2023-11-20

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do 33º Domingo do Tempo Comum, 19 de novembro, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui. (ainda não disponível)

 

 
Evangelho (Mt. 25, 1-13) 

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos a seguinte parábola:

«Um homem, ao partir de viagem,

chamou os seus servidores e confiou-lhes os seus bens.

A um entregou cinco talentos, a outro dois e a outro um,

conforme a capacidade de cada qual; e depois partiu.

O que tinha recebido cinco talentos

fê-los render e ganhou outros cinco.

Do mesmo modo, o que recebera dois talentos ganhou outros dois.

Mas, o que recebera um só talento

foi escavar na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor.

Muito tempo depois, chegou o senhor daqueles servidores

e foi ajustar contas com eles.

O que recebera cinco talentos aproximou-se e apresentou outros cinco, dizendo: «Senhor, confiaste-me cinco talentos:

aqui estão outros cinco que eu ganhei».

Respondeu-lhe o senhor: «Muito bem, servidor bom e fiel.

Porque foste fiel em coisas pequenas, confiar-te-ei as grandes.

Vem tomar parte na alegria do teu senhor».

Aproximou-se também o que recebera dois talentos e disse:

«Senhor, confiaste-me dois talentos: aqui estão outros dois

que eu ganhei».

Respondeu-lhe o senhor: «Muito bem, servidor bom e fiel.

Vem tomar parte na alegria do teu senhor».

Aproximou-se também o que recebera um só talento e disse:

«Senhor, eu sabia que és um homem severo,

que colhes onde não semeaste e recolhes onde nada lançaste.

Por isso, tive medo e escondi o teu talento na terra.

Aqui tens o que te pertence».

O senhor respondeu-lhe: «Servidor mau e preguiçoso,

sabias que ceifo onde não semeei e recolho onde nada lancei;

devias, portanto, depositar no banco o meu dinheiro

e eu teria, ao voltar, recebido com juro o que era meu.

Tirai-lhe então o talento e dai-o àquele que tem dez.

Porque, a todo aquele que tem,

dar-se-á mais e terá em abundância;

mas, àquele que não tem, até o pouco que tem lhe será tirado.

Quanto ao servidor inútil, lançai-o às trevas exteriores.

Aí haverá choro e ranger de dentes».

 

 

DIÁLOGO

A parábola de Jesus começa por nos falar dum homem muito rico

que indo viajar para longe, confia grandes quantias a três dos seus servidores.

Naquela época do Império Romano, o talento era uma medida de peso de ouro, entre 35 e 60 quilos. Em valores atuais, um talento valia entre 1.800.000 euros e 3.100.000 euros.

 

Nesta parábola, é interessante reparar quantas vezes aparece a palavra confiar.

O principal passa-se à volta deste mal-entendido: a confiança dum lado e a desconfiança e o medo do outro.

Esta confiança do senhor nos seus servidores, exige que eles se decidam, por eles próprios, a tomar iniciativas e a correr riscos: perder uma parte ou mesmo muito do que lhes tinha sido confiado pelo seu senhor, durante a prolongada ausência.

 

Mas o que é que se pode criticar ao terceiro servidor?

Ele não fez nada de mal. Não matou, nem roubou, nem utilizou em proveito próprio o talento de ouro recebido. Até entregou ao seu senhor exatamente o que lhe tinha sido confiado.

Mais ainda, segundo o direito praticado e ensinado pelos rabinos, este terceiro servidor era considerado como o que melhor protegeu contra os ladrões aquela grande quantia.

 

O terceiro servidor pode é lamentar-se de ter avaliado muito erradamente como era o seu senhor. Só viu a sua severidade e por isso, com medo duma punição, preferiu nada arriscar, protegendo-os quilos de ouro o melhor possível contra os roubos.

Diante da confiança do senhor havia duas atitudes possíveis:

- reconhecer a confiança recebida e querer merecê-la, sendo criativo e correndo riscos, ou 

- não ver essa confiança, mas sim a severidade e com esta avaliação tomar a medida mais segura, que era esconder bem o que era do seu senhor.

 

Os três servidores são tratados do mesmo modo, mas “conforme a capacidade de cada qual”.

O primeiro ensinamento desta parábola é que Deus tem confiança em nós, em cada um de nós, mulheres e homens, e associa-nos ao Seu projeto para a criação, segundo as capacidades de cada um.

Deus conhece-nos, bem melhor que nós mesmos, e por isso não nos pede mais do que podemos fazer, o que traria como consequência culpabilizarmo-nos pelo que não fizemos. Deus pede-nos o que sabe que podemos e somos capazes de fazer, o que nos dá uma grande segurança para trabalharmos e colaborarmos com Ele.

 

Por vezes valorizamos muito os currículos das pessoas, isto é, o que já viveram e fizeram no passado e estão a fazer no presente. No entanto, desconhecemos completamente o que poderemos vir a ser e a fazer no futuro. O futuro pode reservar-nos grandes surpresas, mas para Deus o que fazemos de mais surpreendente, faz parte das nossas capacidades, que Ele bem conhece e com as quais conta, no que nos pede.

 

É como se Deus nos dissesse: «fica descansado, pois fizeste o que eu sabia que podias fazer!»

O terceiro servidor teve medo de ser considerado culpado, se perdesse uma parte do talento de ouro e por isso não arriscou nada e não colaborou com o que o senhor desejava dele.

 

No centro desta parábola está a imagem que temos de Deus, com a riqueza do Seu Amor, que nos é confiado por Ele, para nos empenharmos a viver uns com os outros, como verdadeiros irmãos que se querem bem e que querem o bem de todos.

Para viver assim, teremos de correr riscos e de ser criativos, mas teremos a alegria de colaborar na construção dum mundo  mais próximo daquele que Deus quer para nós a para as gerações que nos seguem.

 

Os discípulos de Jesus, em todos os tempos, têm de gerir a riqueza sem limites da Palavra de Deus que lhes é confiada.

Como na parábola, Deus confia-nos, a cada um de nós, segundo as nossas capacidades, a riqueza admirável da Sua Palavra que é portadora de Vida nova, e na qual podemos pôr toda a nossa confiança.

 

frei Eugénio, op (15.11.2020)

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