2020-12-05

Diálogo com o Evangelho

Diálogo com o Evangelho deste Domingo6 de Dezembro, II Domingo do Advento, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.

 

Advento - Oração em Família
1. Acender duas velas, com a seguinte oração: Jesus, Tu és a nossa Luz, ilumina a nossa família.
2. Oração: Deus, nosso Pai, perdoa as nossas ofensas. Eu não tenho sempre razão. Ajuda-me a pedir perdão.
3. Pai Nosso...
 
 

EVANGELHO   (Mc 1, 1-8)
Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus.
Está escrito no profeta Isaías:
«Vou enviar à tua frente o meu mensageiro, que preparará o teu caminho.
Uma voz clama no deserto: "Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas"».
Apareceu João Batista no deserto, a proclamar um batismo de penitência para remissão dos pecados.
Acorria a ele toda a gente da região da Judeia e todos os habitantes de Jerusalém, e eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados.
João vestia-se de pelos de camelo, com um cinto de cabedal em volta dos rins, e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre.
E, na sua pregação, dizia: «Vai chegar depois de mim quem é mais forte do que eu, diante do qual eu não sou digno de me inclinar para desatar as correias das suas sandálias.
Eu batizo na água, mas Ele batizar-vos-á no Espírito Santo». 

 

DIÁLOGO
Li que houve uma tradição, já desaparecida, na Alemanha e na Polónia, na qual no dia de São Nicolau, 6 de Dezembro, as crianças se vestiam como bispos e íam pela ruas a pedir esmola para os pobres.
Era uma tradição muito rica nas duas mensagens que trazia!

Em primeiro lugar, ensinava às crianças que o cristianismo nos torna a todos nós, desde pequenos, responsáveis uns pelos outros e que pedir esmola tem o duplo objectivo: promover a generosidade dos mais abastados e ajudar os mais pobres a terem os bens essenciais que lhes faltam.
Em segundo lugar, pondo as crianças vestidas de bispos a pedir pelas ruas, colocava na imaginação delas uma imagem muito evangélica, dos chefes religiosos, como pessoas que põem o valor do seu cargo no serviço dos pobres.
 
Esta tradição já desapareceu, mas pode inspirar-nos para a nossa abordagem neste 2° Domingo da caminhada do Advento.
O que é que Deus tem como projecto para o futuro da humanidade ?

No Evangelho de São Marcos, o primeiro personagem a aparecer em cena é João Batista.
A sua vocação era a de inquietar as pessoas, dizendo «preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas».
A sua vocação era convencê-las de que se tinham acomodado demasiado às condições sociais, políticas e religiosas que as rodeavam. Que se tinham deixado submeter à influência de César, que se impunha em todo o império, através da sua administração e dos  seus exércitos.
Que também tinham aceitado chefes religiosos que se preocupavam menos com a vida de fé e mais pela obediência às leis e regras  religiosas e que valorizavam as cerimónias e ritos religiosos, dando pouca atenção aos que mais precisavam de receber cuidados, por serem os mais desprotegidos, que na época eram as viúvas, os órfãos e os estrangeiros sem direitos.
 
Segundo os Evangelhos,  a pregação de João Batista  convenceu muitos da urgência destas mudanças e deu-lhes esperança num mundo mais à imagem de Deus, e encorajou-os a correr os riscos que essas mudanças lhes iriam trazer.
 
O batismo que João lhes dava no rio Jordão, significava que essas pessoas queriam deixar para trás os hábitos e comportamentos que seguiam sem se interrogar,  para ficar mais disponíveis para receber esse «Salvador poderoso», esse novo Messias, que Deus estava para enviar.
Seria esse Messias muito forte que não só os lavaria do pecado, mas que os encheria com o fogo do Amor do Espírito Santo.
 
João Batista foi um dos personagens mais estranhos na História do povo com quem Deus tinha feito uma aliança.
Abdicou da segurança e da estabilidade duma família sacerdotal, pois o seu pai Zacarias era descendente de Aarão e sacerdote no Templo , para ter uma vida de profeta na sobriedade e austeridade do deserto.
João queria que o seu povo ansiasse por mais, desejasse uma vida mais consoante a Vontade de Deus.
Só tendo esse desejo no seu interior, é que eles estariam motivados para desejar outro modo de viver muito melhor, mas arriscado.
João chamou-os e motivou-os a sonhar tão grande, que eles decidiram abandonar os seus pequenos confortos sociais e religiosos  para apostar em Deus.
 
João Batista pregou para sacudir as consciências, para pôr em questão os seus hábitos, e estimulá-los para algo de muito melhor que Deus lhes vinha oferecer através desse Salvador que estava a chegar. 

As crianças alemãs e polacas, no dia de São Nicolau, contribuiam para chamar a atenção para dois valores evangélicos muito importantes : a partilha e o cuidado pelos mais desfavorecidos e a liderança como um serviço aos outros.

E hoje, neste nosso mundo, Deus continua a envia-nos Joões Batistas e  Joanas Batistas, para despertar em nós, de modo quantas vezes inesperado, uma santa inquietação, que nos motive a preparar os caminhos que Ele quer trilhar para vir até nós.
Pessoas e situações, dos mais variados modos, que o Espirito Santo inspira, estão a dizer-nos:
« Preparai os caminhos que o Senhor quer trilhar para vir até vós, endireitai as suas veredas para Ele vos vir visitar !»

Para avivarmos em nós, a capacidade de ouvir os apelos que Deus nos faz, através de Joanas Batistas e de Joões Batistas, podemos pedir com fé e insistência: 
«Vem, Espirito Santo, vem!
Acende em nós o fogo do Teu Amor!
Dá-nos a alegria de preparar os teus caminhos.
Nós Te agradecemos as Tuas vindas. Amen.»

frei Eugénio

 

 

2 comentários:

  1. Nunca tinha pensado nisso: João Baptista era filho de um sacerdote. Lembro-me da leis, tão rigorosas, do Levítico que envolvem a pessoa do sacerdote, as suas funções, os espaços e os objectos com que lida. Como é estranho também comparado com Jesus (e Jesus brincava com isso...): o apelo do deserto e da vida austera, de João; o apelo do encontro com pessoas e do dar a vida por elas, de Jesus.
    Seja como for, é preciso escavar cá dentro uma carência de Deus e do seu projecto, um desejo de que Ele venha à nossa vida...

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  2. Que sugestão paradoxal de escavarmos dentro de nós à procura duma carência!
    Procurar o que nos falta!
    Mas deve valer a pena , pois quanto mais se escava
    mais se tem o desejo de encontar quem nos falta!



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