Diálogo com o Evangelho do 15º Domingo do Tempo Comum, 16 de julho, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.
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EVANGELHO (Mt. 13, 1 - 9)
Naquele dia,
Jesus saiu de casa e foi sentar-Se à beira-mar.
Reuniu-se à sua volta tão grande multidão
que teve de subir para um barco e sentar-Se,
enquanto a multidão ficava na margem.
Disse muitas coisas em parábolas, nestes termos:
«Saiu o semeador a semear.
Quando semeava,
caíram algumas sementes ao longo do caminho:
vieram as aves e comeram-nas.
Outras caíram em sítios pedregosos,
onde não havia muita terra,
e logo nasceram porque a terra era pouco profunda;
mas depois de nascer o sol, queimaram-se e secaram,
por não terem raiz.
Outras caíram entre espinhos
e os espinhos cresceram e abafaram-nas.
Outras caíram em boa terra e deram fruto:
umas, cem; outras, sessenta; outras, trinta por um.
Quem tem ouvidos, oiça».
DIÁLOGO
São Mateus organizou o seu evangelho como “um drama sobre a vinda do Reino de Deus”.
No capítulo 13, que estamos a começar a ler apresenta-nos sete parábolas sobre o Reino de Deus já presente entre nós, começando por esta “parábola do semeador”.
Jesus começa por dizer: “Saiu o semeador a semear” e logo cativa a atenção dos seus ouvintes, que conhecem bem esse gesto tão cheio de ritmo do semeador, que começa por meter a mão no saco que leva a tiracolo e em seguida, num largo gesto, lança as sementes ao ar até onde chega a sua força, para que elas se espalhem na terra.
Com esse gesto amplo, algumas sementes vão também cair nos caminhos de terra batida ou empedrados e nos sítios pedregosos ou espinhosos que ladeiam os campos.
O semeador deseja que as sementes sejam de boa qualidade e espera vir a ter uma colheita abundante.
As sementes que caem nos caminhos e que são comidas pelos pássaros, nada produzem, e o resultado nelas é o insucesso.
As que caem nos sítios pedregosos ainda crescem um pouco,
mas também não dão qualquer fruto. Outro insucesso.
E as que caem entre os espinhos e até parecem crescer bem,
mas que serão abafadas são também outro insucesso.
Mas a parábola tem “um final feliz” pois as sementes são boas e a terra também, e o semeador terá uma boa produção.
Os insucessos que entristecem, as contrariedades que desanimam, os ambientes que abafam as boas intenções,
fazem parte da sementeira.
Mas o final feliz da parábola vai fortalecer a esperança,
vai encorajar a não desistir, vai dar força para se ser persistente, pois o bom resultado será alcançado, apesar dos insucessos.
Segundo o evangelista São Mateus, Jesus conta esta parábola
e as outras seis sobre a vinda do Reino de Deus, quando a sua vida e pregação estão a encontrar as maiores oposições
e quando a sua condenação, tortura e morte na cruz,
já estão a ser planeadas.
É também a altura em que muitos discípulos O abandonam e mesmo entre os mais próximos, alguns ficam cheios de dúvidas e de desânimo.
A parábola do semeador vai dar esperança e vai reforçar a confiança no Amor de Deus e do Seu Reinado.
Por outro lado, é bom termos presente que a imagem dos terrenos onde caem as sementes se refere ao nosso íntimo, ao nosso ‘coração’ em linguagem bíblica, o centro de nós mesmos, fonte do pensamento, da vontade e dos sentimentos.
Jesus faz, por assim dizer, uma «radiografia espiritual» do nosso coração, que é o terreno sobre o qual a semente da Palavra cai, como disse o Papa Francisco numa homilia.
Jesus veio lançar as sementes da sua Boa Notícia da presença
do Reino de Deus no meio de nós, mas que ainda está longe
do mundo completamente renovado, que Ele promete
para o final dos tempos, em nome do Seu Pai.
É o Reino já presente, mas ainda não totalmente realizado.
Gostaria de chamar a atenção para uma interpretação muito comum desta parábola e que nos pode ocultar a beleza e a força desta parábola do semeador.
Nessa interpretação, em vez de olharmos para dentro de nós para vermos onde estão a cair as sementes da Palavra de Deus, considera que é fora de nós e à nossa volta que há esses terrenos improdutivos.
Olhamos para as pessoas conhecidas ou próximas e dizemos
ou pensamos que andam pelos caminhos e por isso se tornaram ateus ou completamente indiferentes ao Evangelho.
Outros, são os que estão nos terrenos pedregosos e que se desiludiram com o Catolicismo e se afastaram da prática religiosa.
Olhamos para outros que são os que os espinhos abafaram,
por se preocuparem sobretudo em seguir o que a sociedade e o modo de pensar atual valorizam, mesmo se for contra a Palavra de Deus.
E por fim, nós, somos a boa terra que produz conforme conseguimos.
Porque é que esta interpretação na qual nos comparamos com outros, nos pode afastar da intenção de Jesus?
Jesus, no seu anúncio do Reino de Deus já presente, deseja que cada um de nós descubra que os quatro terrenos estão dentro de nós
e que, segundo as situações, podemos mudar de terreno,
passar duma atitude à outra, sem nos apercebermos.
Para podermos sair dessas situações improdutivas e assim nos convertermos, devemos ter os ouvidos do ‘coração’ disponíveis para receber a Palavra de Deus, escutando-a, guardando-a, rezando-a e procurando pô-la em prática.
A comparação com outros afasta-nos da verdadeira conversão.
Caros leitores, Jesus convida-nos hoje a olhar para dentro de nós, com a esperança de podermos colaborar com o Seu Amor para que o Seu Reino esteja mais presente entre nós.
frei Eugénio, dominicano
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