2007-12-20

Eco do Evangelho segundo S. Lucas 1,26-38 - Quinta-feira, 20-12-2007


No Evangelho de hoje dois aspectos me chamaram a atenção: a Fé de Maria que não questiona a vontade de Deus transmitida pelo anjo, e a obediência expressa na resposta: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.”

Quantos de nós teríamos coragem para dizer isto? Quantos de nós seríamos capazes de perante um pedido de Deus (e são tantos aqueles que Ele nos faz mas para os quais somos surdos) termos a fé suficiente para não questionar a Sua vontade?


A minha resposta é, infelizmente, a de que ainda não consegui alcançar esta Graça porque a minha fé não é suficientente forte e perseverante.

Mas, como escrevi uma vez, espero que a Misericórdia do meu Senhor Lhe permita aceitar-me como pecador que sou e, na pela Sua enorme Bondade, conceder-me um dia a Graça de ver mais longe pela inspiração do Espírito Santo que penetrou no meu coração, pelo Sacramento do Baptismo e da Confirmação.

A todos os que comungam da mesma fé, exorto hoje a rezarem dizendo algumas das palavras do Salmo 50:

Compadecei-Vos de mim, ó Deus, pela vossa bondade,
pela vossa grande misericórdia, apagai os meus pecados.
Lavai-me de toda a iniquidade
e purificai-me de todas as faltas.
Porque eu reconheço os meus pecados

e tenho sempre diante de mim as minhas culpas.
Pequei contra Vós, só contra Vós,
e fiz o mal diante dos vossos olhos.
Criai em mim, ó Deus, um coração puro
e fazei nascer dentro de mim um espírito firme.
Não queirais repelir-me da vossa presença
e não retireis de mim o vosso espírito de santidade.
Dai-me de novo a alegria da vossa salvação
e sustentai-me com espírito generoso.
Abri, Senhor, os meus lábios
e a minha boca anunciará o vosso louvor.

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.

2 comentários:

  1. «Dai-me de novo a alegria da vossa salvação
    e sustentai-me com espírito generoso.»
    que os presentes - a dar e a receber - sejam pretextos de Alegria acolhida e repartida!
    salvai-me senhor da tirania das coisas que se tornam opacas e não deixam passar a «Luz que veio e vem ao mundo para iluminar todos os homens»
    vem Senhor Jesus!

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  2. 2007.12.23

    LITURGIA PAGÃ


    Pagão provém do latim pagus = marco de terreno, aldeia,

    por oposição à cultura citadina. O radical indo-europeu pak (donde pau) designa a união, estabilidade e a força próprias de Pacto e Paz.

    Página também deriva do mesmo étimo, significando originalmente

    campo lavrado em esquadria respeitando um marco («pau») bem fixo,

    ao que se assemelha uma folha de papel escrita.

    Liturgia deriva do grego laos (povo, leigo) e ergon (trabalho),

    donde «serviço público».

    Liturgia pagã é o esforço de trabalhar com Deus

    com a liberdade, consciência e humildade de ser «pagão».



    4º domingo do Advento (ano A)

    1ª leitura: Livro de Isaías, 7, 10-14

    2ª leitura: Carta aos Romanos, 1, 1-7

    Evangelho: S. Mateus, 1, 18-24



    «Nossos filhos não são nossos,

    são filhos e filhas da Vida»


    É uma citação do célebre livrinho «O Profeta». Sempre me impressionou este poema, e logo me veio à memória, ao ler a leitura de Isaías.

    Isaías não se refere a Jesus Cristo, mas ao próximo rei de Israel, que fomentaria a ligação dos homens com Deus. «Emanuel» significa «Deus connosco» – a inabalável aliança de Deus com os Homens. Apesar da decadência religiosa durante o ímpio reinado de Acaz, Isaías lembra a promessa de Deus: «O Senhor, por sua conta e risco, vos dará um sinal. Olhai: a jovem está grávida e vai dar à luz um filho, e há-de pôr-lhe o nome de Emanuel». A solenidade com que esta profecia foi anunciada testemunha como o profeta sentia particularmente a força do Espírito, que a seu tempo fecundaria a terra para que esta produzisse o fruto mais sonhado – o Messias Salvador. Assim começa, entre os vários livros proféticos atribuídos a Isaías, o Livro Da Consolação, também chamado o Livro do Emanuel.

    Quando o evangelho de hoje relata a gravidez de Nossa Senhora, cita esse texto (1ª leitura). S. Mateus é o evangelista que mais se preocupa com mostrar como o Antigo Testamento, através das mais variadas profecias e acontecimentos, se destinava a preparar a vinda de Jesus Cristo, dando o sentido profundo das antigas Escrituras sagradas. O evangelista, de acordo com a mentalidade religiosa do tempo, atribuiu a Maria uma gravidez «milagrosa»; para José, Maria apareceu como mãe solteira, e por isso já tinha o direito legal (próprio dos esponsais desse tempo) para se divorciar. Mas o seu amor a Maria era tanto e tão profundamente justo, que “obrigou” o Espírito da Vida e do Amor a revelar a José como era extraordinário o plano de acção a favor da Humanidade. Assim se desenvolve e aprofunda o ambiente sobrenatural do nascimento de Jesus, muito significativamente num quadro dramático entre pessoas que se amam.

    Convenhamos que uma experiência tão forte de Deus de certeza que atrapalha a normalidade das relações humanas e nos obriga a ver a vida de outra maneira. Novamente, foi por meio de uma revelação do Espírito da Vida, que S. José sentiu dever dizer «sim» ao convite de Deus para o lugar de Pai na «sagrada família». E foi José que «interpretou» o sentido das Escrituras, dando ao seu surpreendente filho o nome não de Emanuel mas de Jesus («o Senhor salva»).

    O que interessa é este ambiente de amor entre um casal, de amor a Deus e a toda a Humanidade, não se negando a situações bem difíceis para colaborar com a força do Bem, que é o Espírito de Deus.

    Como a Maria e a José, corajosamente abertos às surpresas da Vida, também o Espírito nos é oferecido, a todos nós, com o nascimento de cada criança. A Força da Vida é tal, que o Espírito nos lança o convite ao nosso amor e responsabilidade, sempre que nascem as esperanças do futuro da nossa espécie humana.

    Mesmo nos bébés disformes, débeis, abandonados ou prematuramente mortos, mantém-se o convite à nossa colaboração no plano do Espírito da Vida. Nestas circunstâncias, é que o nosso Amor e Responsabilidade é posto à prova, pois tudo parece errado e injusto. «Como é que posso dizer «sim» em situações tão estranhas?» – podíamos perguntar como Maria no momento da Anunciação, ou como José no momento do impensável. A resposta também poderia ser semelhante: «O Espírito da Vida nos cobrirá com a sua Força» – a Força que leva os seres humanos a investigar e inventar os mais adequados tipos de resposta ao nosso alcance, na mira de um mundo sempre melhor. Todas as crianças são nossas filhas pois todos nos preparamos o melhor possível para as lançar ao encontro da Vida. E com diálogo mais ou menos feliz, mas sobretudo com muita esperança, vivemos com elas, enquanto for o nosso tempo, a aventura da Vida a que todos nós pertencemos.

    Para ouvir a Vida, precisamos de um ambiente propício, um momento de silêncio, que surge sempre que olhamos com amor as crianças à nossa volta, e quando temos presente o mistério de cada criança na história do Mundo.

    A força do Espírito da Vida presente em Jesus, um ser humano como todos nós, manifestou-se na sua ressurreição. O menino que agora festejamos «em sono profundo» ao colo da Mãe, passará a sua curta vida a chamar os Homens para com ele defenderem a vida presente em cada ser humano; e para adquirirem a plenitude da Alegria, porque somos chamados a participar da sua ressurreição – todos nós, que igualmente nascemos na frágil condição de uma criança.



    MANUEL ALTE DA VEIGA.

    m.alteveiga@netcabo.pt

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