Diálogo com o Evangelho do Domingo de Pentecostes, 28 de maio, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.
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EVANGELHO (Jo. 20, 19-23)
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco».
Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor.
Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós».
Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo;
àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos».
DIÁLOGO
Hoje, celebramos o Pentecostes, a festa do Espírito de Deus que enche a terra com todas as suas criaturas e culturas.
A que é que esta festa nos convida?
João, no seu Evangelho, que lemos começa por abrir uma janela para o que parece ser a sala onde os discípulos tinham recentemente celebrado a Páscoa com Jesus.
Mas agora, depois da sua morte, tinham fechado as portas à chave e tinham-se reunido com medo.
Sem aviso prévio, Jesus aparece no meio deles e diz-lhes «shalom».
Mostrando-lhes as marcas das suas feridas, voltou a dizer-lhes «A paz esteja convosco».
Depois, resumindo o que tinha dito durante a última ceia, Jesus soprou o seu Espírito sobre eles e encarregou-os de prosseguir a sua própria vocação.
Assim começou uma incrível aventura de séculos de alargamento de horizontes.
Começando com a incrível experiência dos discípulos de poderem contar a história de Jesus a judeus "de todas as nações debaixo do céu", esta aventura continuaria durante anos, enviando discípulos a todos os povos e culturas do mundo.
Embora impulsionada pelo Espírito Santo, esta aventura evangélica nunca foi fácil.
Em cada novo passo do caminho, os cristãos precisavam de alargar a sua visão, questionar os seus conceitos dogmáticos e pedir orientação ao Espírito de Deus.
O grande teólogo do século XX, Karl Rahner, comentou que, depois dos acontecimentos da vida de Jesus e depois do Pentecostes se ter concretizado no "Concílio de Jerusalém" (Actos 15,1-31), o próximo grande passo para a comunidade cristã só aconteceu quando o Concílio Vaticano II, em 1962-65, abriu a Igreja ao mundo moderno e a todas as suas culturas.
O que é que o Pentecostes significa hoje?
No século XXI, quando se pode ir a todas as partes da Terra e que todas as línguas podem ser traduzidas rapidamente, o Papa Francisco diz-nos na Encíclica «Fratelli Tutti» sobre a fraternidade humana, que é tempo de apreciar a inevitável "e abençoada consciência de que somos todos parte uns dos outros" e que "já não podemos pensar em termos de 'eles' e 'aqueles', mas apenas de «nós».
Ao celebrarmos o Espírito de Deus presente em toda a criação, abandonemos as nossas mentalidades fechadas e aventuremo-nos em diálogos e encontros que alarguem a mente e a alma com a variedade maravilhosa das manifestações do Espírito Santo no nosso mundo.
O Pentecostes começou há dois mil anos, mas continua a realizar-se entre nós, nos nossos dias!
Partilho convosco esta meditação que Inácio de Latakia,
Metropolita Ortodoxo disse na Assembleia Mundial das Igrejas, 1968:
Sem o Espírito Santo, Deus está longe,
Cristo permanece no passado,
o Evangelho é uma letra morta,
a Igreja é uma mera organização,
autoridade é domínio,
a missão é propaganda,
o culto uma evocação,
e a acção cristã uma moral de escravos.
Mas no Espírito Santo:
o cosmos ergue-se e geme
no nascimento do Reino,
Cristo Ressuscitado está presente,
o Evangelho é a força da vida,
a Igreja significa a comunhão trinitária,
a autoridade é um serviço libertador,
a missão é um Pentecostes,
a liturgia é memorial e antecipação,
a acção humana é deificada.
frei Eugénio, dominicano
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