Diálogo com o Evangelho deste Domingo, 10 de janeiro, Domingo do Batismo do Senhor, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.
Naquele tempo, João começou a pregar, dizendo:
«Vai chegar depois de mim quem é mais forte do que eu,
diante do qual eu não sou digno de me inclinar para desatar as correias das suas sandálias.
Eu batizo na água,mas Ele batizar-vos-á no Espírito Santo».
Sucedeu que, naqueles dias, Jesus veio de Nazaré da Galileia e foi batizado por João no rio Jordão.
Ao subir da água, viu os céus rasgarem-se e o Espírito, como uma pomba, descer dentro d’Ele.
E dos céus ouviu-se uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado, em ti Eu me agradei.»
DIÁLOGO
Comecemos por chamar a atenção para a originalidade deste Evangelho de Marcos.
Os Evangelhos de Mateus e de Lucas contam o nascimento de Jesus e o Evangelho de João proclama que a Palavra existia antes da criação e que a Palavra era Deus e que essa Palavra se fez homem.
Mas o Evangelho de Marcos começa logo a falar de João Batista, como sendo um profeta muito popular, sem qualquer apresentação prévia.
João pregava que Deus estava prestes a fazer coisas tão grandiosas, que não bastava que o povo estivesse à espera, numa expectativa de fé, mas que era urgente que se preparasse para essa vinda, reconhecendo as faltas de amor a Deus e ao próximo, pedindo perdão e aceitando esse perdão de Deus, através do ritual do batismo de conversão nas águas do Jordão.
Em seguida, de repente, Marcos diz: "Aconteceu naqueles dias que Jesus veio de Nazaré da Galileia".
Com toda a simplicidade, Marcos está a responder à questão que os estudiosos da Escritura punham há muito tempo: Donde virá o Messias?
Afinal, para grande surpresa, Ele vem duma terra desconhecida, no meio do mundo rural, Nazaré, nunca referida no Antigo Testamento.
Esta vinda, manifesta a solidariedade que o Messias quer ter connosco.
Ele vem duma povoação banal, vem do povo e no meio do povo e ao pedir a João o batismo, manifesta que é também solidário com o povo pecador, que recebe o batismo de conversão.
Jesus é completamente solidário com a humanidade.
E logo de seguida, o texto mostra que Jesus é também completamente unido a Deus, com quem tem uma íntima comunicação.
Dizendo «os céus se rasgaram» e que «o Espírito desceu dentro d’Ele»,
está a manifestar a completa união de Jesus com Deus.
E esta união com Deus é reforçada pela voz que vem dos céus: «Tu és o meu Filho muito amado, em ti Eu me agradei».
Se esta foi a experiência pessoal de Jesus, o que é que isso significa para nós?
Significa que os cristãos não são chamados a acreditar simplesmente em Jesus Cristo como figura histórica, que adoramos como Filho de Deus, mas também a participar da sua relação íntima com Deus.
Essa voz que foi ouvida por Jesus, ao ser batizado por João, no Jordão, também se dirige a nós: «Tu és minha filha muito amada, tu és meu filho muito amado, em quem Eu me agrado.»
Este relato de Marcos, do batismo de Jesus, manifesta que as portas dos Céus se abriram de par em par. Jesus é a porta principal, para vermos a Deus, na fé!
Os céus abrem-se, como quando somos acolhidos nos braços dos que nos manifestam o seu amor e a sua amizade.
Os “céus abertos” são uma imagem, cheia de beleza, do abraço infinito de Deus, que nos aconchega, na sua misericórdia infinita.
Os céus abrem-se, os braços acolhem!
Deixemos que estas palavras «Tu és minha filha muito amada, tu és meu filho muito amado, em quem Eu me agrado» sejam bem escutadas por nós, como uma melodia que alegra profundamente as nossas vidas.
frei Eugénio
A pregação está em feliz consonância com a profecia de Jeremias, cuja versão cantada foi uma excelente escolha vossa.
ResponderEliminarEstive a ver. No Evangelho de Marcos, tem logo no início um testemunho da Escritura (Isaías) sobre o envio daquele que ia prepara o seu caminho. Depois há um testemunho de João. Mas a primeira frase proferida por Deus é essa: Tu és o meu Filho muito amado.
ResponderEliminarSer amado é uma experiência fundamental na vida. Vale a pena repeti-la, sim.
Tanto mais que, creio, a palavra amor (no contexto religioso) está muito superficializada, banalizada...
Agradeço este comentário, que é um estimulo para eu deixar que
ResponderEliminara melodia «Tu és minha filha muito amada, tu és meu filho muito amado, em quem Eu me agrado» não seja apenas um regalo pessoal, mas possa chegar aos ouvidos, de quem está a viver situações terriveis de abandono e sofrimento, através de gestos e atitudes que manifestam que são irmãs e irmãos que não esquecemos.
Entre elas penso nas crianças refugiadas da Siria que o video que vou colocar no « Regador » não nos podem deixar indiferentes.