2011-04-18

O Cristianismo resignou-se


Martin Luther King notou que o amor e uma acção assente sobre ele podiam tornar-se "um poder social eficaz em larga escala, ultrapassando assim uma mera interacção entre pessoas singulares". (...) "Para Ghandi, o amor era um poderoso instrumento de transformação social e colectiva. Na sua doutrina do amor e do pacifismo, descobri método para uma reforma social que procurava há meses. (...) Cheguei à convição de que este era o único método aceitável, em termos morais e práticos, na luta de um povo reprimido na sua liberdade".
No momento da sua entrada na história da Humanidade, o cristianismo possuíra um enorme potencial de mudança, mas não conseguira preservar este ímpeto revolucionário do cristianismo primitivo. Com efeito, este élan perdeu-se quase totalmente, tornando o cristianismo vulnerável a comportamentos reacionários. «O mundo ocidental, habituado ao espetáculo de altos representantes da igreja cristã lado a lado com a alta finança e os generais, transformou a sua prática no contrário da sua teoria.».
O cristianismo resignou-se, tornou-se demasiado modesto, exigindo muito pouco de si mesmo. «O cristianismo enquanto movimento caritativo – meu Deus, ninguém duvida disso. Mas esta religião não terá optado pelo amor ao próximo apenas para não começar o outro, o decisivo, o amor ao inimigo?». King compreendia assim o significado profundamente pessoal, mas também político, do mandamento do amor ao inimigo. «Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem» (Mateus, 5:44).
in "Martin Luther King", de Gred Presler, Expresso, 2011 

1 comentário:

  1. Fixei a frase que diz que o amor ao próximo serve para não começar o amor ao inimigo. Isso chamou-me a atenção para a parábola do bom samaritano. Jesus teve o cuidado de apresentar o exemplo do samaritano num gesto de amor pelo seu inimigo judeu.

    António da Veiga

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