Diálogo com o Evangelho do Domingo da Santíssima Trindade, 4 de junho, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.
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EVANGELHO (Jo. 3, 16-18)
Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: «Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita nele não pereça, mas tenha a vida eterna.
Porque Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele».
Quem acredita nele não é condenado, mas quem não acredita nele já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho Unigénito de Deus».
DIÁLOGO
Permitam-me que partilhe convosco o que aconteceu com Santo Agostinho.
Conta-se que ele especulou durante muito tempo sobre o mistério da Santíssima Trindade, utilizando todos os recursos filosóficos e linguísticos que conhecia bem, pois era professor de retórica, mas sem conseguir avançar muito no assunto.
Depois de muito refletir, decidiu dar um passeio na praia junto ao mar Mediterrâneo.
De repente, avistou um rapaz que tinha cavado um buraco na areia da praia e que ia buscar água do mar com uma concha para a deitar no buraco que tinha feito.
O comportamento do rapaz intrigou Santo Agostinho, que lhe perguntou:
«Caro rapaz, que estás a fazer?»
«Quero deitar toda a água do mar no meu buraco.»"
«Mas isso não é possível", respondeu Santo Agostinho,
«O mar é imenso e o buraco que fizeste é muito pequeno.»
O rapaz respondeu-lhe:
"Mas eu vou conseguir deitar toda a água do mar no meu buraco
antes que o senhor consiga compreender o mistério da Santíssima Trindade.»
Então o rapaz desapareceu.
Santo Agostinho apercebeu-se que se tratava de um anjo que tinha tomado a forma de um rapaz para o ajudar a descobrir que não lhe era possível compreender o mistério da Santíssima Trindade.
Embora Santo Agostinho seja reconhecido como uma das mentes mais brilhantes que a humanidade conheceu, há mistérios, ou seja, verdades divinas reveladas, que ele nunca conseguiria compreender plenamente.
Como é que se pode abordar o inacessível?
Como imaginar o inimaginável?
A solenidade da Santíssima Trindade levanta estas questões.
A Escritura ajuda-nos muito na nossa busca de Deus, não porque nos dê respostas claras, mas precisamente porque não as dá.
O Evangelho de hoje alarga a nossa perceção da imagem divina
Em primeiro lugar, embora estejamos habituados a encontrar em João 3,16: «Deus amou tanto o mundo», alguns estudiosos da Bíblia sugerem uma tradução ligeiramente diferente;
"Porque foi assim que Deus amou o mundo".
Este modo de traduzir, tem uma nuance muito subtil: não se referindo à quantidade muito grande do Amor, mas sim ao modo como Deus ama, dizendo-nos que Deus ama “entregando o Seu Filho Unigénito.”
Cada momento da vida de Jesus manifestou como Deus ama as pessoas neste mundo.
Esta festa celebra o Amor de Deus revelado em Jesus e convida-nos a deixar que o Espírito de Deus atue em nós e entre nós.
O Deus dos cristãos é um Deus que ama pessoas reais em tempo real.
Falar da Trindade leva-nos àquela que é a crença mais misteriosa do cristianismo.
Embora o Novo Testamento não desenvolva verdadeiramente um conceito trinitário de Deus, Jesus introduziu subtilmente o conceito de Trindade referindo-se à sua relação com o Pai e na sua promessa do envio do Seu Espírito.
Podemos também dizer que esta festa centra a nossa atenção na auto-revelação de Deus, como sendo só Amor e como vivendo profundamente envolvido com toda a humanidade.
Esta festa convida-nos a contemplar a profundidade do Amor de Deus e o Seu desejo de nos atrair todos à Sua Vida Divina.
Não podemos nomear adequadamente Deus, mas experimentamos o mistério inacessível que nos convida a nos maravilharmos e a nos aproximarmos cada vez mais d’Ele.
Através da Criação e da Revelação, podemos experimentar, das mais variadas maneiras, muito para lá do que podemos imaginar, como podemos participar na Vida de Deus.
Hoje podemos apreciar alguns vislumbres de Deus, como se fossem miniaturas, enquanto aguardamos com expectativa o dia em que "seremos semelhantes a Cristo, porque o veremos face a face" (1 João 3,2).
frei Eugénio, dominicano
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