Diálogo com o Evangelho do 14º Domingo do Tempo Comum, 9 de julho, por Frei Eugénio Boléo, no programa de rádio da RCF "Construir sur la roche". Pode ouvir aqui.
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EVANGELHO (Mt. 11, 25 - 30)
Naquele tempo, Jesus exclamou: «Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas verdades aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos.
Sim, Pai, Eu Te bendigo, porque assim foi do teu agrado.
Tudo Me foi dado por meu Pai. Ninguém conhece o Filho senão o Pai e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar.
Vinde a Mim, todos os que andais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei.
Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas.
Porque o meu jugo é suave e a minha carga é leve».
DIÁLOGO
Esta página do Evangelho é um condensado de ensinamentos belíssimos.
Jesus dá graças a Deus-Pai, pois o que os mais cultos não conseguem compreender, entendem-no os que estão mais disponíveis para aprender e que aceitam mais facilmente mudar de atitude e de opinião. São aqueles que podemos considerar como ignorantes, mas que têm uma sabedoria que lhes permite entender a Boa Nova de Jesus.
A primeira parte do texto do Evangelho de hoje apresenta-nos uma mensagem clara: Jesus contrapõe os sábios e os cultos aos humildes e aos simples.
Os discípulos deverão ser pessoas simples, humildes, capazes de aprender com Jesus e de conservar no seu íntimo o que aprenderam.
Não se concentram nas suas capacidades pessoais,
nem se colocam acima dos que não possuem os seus conhecimentos.
O modelo é o próprio Jesus, que sempre se dirigia aos outros pondo-se ao mesmo nível de cada um, e não de cima para baixo, como quem sabe muito que se dirige a quem sabe pouco ou quase nada sobre o assunto a abordar.
É entrando numa atitude de humilde disponibilidade que a porta do nosso coração se abre.
Jesus, o Filho amado do Pai, pode levar-nos a segui-lo até ao Coração de Deus, pois "ninguém conhece o Filho senão o Pai, e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aqueles a quem o Filho o quiser revelar".
Jesus tem uma tal intimidade com Deus-Pai que tem a possibilidade de nos dizer da parte de Deus quem Ele é, e o que Ele quer, isto é, qual é a Sua Vontade.
E é sempre na sua humanidade que Ele nos revela a sua divindade.
Esta "revelação" sobre os pequeninos não significa que devemos rejeitar a reflexão e os conhecimentos humanos.
Não! O contraste marcante que Jesus apresenta tem simplesmente o objetivo de nos mostrar onde se encontram os "verdadeiros sábios" e os "verdadeiros doutores".
São as pessoas que sabem reconhecer os seus limites diante de Deus, aqueles que se sentem muito pequenos diante do mistério da imensidade de Deus.
Conta-se que, no final da sua vida, um grande sábio e erudito, São Tomás de Aquino, que ensinou teologia e escreveu muitos livros, disse que todas as suas aulas e escritos não eram nada em comparação com o seu encontro pessoal e místico com Deus: "Tudo o que escrevi é uma palha em comparação com o que me foi revelado".
Voltemos ao texto do Evangelho.
A segunda parte merece também a nossa atenção, porque traz uma mensagem bem vinda à nossa vida, por vezes tão agitada.
Que mensagem é essa?
Jesus utiliza uma imagem bem conhecida dos seus ouvintes para lhes fazer compreender que podem sempre contar com Ele e que Ele carrega consigo os nossos “fardos”, os nossos problemas e as nossas questões.
A imagem escolhida é a de um jugo. Esta palavra é mais utilizada hoje em dia em sentido figurado.
Exprime uma autoridade que esmaga, ou problemas que pesam demasiado sobre nós.
Mas no seu sentido de objeto real, a palavra “jugo” designa um instrumento, geralmente de madeira, que une pelo pescoço dois bois para puxar um arado, por exemplo, ou uma outra carga qualquer.
Assim, os dois animais coordenam-se e ajudam-se mutuamente na sua ação.
É esta a imagem que Jesus tinha em mente quando disse:
“Tomai sobre vós o meu jugo
e aprendei de Mim,
que sou manso e humilde de coração,
e encontrareis descanso para as vossas almas.
Porque o meu jugo é suave e a minha carga é leve».
Assim, as nossas dores e problemas, não desaparecem das nossas vidas e do nosso mundo, mas passam a ter um peso muito diferente, se tivéssemos de os carregar sozinhos.
Assim como os dois animais se ajudam mutuamente e suportam cargas muito mais pesadas, também nós, se tivermos confiança no Amor de Deus, que está presente "no coração das nossas vidas", teremos uma coragem e uma esperança nunca imaginadas.
A primeira e mais importante obrigação é a da lei do Amor.
Deus-Pai enviou Jesus, Seu Filho, para nos revelar que Ele é um Deus de Amor.
O seu nome é AMOR.
Na comunidade ecuménica de Taizé, em França,
na liturgia há em certas celebrações um gesto cheio de significado e que nos toca profundamente
Uma grande cruz é deitada no chão apenas levantada por uma grande almofada.
Os participantes são convidados a sair dos lugares onde estão na igreja e a dirigir-se até à cruz.
Aí chegados, baixam-se, habitualmente ajoelhando-se, para poisar a cabeça na cruz e assim ficar algum tempo, durante o qual entregamos a Jesus, em confiança e na fé, todos os nossos “mais pesados fardos”: tudo o que nos aflige, que nos preocupa muito, que não conseguimos carregar por nós próprios.
Além da fé, a própria atitude física, de inclinados profundamente, apoiando a nossa cabeça na cruz, opera em nós uma forte sensação de “descarga dos fardos” em Jesus, de braços abertos na cruz.
Nesta belíssima celebração, se acreditamos no que Jesus nos prometeu, de estar disponível para carregar sobre Si todos os nossos fardos, mesmo os mais pesados, podemos pôr em prática, na fé e na confiança, o que Ele nos prometeu.
frei Eugénio, dominicano
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