2024-06-16

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho do XI Domingo do Tempo Comum, 16 junho, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui. (gravado em junho de 2021)

 

  

Evangelho (Mc. 4,26-34)

Naquele tempo, disse Jesus à multidão: 

«O reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra.

Dorme e levanta-se, noite e dia, enquanto a semente germina e cresce, sem ele saber como.

A terra produz por si, primeiro a planta, depois a espiga, por fim o trigo maduro na espiga.

E quando o trigo o permite, logo se mete a foice, porque já chegou o tempo da colheita».

Jesus dizia ainda: «A que havemos de comparar o reino de Deus? Em que parábola o havemos de apresentar?

É como um grão de mostarda, que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes que há sobre a terra; mas, depois de semeado, começa a crescer e torna-se a maior de todas as plantas da horta, estendendo de tal forma os seus ramos que as aves do céu podem abrigar-se à sua sombra».

Jesus pregava-lhes a palavra de Deus com muitas parábolas como estas, conforme eram capazes de entender. E não lhes falava senão em parábolas; mas, em particular, tudo explicava aos seus discípulos.


 

DIÁLOGO

Neste domingo, a liturgia católica volta ao chamado tempo ordinário e comum.

Depois da Quaresma, celebramos a Páscoa, a Ascensão e o Pentecostes e mais as duas grandes festas da Santíssima Trindade e do Corpo e Sangue de Cristo.

No entanto, mesmo quando o nosso calendário litúrgico anuncia que voltamos para um tempo de normalidade, muitos de nós continuamos ansiosos pela libertação deste tão estranho período que começou a 11 de Março de 2020, quando a COVID-19 foi oficialmente declarada uma pandemia global.

O Evangelho de hoje convida-nos a apreciar os processos simples e extraordinários da criação, com a primeira parábola da semente que germina e cresce por si mesma. A terra produz por si, primeiro a planta, depois a espiga e por fim o trigo maduro na espiga.

Foi Marcos que inventou o género literário a que chamamos "Evangelho" (Boa Nova, Boa Notícia) dirigido sobretudo a pessoas que sofrem perseguição e desilusão.

A comunidade de Marcos tinha pensado que o fim do mundo, com a vinda vitoriosa do Messias Salvador estava próximo.

Mas a realidade que estavam a viver era muito diferente e por isso estavam profundamente abalados com a demora do regresso de Jesus Ressuscitado, na sua Glória divina.

Além disso, a sua fé era alimentada pelas profecias e pela sabedoria do Antigo Testamento que proclamava que os bons  servidores de Deus seriam felizes e recompensados por Deus.

Em vez disso, os cristãos estavam a ser martirizados em Roma e rejeitados em Jerusalém.

Estas realidades tão duras e incompreensíveis criaram muitas dúvidas e incertezas entre os que queriam ser cristãos.

Em contraste com a orientação de que o nosso objetivo é sermos bem sucedidos no que fazemos para agradar a Deus, esta parábola centra-se no poder divino que está sempre a atuar, dando vida às sementes do reino de Deus.

O agricultor nesta parábola nada mais faz do que plantar.

Depois disso, tudo o mais advém misteriosamente da ação de Deus.

Esta parábola leva os ouvintes a lembrarem-se de que eles não são os donos dos caminhos para seguir o que Jesus tinha ensinado como sendo os caminhos de Deus.

São chamados a confiar em Deus para além dos limites da sua compreensão.

Marcos escreveu esta parábola para uma comunidade desiludida e assustada.

O seu objetivo não era dizer-lhes para se sentarem e não fazerem nada, mas para se lembrarem de como o poder de Deus é prodigioso e gerador de vida.

Como eles, somos convidados a confiar na dinâmica do Amor divino em todas as situações que se vão desenrolando na nossa vida.

Nesta altura em que esperamos que seja anunciado nos próximos meses o fim da pandemia de  COVID-19, o Evangelho convida-nos a imitar o agricultor da parábola «da semente que germina e cresce, sem ele saber como” e a estarmos atentos às maravilhas escondidas que Deus está a fazer mas cujos efeitos se entendem e se tornam sinais de esperança num mundo melhor.

O que parece uma utopia para um futuro desconhecido, vai-se tornado numa grande multiplicidade de realidades vividas no presente.

É este o segredo do Reinado de Deus que Jesus nos oferece.

 

         frei Eugénio, O.P. (13.06.2021)

 

 

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