O papa Francisco tem relembrado numerosas vezes que dos momentos de crise, nunca saímos iguais: saímos melhores ou piores. […]

 

Hoje, somos chamados a nos questionarmos sobre os seguintes pontos:

1-O que é que aprendemos com esta situação de pandemia?

2-Quais são os novos caminhos que deveremos empreender para romper com as correntes dos nossos velhos hábitos, para estarmos melhor preparados e para ousar a novidade?

3-Que sinais de vida e de esperança podemos ter presentes para avançarmos e procurarmos tornar melhor o nosso mundo?

 

Certamente, tendo experimentado diretamente a fragilidade que carateriza a realidade humana e a nossa existência pessoal, podemos dizer que a maior lição que a Covid-19 nos deixa em herança é a consciência de que todos precisamos uns dos outros, que o nosso maior tesouro,

ainda que o mais frágil, é a fraternidade humana, fundada na filiação divina comum, e que ninguém se pode salvar sozinho.

[…]

A pandemia, permitiu-nos também de fazer descobertas positivas:

1-um benéfico regresso à humildade;

2-uma redução de certas pretensões consumistas;

3-um renovado sentido de solidariedade que nos encoraja a sair do nosso egoísmo, para nos abrirmos ao sofrimento dos outros e às suas necessidades;

4-um empenho, nalguns casos verdadeiramente heroico, de muitas pessoas que se sacrificaram para que todos conseguissem superar, do melhor modo possível, o drama das decisões urgentes que era preciso tomar.

 

De tal experiência, brotou mais forte a consciência que convida a todos, povos e nações, a colocar de novo no centro a palavra «juntos».

Com efeito, é juntos, na fraternidade e solidariedade,

que construímos a paz, garantimos a justiça, superamos os acontecimentos mais dolorosos.   […]

 

4.

Entretanto, quando já ousávamos esperar que estivesse superado o pior da noite da pandemia de Covid-19, eis que se abateu sobre a humanidade uma nova e terrível desgraça.

Assistimos ao aparecimento de outro flagelo, uma nova guerra:  a guerra na Ucrânia.       [ …]

Enquanto que para a Covid-19 se encontraram vacinas,

para a guerra ainda não se encontraram soluções adequadas.

 

Com certeza, o vírus da guerra é mais difícil de derrotar do que aqueles que atingem o organismo humano, porque esse vírus não provêm de fora, mas do íntimo do coração humano, corrompido pelo pecado (cf. Marcos 7, 17-23).  […]

 

5.

O que se nos pede que façamos neste ano de 2023?

Antes de mais nada, deixarmos mudar o coração pela emergência que estivemos a viver, ou seja, permitir que, através deste momento histórico,

Deus transforme os nossos critérios habituais de interpretação do mundo e da realidade.

[…]

 

Para vivermos melhor depois da emergência Covid-19, não se pode ignorar um dado fundamental:

as variadas crises morais, sociais, políticas e económicas

que estamos a viver encontram-se todas interligadas.

Os problemas que consideramos como singulares, na realidade um é causa ou consequência do outro.

 

E, assim, somos chamados a enfrentar com responsabilidade e compaixão os desafios do nosso mundo, tendo em atenção:

1-Garantia da saúde pública para todos;

2-Promover ações de paz para acabar com os conflitos e as guerras

que continuam a gerar vítimas e pobreza;

3-Cuidar de forma concertada da nossa casa comum

e implementar medidas claras e eficazes para fazer face às alterações climáticas;

4-Combater o vírus das desigualdades e garantir o alimento

e um trabalho digno para todos,

apoiando quantos não têm sequer um salário mínimo

e passam por grandes dificuldades;

5-Tratar eficazmente o escândalo dos povos famintos;

6-Desenvolver com políticas adequadas

o acolhimento e a integração, especialmente em favor dos migrantes

e daqueles que vivem como descartados nas nossas sociedades.

 

Somente dando o melhor de nós mesmos nestas situações,

com um desejo altruísta inspirado no amor infinito e misericordioso de Deus, é que poderemos construir um mundo novo e contribuir para edificar o Reino de Deus, que é reino de amor, justiça e paz.

 

O Papa Francisco compartilha estas reflexões com a esperança de que, no novo ano de 2023, possamos caminhar juntos valorizando tudo o que a história nos pode ensinar.

[…]

 

In:

https://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/peace/documents/20221208-messaggio-56giornatamondiale-pace2023.html

2022-12-24

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho da noite de Natal, missa do galo, 25 de dezembro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui

 


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EVANGELHO (LC. 2, 1 - 14) 

Naqueles dias, saiu um decreto de César Augusto, para ser recenseada toda a Terra.
Este primeiro recenseamento efetuou-se quando Quirino era governador da Síria.
Todos se foram recensear, cada um à sua cidade.
José subiu também da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à cidade de David, chamada Belém, por ser da casa e da descendência de David, a fim de se recensear com Maria, sua esposa, que estava para ser mãe.
Enquanto ali se encontravam, chegou o dia de ela dar à luz e teve o seu Filho primogénito. 
Envolveu-O em panos e deitou-O numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.
Havia naquela região uns pastores que viviam nos campos e guardavam de noite os rebanhos.
O anjo do Senhor aproximou-se deles, e a glória do Senhor cercou-os de luz; e eles tiveram grande medo.
Disse-lhes o anjo: «Não tenham medo, porque vos anuncio uma grande alegria para todo o povo: nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador, que é Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um Menino recém-nascido, envolto em panos e deitado numa manjedoura». ´
Imediatamente juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste, que louvava a Deus, dizendo: «Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens por Ele amados».

 

DIÁLOGO

No Evangelho da noite de Natal, lemos:

“chegou o dia de ela dar à luz

e teve o seu Filho primogénito.

Envolveu-O em panos e deitou-O numa manjedoura,

porque não havia lugar para eles na hospedaria.”

(Luc 2.7)

 

Nesta noite de 24 para 25 de Dezembro, em Belém, cristãos de todo o mundo estão na Basílica da Natividade para celebrar a missa da noite de Natal, a chamada «Missa do galo» no local onde a tradição nos diz que Jesus nasceu.

 

Permitam-me imaginar, e convido-o(a)s a imaginar comigo, que o Patriarca Latino de Jerusalém que preside à celebração, anunciava que tinha uma  revelação sensacional a fazer.

 

Seria esta a revelação:

Foram feitas pesquisas arqueológicas aqui, sob a Basílica da Natividade e os arqueólogos, no maior segredo, descobriram uma manjedoura, que reconheceram cientificamente como tendo cerca de 2020 anos de idade.

Por um fenómeno ainda desconhecido, a manjedoura ainda tinha a palha que os animais comiam há 2020 anos, sem se ter degradado, quando Jesus nasceu.

 

Conseguem imaginar o que aconteceria, a seguir a esta revelação desta descoberta arqueológica absolutamente extraordinária, tornada pública pelo Patriarca Latino de Jerusalém?

 

Podemos imaginar quanto valeria cada pequena palha da manjedoura?

O Vaticano, igrejas e museus do mundo inteiro e também colecionadores de arte religiosa, fariam todos os possíveis por ter uma relíquia sensacional: uma pequena palhinha da manjedoura onde Jesus Emmanuel, o Filho de Deus e o filho de Maria, tinha sido deitado por sua Mãe.

A sofisticada segurança antirroubo a garantir pela Basílica de Belém, a especulação desenfreada sobre o custo de cada palhinha e muito mais, seria o que neste nosso mundo todos os meios de comunicação iriam dar um enorme relevo e super-valorizar.

 

Mas nós, cristãos a celebrar na alegria a Natividade de Jesus Emanuel e que queremos seguir o Seu exemplo e os Seus ensinamentos, iriamos também entrar nessa explosão mediática?

E o que o próprio Jesus de Nazaré valorizou durante toda a sua curta vida, de acordo com os critérios de Deus-Pai?

 

As palhinhas «milionárias» passariam também a ser as mais valorizadas por nós?

Mas se o sensacional não viesse alterar as nossas convicções de seguidores de Jesus, o que deveríamos continuar a valorizar seria sempre o que Jesus veio valorizar e o que nos ensinou.

 

Podemos então continuar a imaginar!

As palhinhas que pomos nas manjedouras dos presépios que fazemos,  podiam representar cada um de nós, com o que vivemos e com o que apreciamos no nosso mundo, quando usamos os critérios de Jesus para darmos valor às pessoas e às  suas atitudes e comportamentos.

Segundo os Evangelhos, Jesus mostrou e ensinou isto de muitos modos.

 

Relembremos apenas alguns exemplos:

a pobre viúva a dar umas moedinhas no templo, o centurião a pedir que o seu servo fosse curado à distância, a mulher samaritana que vai buscar água ao poço na hora do maior calor,

a mulher pecadora que unge os pés de Jesus, o valor do que é feito aos socialmente mais insignificantes…

 

Diz-se que há crianças «que nascem num berço de ouro».

Mas Jesus, se virmos bem, nasceu num "berço vivo".

O berço de Jesus está cheiinho de Vida, porque Ele, o Filho de Deus, Seu e nosso Pai, veio assumir plenamente toda a humanidade, tudo o que faz parte do ser humano.

Nenhuma pessoa fica de fora para Ele!

 

Desde o seu nascimento, que as facetas mais contraditórias já estavam presentes na Sua vida:

Ele é o filho de uma rapariga ainda solteira, mas que é abençoada por Deus. 

Os anjos cantam a sua glória, mas ao mesmo tempo ele foi concebido por um pai desconhecido.

Ele é descendente de uma linhagem real e não tem sequer um lugar digno e limpo para nascer.

 

Ele é visitado pelos mais pobres e modestos da região - os pastores - e também por homens sábios que vêm de terras longínquas.

Simeão o velho sacerdote, no Templo, reconhece aquele bébé como sendo a luz do mundo. Porém, com Maria e José, essa luz do mundo tem de fugir à pressa para o Egipto, onde se refugiaram para escapar a uma bárbara matança de crianças.

 

Desde a sua conceção no seio de Maria até à Sua vinda prometida no final dos tempos, só encontramos pontos de interrogação, estamos cheios de interrogações e de perguntas e não de provas e de respostas.

 

No entanto, a vida de Jesus revela-nos a inimaginável proximidade com que Deus quer estar connosco.

Não apenas como Aquele que nos acompanha e nos protege, mas como Aquele que se quis tornar carne da nossa carne, totalmente igual a nós (exceto no pecado).

 

Para descobrirmos quem Deus é, e o que Ele quer para nós e para este mundo é em Jesus, o Filho de Deus tornado homem que o podemos descobrir.

É na sua humanidade que podemos descobrir a divindade.

 

Também o que podemos saber sobre a vida das pessoas mais próximas de Jesus é muito pouco.

Sobre Maria, a sua mãe, apoiando-nos nos Evangelhos, ficamos cheios de pontos de interrogação.

Também sobre José, marido de Maria, pouco sabemos.

 

Quanto aos apóstolos e às santas mulheres que O seguiam e aos Seus discípulos, constatamos que também se interrogavam com frequência: Quem é este homem, Jesus de Nazaré?

 

A revelação do Amor de Deus e o Seu plano de libertação e de felicidade para todas as pessoas estão cheios de interrogações.

É um Amor que nos escapa!

Mas a nossa vida de fé consiste em acreditar, dia a dia, que Deus cumpre as promessas que nos fez por Jesus.

 

Podemos descobrir que desde o seu nascimento, mesmo desde a sua conceção, Jesus vem dizer-nos e mostrar-nos quem Deus é e o que Deus quer para nós e para o mundo onde vivemos.

 

Para os crentes judeus e mais tarde para crentes de outras religiões, entra elas o Islão, o que foi e é, mais surpreendente é esta proximidade tão íntima de Deus com a humanidade.

 

No nascimento e vida de Jesus, ele revela-se Emmanuel, isto é, «Deus connosco», de uma forma que frequentemente nos surpreende,

especialmente em situações de fragilidade, fraqueza, dor e sofrimento e de dependência.

 

Vem, Jesus Emmanuel,

Tu que nos revelas

o Rosto humano de Deus!

 

       frei Eugénio op

 

2022-12-23

Natal da Ucrânia


Natal este ano na Ucrânia, nas palavras do bispo auxiliar de Kiev e presidente da Caritas-Spes, Oleksandr Yazlovetskiy:

“Certamente será um Natal diferente dos anos anteriores. As luzes estão a faltar. E falta a mesa cheia de comida, falta o calor nas casas. Mas na escuridão em que nos afundámos, vemos melhor o que é essencial.”

O bispo acrescenta ainda: “Quando tudo está iluminado, quando as cidades se enchem de luzes, música e enfeites de Natal, é difícil ver o verdadeiro significado do Natal que é Jesus. 

Aqui, no escuro, vivemos o essencial da festa que é o nascimento de Deus na terra. Pelo menos assim o espero, mas vejo muitos à minha volta que estão preparados para viver esta espera de uma forma diferente este ano e que, apesar de tudo, não perdem a alegria do Natal que se aproxima.”

Perguntaram ainda ao bispo se tem medo de organizar as comemorações de Natal devido ao risco de ataques. A resposta é eloquente: “Sim, também porque [os militares russos] atacam especialmente quando há feriados. Estamos com medo. Mas o nos

so povo parece ser mais corajoso do que os bispos e padres. Temos procurado, por exemplo, celebrar missas mais durante o dia e, sobretudo, nos feriados de forma a evitar aglomerações. Mas os fiéis querem vir. Nunca falta ninguém nas igrejas”.

in: 7Margens

2022-12-17

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 4º Domingo do Advento, 18 de dezembro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui

 



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EVANGELHO (Mt 1, 18-24) 

O nascimento de Jesus deu-se do seguinte modo: Maria, sua Mãe, noiva de José, antes de terem vivido em comum, encontrara-se grávida por virtude do Espírito Santo. 

Mas José, seu esposo, que era justo e não queria difamá-la, resolveu repudiá-la em segredo. 

Tinha ele assim pensado, quando lhe apareceu num sonho o anjo do Senhor, que lhe disse: «José, filho de David, não temas receber Maria, tua noiva, pois o que nela se gerou é fruto do Espírito Santo. 

Ela dará à luz um Filho, e tu pôr-Lhe-ás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados».

Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor anunciara por meio do Profeta, que diz: 

«A Virgem conceberá e dará à luz um Filho, que será chamado Emanuel, que quer dizer Deus connosco». 
Quando despertou do sono, José fez como o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu sua noiva.
 
DIÁLOGO 

Este episódio do Evangelho de Mateus pode ser chamado "a anunciação a José". 

Conhecemos bem outro anúncio, o da "Anunciação a Maria pelo anjo Gabriel" narrado no Evangelho de Lucas, que tem sido objeto de muitas representações na arte: pinturas, ícones, vitrais.
 
É interessante reparar que nas pinturas e ícones mais antigos do cristianismo que representam o nascimento de Jesus, José aparece com um ar pensativo e por vezes num dos cantos do quadro e não ao centro, como nos presépios que conhecemos.
Os artistas entendiam bem o drama de José e as decisões que teve de tomar.
 
O evangelista Mateus não nos conta o anúncio a Maria, mas coloca-nos em contacto com José, que descobre que a sua noiva está grávida.
É este acontecimento que nos é proposto hoje, neste 4º Domingo do Advento, para nos prepararmos para o nascimento de Jesus, que celebramos no Natal.
 
Vejamos mais em pormenor esta "anunciação a José".
Os sonhos na Bíblia estão sempre relacionados com intervenções de Deus, que assim faz sentir a Sua Presença e a Sua Vontade.
 
É esta a situação no sonho de José, narrado apenas no Evangelho de Mateus.
 
Mostra-nos o questionamento do futuro marido da Maria de Nazaré, que até pensa em repudiá-la, quando descobre que ela está grávida, sem que eles tenham ainda vivido juntos.
Nós entendemo-lo muito bem!
 
A intervenção divina toma a forma de um anjo que lhe diz:
"José, filho de David, não temas receber Maria, tua noiva, pois o que nela se gerou é fruto do Espírito Santo.
 
Ela dará à luz um Filho e tu pôr-Lhe-ás o nome de Jesus, porque Ele salvará o povo dos seus pecados".
A mensagem não podia ser mais clara!
O anjo dirige-se a ele como "José, filho de David".
 
Recorda-lhe as suas raízes e a sua ligação com a linhagem do Rei David.
Ele sabe que faz parte de um povo que espera pelo Messias prometido, chamado o «novo David», que salvará o povo que Deus ama e com quem tinha feito uma aliança.
 
Em José, temos um jovem cheio de fé em Deus e ansioso por responder positivamente aos Seus apelos.
Embora enigmaticamente, ele percebe, pelo sonho que teve,
que em Maria houve uma ação de Deus.
 
É por isso que a sua resposta não demora e é clara:
“Quando despertou do sono, José fez como o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu sua noiva.”
 
A atitude de José é esclarecedora sobre a vinda de Deus que se faz Emmanuel, «Deus connosco», porque nos ensina dois aspetos muito importantes sobre este grande mistério da Encarnação de Deus, isto é, Deus que se fez homem.
 
O primeiro é a origem divina desta criança que Maria deu à luz.
A sua conceção é obra do Espírito Santo.
 
Os acontecimentos da vida futura desse menino não são conhecidos nem por José nem por Maria, como é o caso de todos os pais que acolhem uma criança.
 
Mas ambos têm uma confiança extraordinária em Deus, porque reconhecem a ação de Deus em tudo aquilo que estão a experimentar.
Ao fazê-lo, e este é o segundo aspeto a salientar, eles permitem que Deus tome carne num corpo humano.
 
Este é o lado humano do mistério da Encarnação: Jesus Cristo, perfeitamente Deus e perfeitamente homem.
Estas duas realidades, a realidade divina e a realidade humana, não só coexistem em Jesus, como estão intimamente ligadas ao ponto de uma não passar sem a outra.
 
Quando olhamos para o filho de Maria, vemos o seu filho formado na sua carne e inserido, através da aceitação de José de receber Maria como esposa, numa linhagem humana à qual ele está ligado.
 
Também podemos ver o Filho de Deus, a Palavra de Deus feita carne, a vir entre nós, como um de nós, humanos.
 
O carácter divino de Jesus ainda não está claramente manifestado na altura desta anunciação a José.
É na fé de José e na de Maria que O podemos acolher.
 
Mas nós sabemos, o que José e Maria não sabiam:  
que esta criança se tornaria, na sua morte na cruz e na sua ressurreição, o Salvador do mundo, prometido por Deus.
 
Estamos apenas a alguns dias do Natal, a festa da Natividade do Salvador.
Estes dias do Advento, que continuaremos a viver, são-nos dados para seguirmos os passos de José e de Maria, que admiravelmente prestaram atenção aos sinais da presença de Deus no mundo e nos acontecimentos das suas vidas.
 
A estes dois jovens, José e Maria, não lhes faltou confiança, apesar das grandes interrogações que tiveram.
 
Sigamos o seu exemplo e peçamos ao Senhor que nos ajude a superar as nossas dúvidas e hesitações e a avançar com confiança no caminho da fé na sua Palavra, que não nos pode enganar.
 
Foi através desta fé de Maria e de José que o plano de Deus tomou forma e que o mundo veio a conhecer, em Jesus, o Seu Amor de Pai
e a Sua Bondade para com aqueles que ainda andavam na escuridão.
 
Que Jesus Emmanuel nos una a Ele, cada vez mais intimamente,
Ele que se tornou um de nós, para nos levar com Ele até junto do Seu e nosso Pai. 

        frei Eugénio Boléo, op


 


2022-12-10

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 3º Domingo do Advento, 11 de dezembro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui

 


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EVANGELHO (Mt 11, 1-11)

Naquele tempo, João Batista ouviu falar, na prisão, das obras de Cristo e mandou-Lhe dizer pelos discípulos:
«És Tu Aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?».
Jesus respondeu-lhes: «Ide contar a João o que vedes e ouvis:
os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a boa nova é anunciada aos pobres.
E bem-aventurado aquele que não encontrar em Mim motivo de escândalo».
Quando os mensageiros partiram, Jesus começou a falar de João às multidões: «Que fostes ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento?
Então que fostes ver? Um homem vestido com roupas delicadas? Mas aqueles que usam roupas delicadas encontram-se nos palácios dos reis.
Que fostes ver então? Um profeta? Sim – Eu vo-lo digo – e mais que profeta.
É dele que está escrito: "Vou enviar à tua frente o meu mensageiro, para Te preparar o caminho".
Em verdade vos digo: Entre os filhos de mulher, não apareceu ninguém maior do que João Batista. Mas o menor no reino dos Céus é maior do que ele».
 
 
DIÁLOGO
 
O texto proposto para hoje, (Mateus 11, 2-11) apresenta a dúvida de João quanto a Jesus ser o Messias (vv. 2-3) e a resposta do próprio Jesus (vv. 5-6), seguida de um importante testemunho a respeito do seu “precursor” (vv. 7-11). Alguns estudiosos chamam a esta passagem “a crise de João Batista”.

A dúvida apresentada no Evangelho de hoje deve-se ao facto de que Jesus não correspondeu, como Messias, às expectativas alimentadas por João Batista.

Mas, quais foram as expectativas alimentadas por João Batista?
Ele esperava um Messias que viesse mais para condenar do que para salvar, por isso ficou dececionado, uma vez que Jesus veio sobretudo para salvar (cf. Lc 19,10). João anunciou um Messias demasiado severo, enquanto Jesus veio pleno de misericórdia.

Vamos partir da primeira informação: “João estava na prisão” (v. 2a).
Uma vez preso, João poderia dar como cumprida a sua missão, uma vez que, ao contrário de todos os profetas que vieram antes, ele conseguiu ver o Messias com os próprios olhos, e até o tinha batizado no rio Jordão. (cf. Mt 3,14-15)
Houve, assim, uma inquietação em João: “tendo ouvido falar das obras do Cristo” (v. 2b).
De facto, as obras de Jesus eram preocupantes para quem tinha idealizado o Messias esperado através das antigas tradições judaicas.

E, se as obras de Jesus deixaram João surpreendido, muito mais ainda deve ter ficado com as palavras d’Ele, tais como: “Felizes os mansos, felizes os misericordiosos, felizes os que promovem a paz” (Mt 5,4.7.8), “amai os vossos inimigos” (Mt 5,43), “não julgueis para não serdes julgados” (Mt 7,1).
Foi ouvindo falar sobre isso, e muito mais, que João enviou alguns dos seus discípulos para fazerem uma pergunta muito direta a Jesus.

A pergunta de João deixa muito clara a sua preocupação:
“És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?”(v. 3).
Mais que preocupação, essa pergunta refletia a sua angústia e desilusão.

Por isso, a resposta de Jesus foi muito serena, mas cheia de vida e de convicção: “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados” (vv. 4-5).

Jesus não responde com o tradicional «sim ou não», responde indicando o efeito das suas obras, sobre as quais João ouviu falar e que lhe causaram preocupação, por não corresponderem ao que esperava do Messias.

Na resposta de Jesus estava a certeza de que o Reino dos Céus estava próximo. Segundo João (cf. Mt 3,2), tinha, finalmente, chegado esse Reinado para incluir as pessoas e para poderem ter uma vida renovada.

A seguir, Jesus faz um grande elogio de João Batista, quando os seus discípulos se foram embora levando a resposta.

Jesus reconheceu a importância de João Batista, interpretando-a, à luz da Escritura, através da profecia de Malaquias (cf. Ml 3,1): “É dele que está escrito: ‘eis que envio o meu mensageiro à tua frente...” (v. 10).

Fez-lhe um elogio tão grande, a tal ponto que o considera o maior dos seres humanos que tinham vivido até então.

Mas Jesus termina de modo surpreendente: “Mas o menor no Reino dos Céus é maior do que ele”.
Para entrar nesse Reino, não contam os títulos de honra e a importância  pessoal e social, mas apenas a adesão livre ao projeto libertador de Jesus, cujo critério principal de pertença é a capacidade de, à Sua imagem, se tornar pequeno e servidor.
Não se trata de uma desvalorização de João Batista, mas de salientar que Jesus inaugura uma nova humanidade em todos os sentidos.

Podemos aprender com João Batista a não ter medo de duvidar; é na dúvida que a fé autêntica pode crescer e se tornar sólida.
Mas, o que precisamos mais é de querermos participar no Reinado de Jesus Ressuscitado com o Seu modo de ser humano, amando e servindo como Ele.
É assim que nos podemos aperceber, na experiência da fé, que o Senhor já está aqui e agora connosco, no meio de nós!

   frei Eugénio op 


 
 

 



 

2022-12-03

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 2º Domingo do Advento, 4 de dezembro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui

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EVANGELHO (Mt 3, 1-12)

Naqueles dias, apareceu João Batista a pregar no deserto da Judeia, dizendo:
«Arrependei-vos, porque está perto o reino dos Céus».
Foi dele que o profeta Isaías falou, ao dizer: «Uma voz clama no deserto: "Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas"».
João tinha uma veste tecida com pelos de camelo e uma cintura de cabedal à volta dos rins.
O seu alimento eram gafanhotos e mel silvestre.
Acorria a ele gente de Jerusalém, de toda a Judeia e de toda a região do Jordão; e eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados.
Ao ver muitos fariseus e saduceus que vinham ao seu batismo, disse-lhes: «Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir?
Praticai ações que se conformem ao arrependimento que manifestais.
Não penseis que basta dizer: "Abraão é o nosso pai", porque eu vos digo: Deus pode suscitar, destas pedras, filhos de Abraão.
O machado já está posto à raiz das árvores.
Por isso, toda a árvore que não dá fruto será cortada e lançada ao fogo.
Eu batizo-vos com água, para vos levar ao arrependimento.
Mas Aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu, e não sou digno de levar as suas sandálias. Ele batizar-vos-á no Espírito Santo e no fogo.
Tem a pá na sua mão: há de limpar a eira e recolher o trigo no celeiro. Mas a palha, queimá-la-á num fogo que não se apaga». 

 

DIÁLOGO

No Evangelho de São Mateus, que acabámos de ler, vamos olhar para as três personagens centrais:
João, o Baptista; o grupo dos ouvintes e "Aquele que está para vir".
Olhando para eles, somos convidados a entrar nesta viagem de Advento que nos leva até ao Natal, uma viagem difícil, mas estimulante.
Quando João Batista começou a sua pregação, a ocupação romana durava há cerca de noventa anos.
O rei Herodes tinha sido deixado no seu lugar pelos romanos, mas era detestado pelo seu povo.
Os grupos religiosos judaicos estavam divididos e não era claro em quem se podia acreditar.
Havia colaboradores com a ocupação romana, mas também quem havia fomentado a oposição revoltada.
Foi neste contexto que João Batista começou a pregar.
Vivia no "deserto" da Judeia (entre o Jordão e Jerusalém).
Mas, de facto, esta região não era totalmente deserta, mas o que interessava ao evangelista Mateus, não era o grau de aridez, mas o significado espiritual do deserto, pois ele tinha bem presente a experiência de Israel, de andar no deserto durante o Êxodo.
 

E como é que João é caracterizado?
Ele é chamado “o Batista”, o que significa que ele é reconhecido sobretudo como um batizador.
Ao fazer mergulhar nas águas do Jordão as pessoas que se reuniam à sua volta, ele estava a convidá-las, através deste gesto, a um processo de conversão, com uma atitude de arrependimento, em que deviam deixar-se ser "purificadas e refeitas" por Deus.
Ao fazê-lo, ele dizia-lhes que "o Reino de Deus está próximo".
João Batista aparecia como sendo, em tudo, semelhante aos profetas do Antigo Testamento: desde a sua roupa feita de pêlo de camelo até à sua comida (gafanhotos e mel silvestre, típicos dos ascetas do deserto) e ao estilo de pregação.
Como os profetas, João tinha uma linguagem dupla:
Simpática e encorajadora para os humildes,
dura, mesmo ameaçadora, para os orgulhosos.
 

A figura de João Batista anunciava a realização de uma salvação, que há muito se esperava.
Esta salvação requeria um acolhimento pessoal, verdadeiro e incondicional.
A aceitação das promessas de Deus exigia deixarem-se purificar dos seus próprios pontos de vista, a fim de os ajustarem à Vontade de Deus.
É olhando para os ouvintes, que se aglomeravam à volta de João Batista, que aprendemos, nós também, como podemos fazer  o mesmo que eles.
Os que iam ouvir João eram, na sua maioria, pessoas simples de Jerusalém, de toda a Judeia e de toda a região da Jordânia.
O objetivo era tranquilizar e encorajar os mais modestos socialmente, mas também despertar aqueles que pensavam já ter chegado a um elevado grau de virtude, chamando-lhes a atenção para as incoerências do seu comportamento.
A estes ouvintes, João Batista lembra-lhes os ensinamentos dos profetas, mas fá-lo, não tendo em vista um Dia do Senhor longínquo, mas num tom em que se destacava a proximidade dessa Vinda.
Uma Vinda que exigia que abrissem os seus corações, as suas mentes e as suas vontades, que aceitassem mudar as suas prioridades e escolhas, para as colocar com a importância que Jesus queria.
Entre os seus ouvintes havia também fariseus e saduceus, dois grupos de seguidores, pertencendo à elite religiosa judaica, que iriam ser fortemente advertidos:
“Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir?”
Mas, mais do que um insulto, a expressão "raça de víboras" é um aviso, que equivalia a dizer; "vocês são da mesma raça da serpente tentadora, que seduziu  Adão e Eva no Paraíso terrestre".
João incitava-os a produzirem frutos de arrependimento. 


Pois estes membros da elite religiosa, eram os mais propensos a permanecer agarrados às suas práticas e aos seus ritos, às suas prioridades no cumprimento da Lei, aos seus hábitos, como diz a sabedoria popular: “a olhar para o seu umbigo”, o seu próprio EU.
Isso impedia-os de olhar e de ver Aquele Salvador que estava a chegar, Jesus.
A terceira personagem desta narrativa evangélica é "Aquele que está para chegar".
João Batista diz que é Jesus, que “irá batizar-vos no Espírito Santo e no fogo".
Para isso usa a imagem do fogo.
O agricultor, na altura da colheita, faz uma triagem semelhante: o grão será recolhido no celeiro, o joio será queimado.


O que é bom em cada um de nós, mesmo que seja pouco, será preciosamente colhido e guardado.
Em cada um de nós, tudo o que possa ser salvo, será salvo.
João Batista tem outra forma muito visual de nos dizer quem é Jesus: "Aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu, e eu não sou digno de lhe tirar as sandálias."
Podemos imaginar a cena: para entrar no rio Jordão, quem estivesse a usar algum  tipo de calçado, tinha de o tirar antes de entrar na água.
Quando um homem importante tinha um escravo, era o escravo que lhe desatava as suas sandálias.
Mas se tivesse perto um discípulo, este considerava-se acima do escravo e não se baixava para desatar as sandálias do seu mestre.


Por que é que João Batista, que se encontrava na situação de mestre, se situa em segundo plano em relação ao recém-chegado?
Jesus é aquele que irá batizar, isto é, que irá mergulhar e fazer imergir a humanidade pelo fogo do Espírito Santo:
"Eu batizo na água (implicando que sou apenas um homem); Ele irá batizar-vos no Espírito Santo".
As nossas vidas, como cristãos no século XXI, ainda são marcadas por esta pregação de João Batista.
É por isso que todos os anos, durante a época do Advento, revivemos este momento vivido entre João, a multidão e Jesus.


Os seus desafios ressoam nos nossos corações e convidam-nos a preparar humildemente os caminhos do Senhor, de acordo com os nossos modestos meios.


           frei Eugénio op